ivnachaib 20/11/2023
Contemplai esse emaranhado de espinhos.
Lolita é uma obra indubitavelmente polêmica. Mas, tendo finalizado minha leitura, posso afirmar com segurança que é também bastante diferente de sua representação cristalizada no imaginário coletivo.
A narrativa é asquerosa do começo ao fim, e por isso mesmo difere do que se imagina ao mencionar seu nome: não há romance ou romantização. Há apenas um relato das perversões da mente deturpada e doentia de um maníaco.
Humbert, o narrador, é detestável em todos os aspectos: nos seus pensamentos, nos seus atos, nas suas tentativas de mascarar sua depravação e de inocentar a si próprio, nos seus planos, no seu retrato de Lolita. Nabokov não deixa dúvidas quanto a isso e à natureza do que ocorre entre os personagens.
Quanto à Lolita, cabe dizer que ela não existe. Quem existe é Dolores. Como o próprio narrador diz em meio às suas desculpas, ainda no começo da história: "O que eu possuíra loucamente não era ela, mas uma criação minha, outra Lolita, imaginária ? talvez mais real que Lolita". Tudo a que temos acesso sobre ela parte da percepção distorcida, inventada e delirante de seu abusador. E se podemos tirar algo disso, há de ser que ela é uma vítima.
No mais, é um livro que fascina na mesma medida que causa repulsa. Muito bem escrita, a narrativa e os seus desdobramentos facilmente conquistam a atenção do leitor e o envolvem na trama, embora eu deva admitir que, em meados da segunda parte, o ritmo se torna um pouco mais lento e cansativo. Mesmo assim, é um clássico que merece sê-lo.
Definitivamente recomendo a leitura, tendo atenção, é claro, a possíveis gatilhos.