Resenhas - Lolita

Any 10/07/2022

O que posso dizer desse livro? Minha experiência com ele foi péssima. A escrita é até "ok",mas a leitura foi tão difícil de ser feita que por várias vezes pensei em abandonar. É preciso ter muito estômago pra fazer a leitura,eu sentia que estava preparada pra isso e mesmo assim não rolou.

Gu 28/01/2010

Lolita
Você tem estômago? Pois é isso o que precisará para ler esse grande clássico da literatura mderna.

Lolita é fantástico ao mostrar o que há de mais perverso na conduta humana. Você fica atordoado; raiva, pena, ansiedade, tristeza, são alguns sentimentos que despertam no leitor no decorrer da obra.
No entanto, quem disse que um livro têm que ser, necessariamente, confortante e alegre? Nabokov acha que não, e sua escrita transmite sentimentos que em nada comuta com felicidade. A não ser, é claro, para seu personagem Humbert Humbert e seus desejos obscuros e perversos. Ok, não podemos afirmar que ele era feliz, seu desejos carnais apontavam para um lugar do qual a moral vigente não admite. Ele tinha noção disso, mesmo assim não conseguia evitar.

Nabokov foi corajoso ao escrever esse livro. O tabu da pedofilia não é, com certeza, um assunto fácil de se abordar, no entanto, ele o fez com maestria. Uma linguagem rebuscada, trechos em francês, que para mim enriqueceu mais ainda a beleza da obra.

Enfim, se você sente asco de um livro através da personalidade das personagens, não leia Lolita. Mas se você sabe apreciar a riqueza de uma escrita pormenorizada, a habilidade em transmitir sentimentos humanos para o papel, sejam eles obscuros ou não, Lolita é uma boa pedida.

Deleite-se.

A.Soares 19/05/2017

O livro que me excluiu do meio dos "sensatos"
Vamos aos poucos.
1. o livro É sobre pedofilia;
2. o livro NÃO é sobre estupro;
3. as relações ali descritas SÃO consensuais;
4. NÃO é um livro de romance.

Este com certeza é um livro bem escrito, você pode ter total nojo do protagonista (e estamos juntos nisso), mas até nesse ponto o livro consegue ser ótimo, transmitindo ao leitor a sensação de asco de forma sutil, sem apelos e obscenidades. A leitura vale a pena caso você seja inteligente o suficiente para saber diferenciar o que é ficção e o que é apologia ao crime.

Caroline Gurgel 01/09/2014

É errado amar, mesmo que seja errado?


Antes de ler esse livro eu só sabia que Lolita era uma polêmica história de um homem de meia idade que se apaixonava por uma adolescente - ou melhor, por uma ninfeta - e nada mais. Temi iniciá-lo pois as palavras amor e pedofilia na mesma frase já me dava náuseas. No entanto, em um daqueles momentos que todo leitor ávido tem de procurar diversas listas de "melhores livros do século" ou "1001 livros para se ler antes de morrer", notei que Lolita aparecia em todas. Em todas! E, claro, pensei, por que não?

Devo, antes, dizer que li umas 80 páginas e parei a leitura, interrompendo-a por um ou dois meses. Digo isso para encorajar os que fizeram o mesmo, ainda que sem motivo, como eu. Sugiro, ainda, que não retomem de onde pararam, mas que a reiniciem com novo frescor. Valeu cada palavra.

Humbert Humbert é um professor de literatura perto dos seus quarenta anos que se muda para a pequena Ramsdale para escrever um livro. Aluga um quarto na casa de Charlotte Haze, mãe de Dolores - Dolly, Lola, Lo, Lolita - a ninfeta de 12 anos por quem Humbert se apaixona perdidamente. Per.di.da.men.te!

Tinha sido amor à primeira vista, à última vista, às vistas de todo o sempre.

O primeiro amor de Humbert foi uma garota de 12 anos, Annabel, quando ele ainda era adolescente. Ela morreu quatro meses após o início da tórrida paixão juvenil, e por isso ele tenta nos convencer de que sua obsessão por ninfetas é, de certa forma, uma busca pela Annabel perdida. Humbert casa-se com Valeria, em uma tentativa frustrada de acabar com sua obsessão por ninfetas, mas Valeria também morre! E é após esses acontecimentos que nosso narrador muda-se para Ramsdale.

A narrativa é em primeira pessoa pelo que é chamado de narrador não confiável, uma vez que Humbert conta-nos o que lhe convém, muitas vezes (ou sempre) tentando convencer-nos de suas boas intenções.

O que você deve saber - que eu não sabia - é que o narrador vai lhe manipular e, por vezes (por muitas vezes!), vai lhe fazer acreditar em cada linha que ele escreve. Julguem-me: eu não vejo o Humbert Humbert como um pedófilo pervertido, vejo-o como um homem que enlouqueceu de amor. Percebe como esse livro pregou uma peça em mim?

Não há como negar que o que Humbert sente por Lolita é amor. Um amor ilícito, mas amor; doentio, obsessivo, ainda assim, amor; possessivo, egoísta, mas amor. Apaixona-se por ela desde a primeira vez que a vê e pretende manter esse amor para si. Bem, assim ele o diz. Convence-nos de que Lolita sempre lhe provocou, que a atração era mútua e de que foi ela quem tomou todas as iniciativas.

"Senhoras e senhores do júri, não fui seu primeiro amante."

É uma leitura perturbadora, mas não me foi nauseante. A escrita é tão incrível que burlou meus pensamentos e me deixou boquiaberta aplaudindo de pé. A adjetivação contida nessas páginas é de fazer qualquer um babar, é inacreditável a capacidade de Nabokov com as palavras. Quantas vezes ele descreveu Lolita? Inúmeras! E todas únicas e fantásticas. A narrativa é rica, poética, meio hipnotizante, de uma estética encantadora.

Apesar de tudo, os personagens são extremamente irritantes, mesmo a "doce" Lolita, o que não deu brechas para que eu tivesse piedade dela. Mesmo diante dos favores sexuais exigidos pelo Humbert Humbert em troca de algumas moedas ou concessões, não consegui convencer-me completamente de sua inocência. Lembrem-se, foi o Sr. Humbert quem me contou a história!

É engraçado que há uma outra figura, Clare Quilty, e este sim é um pedófilo pervertido que dá nojo. Mais uma jogada de Nabokov?

Ao término da leitura, certa ou errada, convenci-me de que Lolita não era realmente ingênua, que não foi estuprada pelo HH e que no início correspondia aos seus flertes. Não sei dizer se ela um dia o amou - ou se algum dia foi capaz de amar alguém, tendo sido tão precocemente iniciada na vida sexual. Porém, torci para ela que fosse feliz e senti pena das lágrimas do amor incondicional, maluco e intenso do obcecado Humbert.

Para quem tem medo da leitura, aviso: as cenas não são gráficas, mas é inevitável que elas se formem na sua cabeça. No entanto, a elegância da prosa é tamanha que você vai lendo e lendo... Acima de tudo, Lolita é uma obra prima da literatura e merece ser lida, degustada e apreciada. Adorei fazê-lo e recomendo de olhos fechados - mas, lembrem-se, mantenham a cabeça bem aberta!



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Laisciancio 17/04/2019

Esperava muito mais desse livro.
Já tinha me preparado psicologicamente antes de ler Lolita, afinal, é um livro que aborda um assunto muito delicado que é a pedofilia. Porém, li tantas resenhas positivas sobre ele que imaginei que seria uma boa leitura.
A minha decepção com Lolita está muito mais relacionada à escrita cansativa do início ao fim, e ao excesso de detalhes desnecessários durante todo o livro.
A história é sobre Humbert Humbert, um pedófilo que tenta a todo momento romantizar e naturalizar sua pedofilia durante a leitura. Ele cria uma obsessão por Dolores Haze, de 12 anos, e aos poucos podemos observar todo o impacto cruel que essa obsessão irá causar na vida dessa criança para sempre.
Sinceramente, eu esperava mais desse livro como um todo.

Magnus 26/06/2022

Não valeu a pena, não é tudo isso
É perturbador. Experiência ruim, nenhuma página fez essa leitura valer a pena, só peguei ainda mais ódio de pedófilos, porque é isso que o Humbert é: um pedófilo.

Não entendo da onde as pessoas vangloriam esse livro pela escrita "maravilhosa". Isso só é excessivamente rebuscado! (pra não dizer exaustivo e chato) Existem milhares de livros de fato bem escritos (ou se você quiser apenas rebuscados) que o tema não abre brecha pra romantizar pedofilia, faça-me o favor.

Pedróviz 29/05/2018

Não recomendo a leitura
Um indivíduo visivelmente enquadrável na categoria dos sociopatas, vive às voltas com internações em manicômios. Um dia, esse indivíduo, por força do detino, encontra a menina e a tia que moram juntas. O absurdo do enredo faz com que a menina fique órfã - sua mãe morre de um modo brutal - e aos cuidados não oficiais desse indivíduo, sem o conhecimento de qualquer pessoa. O homem leva a ninfeta a viajar pelos EUA, sem estudo, mimando-a, e fazendo-a de amante. Os detalhes não faltam e o autor é desses que não se furtam a se mostrar sensíveis através de uma escrita repleta de citações em francês. A obra consiste num relato a uma entidade judicicial, pois aparentemente ele conta memórias do que se passou para os autos do processo. Em todo o caso, dado o conteúdo, a empolação do réu e por se tratar de um assunto que somente poderia mesmo interessar a pedófilos, me desinteressei na metade da obra. Há quem diga que arte é arte, que tudo vale em nome da arte, que tudo se relativiza em nome da arte. Não acredito nisso. Não recomendo a leitura de Lolita.

caspaeletrica 16/02/2023

8/10: cumprindo meu papel como fã da lana del rey
Eu me sinto um pouco culpado por ter realmente gostado desse livro em meio à tanta polêmica, entretanto, a escrita é IM-PE-CÁ-VEL. A trama é super bem feita e Vladmir não falha na intenção e em deixar o escritor extremamente desconfortável.

Embora um tabu servido em um prato cheio, eu não poderia negar que é um livro primordial. Parte de ser uma leitura imprescindível se deve ao fato de que a cultura e os diretores misógino-estruturais transformaram os filmes baseados em Lolita em histórias totalmente diferente que se perpetuaram na cultura. O livro é totalmente diferente do que as vias midiáticas massificaram durante anos e a leitura seria bacana pra desarticular essa ideia, embora singular, importante.


"Como caso clínico, Lolita por certo será cisto como um clássico nos meios psiquiátricos. Como obra de arte, transcende seu aspecto expiatório. Todavia, mais importante do que sua relevância científica é o impacto ético que o livro deve exercer sobre o leitor sério [....] Lolita deveria fazer com que todos nós ? pais, educadores, assistentes sociais ? nos empenhássemos com diligência e visão ainda maiores na tarefa de criar uma geração melhor num mundo mais seguro."
? John Ray Jr, Filósofo, 1995

Liv 05/02/2020

Desconcertante e inquietante leitura
Lolita foi, sem dúvidas, um dos livros mais bem escritos que li, e aqui gostaria de diferenciar que o fato de um livro ser bem escrito não significa dizer que a história é fácil de ser lida, digerida ou até mesmo aceita. E não precisa ser lida, digerida, nem aceita facilmente, porque não é esse o propósito aqui. Isso me causou grande conflito durante toda a leitura, pois ao mesmo tempo em que eu ficava maravilhada com o jogo de palavras e a narrativa do Nabokov, também sentia grande repulsa com todo o enredo. É nauseante e perturbador estar na cabeça do Humbert Humbert, olhar para o mundo através de seus olhos, de sua perspectiva de abusador, ter acesso aos seus pensamentos doentios e vis, e ainda assim ter maturidade para entender que a história nos é passada através de um narrador extremamente não confiável, e que por esse motivo, devemos ser críticos a todo o instante sobre o que nos é transmitido, e não aceitar ou concordar com os fatos narrados. Lolita não é um livro para todos, tampouco é "a única história de amor convincente de nosso século" (como diz na contracapa pela Vanity Fair). Lolita é um livro que retrata de maneira crua o tema da pedofilia, ainda que a todo momento o Humbert tente induzir o leitor a crer ou aceitar o seu "amor" (doentio) pela jovem Dolores Haze. É preciso ter estômago para engolir os abusos psicológicos, físicos, sexuais e materiais aos quais Dolores é submetida. Podemos aprender, ainda que com grande esforço, que nem sempre podemos julgar os fatos com clareza quando não temos acesso a todas as variáveis que envolvem uma história. Para exemplificar: quantas vezes já ouvimos comentários do tipo "é novinha, mas já sabe o que faz", "é novinha, mas é safada", etc... Esse tipo de comentário nos deixa claro que existe uma gana por parte de algumas pessoas em culpabilizar a vítima, pois certamente ela "provocou". É necessário termos cautela e jamais sermos precipitados ao emitir uma sentença ou juízo de valor, principalmente no que concerne às vítimas de abusos.

SPOILER:

A história de inicia quando o H.H narra um pouco de sua infância na França. Seus pais eram donos de um hotel, e ele ali cresceu, com uma infância comum, na medida do possível. Assim que H.H. entra na adolescência, ele tem contato com uma família que se hospeda no hotel dos pais de H.H., família essa composta por pai, mãe e filha, uma garota que tem aproximadamente a mesma idade do H.H., e ali se inicia uma paixonite infantil de verão, talvez o primeiro amor daqueles jovens. A questão aqui é que o H.H. nunca conseguiu consumar ou satisfazer essa paixão (ainda bem), pois sempre era interrompido de alguma maneira, o que causou grande frustração naquela mente sombria. Assim que o verão acaba, a família vai embora da França, e, meses depois, H.H. toma conhecimento de que "o amor de sua vida" acabara de morrer de tifo. Na minha singela opinião, esse ponto foi a ignição para toda a perversão do personagem principal, uma vez que o fato de sua paixão ter sido frustrada (e agora em caráter perpétuo) fez com que o H.H., além de jamais conseguir superar esse insucesso amoroso, procurasse incansavelmente, de certa forma, uma substituta para que finalmente pudesse viver de maneira plena aquele "amor". O personagem é completamente perturbado (durante o livro ele é internado algumas vezes em sanatórios), já que parece não entender (ou não aceitar) que a vida é feita de etapas, e uma vez superada aquela etapa, somos obrigados a viver a próxima. Parece não compreender que não existe mais a possibilidade de viver aquele amor juvenil, não apenas porque a garota morreu, mas porque sua idade não condiz mais com esse tipo de comportamento, e aí podemos ver com clareza como funciona a mente doente do pedófilo, dado que o H.H. crê que tem o direito de viver o que "lhe foi tirado".

Em seguida, alguns eventos resultam na ida do (já adulto) H.H. aos EUA a fim de trabalhar como professor. Acaba por se hospedar na casa da Dolores (em um quarto que a mãe da garota pôs para alugar), e ele ali se estabelece unicamente com o propósito de consumar o abuso contra a menina (de 12 anos). Em uma sucessão alucinada de acontecimentos, o H.H. casa com a mãe da Dolores para estar sempre próximo da garota e também por exercer uma posição de autoridade sobre as Haze. A mãe da Dolores morre subitamente atropelada (assim que descobre as verdadeiras intenções do H.H. sobre a Dolores), isso faz com que o H.H. tenha total domínio sobre a garota, levando-a em uma viagem errante por várias cidades e estados dos EUA, onde o H.H., pelo fato de ninguém os conhecerem e por passarem pouco tempo em cada lugar, sempre se sente confortável para praticar de maneira inescrupulosa seus abusos.

Não vou contar toda a história ou seu desfecho, creio que dei muitos spoilers até. Gostaria apenas de acrescentar que algumas partes do livro são realmente difíceis de ler, principalmente quando os abusos são narrados.

E, por fim, indico fortemente o livro APENAS SE você tem estômago para aguentar, maturidade para entender que isso não é a promoção da pedofilia, e sim uma crítica a ela, e se gosta de ler clássicos, porque esse o é, com certeza.

Natalie Lagedo 25/08/2017

O livro se chama Lolita, mas é, na verdade, a confissão da mente perturbada de Humbert Humbert. Se as perspectivas sobre os fatos e personalidade daquela que nomeia a obra correspondem à realidade não sabemos, mas é perfeitamente possível penetrar nas contradições e desejos pérfidos do pedófilo.

Demonizar a criança ou não vai depender da leitura pessoal de cada um. Aceitar o que é dito parece ser atraente, mas até que ponto tudo aquilo é verdadeiro? H. H. é um excelente narrador. Envolvente, sua maior pretensão ao relatar a vida com a "sua" Lolita - naquele emaranhado de ciúmes adicionado à relação por si só doentia - é levar-nos para seu lado a fim de que entendamos sua ânsia, para que, após o compadecimento com a delicada situação em que se encontrou, o ajudemos a tornar lícito aquilo que ele classifica como natural.

Vargas Llosa diz que Victor Hugo soube como ninguém usar o narrador como deus, previdente, onisciente, pronto para atender todos os chamados do enredo. Fazendo um contraponto, digo que Nabokov fez de seu narrador um demônio, se esquivando, abrindo mão de responsabilidades, justificando o indefensável, mas de forma tão atraente e por vezes tão sensual (como só um pobre diabo pode o ser), que põe à prova convicções morais e sociais dos outros personagens e daquele que o acompanha. É irretocável.

ElisaCazorla 03/11/2016

Isso NÃO é uma história de amor.
Nem de longe isso lembra amor.
Aqui no skoob tem mais de 300 resenhas e fiquei me perguntando se mais uma resenha deste livro não seria demais. O que me fez decidir escrever minha opinião sobre este livro foi a grande quantidade de resenhas aqui que descrevem esse livro como uma história de amor. Isso é tão perturbador para mim que achei importante deixar aqui minha perspectiva sobre este livro. Definitivamente, não é amor. Nabokov não quis escrever uma história de amor. Também não é uma história pornográfica ou erótica. Ele mesmo fala sobre isso no posfácio que, sugiro enfaticamente, que seja lido.
Este livro me chocou profundamente. Algumas perguntas rondavam este livro e fizeram com que a leitura demorasse: por que ler um livro sobre um pedófilo? o que eu ganharia com isso? Bem, não há respostas para estas perguntas. Na verdade, acho que essas perguntas estão incorretas. O livro é lindo, intenso, maduro e devastador.
Primeiro sobre a narrativa: impecável, fluída, bela e representa muito bem os motivos que fazem de uma obra literária um marco, um clássico, uma obra de arte. Uma curiosidade é que este livro foi escrito por Nabokov em inglês. Essa informação me deixou curiosa para ler um de seus livro que foram escritos originalmente em russo e, claro, traduzido do russo. Se alguém tiver alguma sugestão, manda pra mim.
Agora sobre a trama: perturbadora. Lolita, para mim, é a grande heroína desta obra. Uma vítima, uma sobrevivente, uma lutadora. Humbert, para mim, representa o mais odioso mal. Personagem covarde, egoísta, egocêntrico, arrogante, cínico, consciente de seus atos terríveis, decide deliberadamente devastar a vida de uma pessoa completamente inocente e sem qualquer chance de se defender com a finalidade pura e simples de suprir sua ânsia sexual. Humbert nega à Lolita seu direito à infância, à segurança, à educação, à amizades, à brincadeiras. Lolita decide lutar com as forças e as ferramentas que possui. Luta para sobreviver. Luta para escapar. Mesmo assim, sua vida é devastada e destruída por um homem completamente egoísta. Lolita é a heroína! Personagem fabuloso!
A narrativa nos apresenta apenas a voz do protagonista Humbert. Gostaria de poder ouvir a voz de Lolita também. Prefiro narradores oniscientes, mas o objetivo do autor, imagino, fosse mesmo dar voz apenas ao perturbado Humbert.
Cada leitor pode construir a interpretação que quiser: se o autor estava falando sobre o encontro entre o velho e o novo mundos, sobre a Europa destruir a América, etc. Para mim é apenas uma história sobre como a vida pode ser injusta quando permite que as escolhas de um podem destruir a vida de uma inocente para sempre sem praticamente deixar qualquer marca no sujeito destruidor. Não tem um final feliz como clássico nenhum tem - como a vida também não tem, se olhada de perto.

Luiz 29/08/2010

Ótimo livro. Personagem deplorável.
Quando li Lolita (de Vladimir Nabokov) pela primeira vez, quando eu era mais jovem, ficou muito claro para mim: aquele era o meu livro favorito. Uma história trágica, sobre a relação entre um pedófilo e uma menina de 12 anos, mas que tinha uma linguagem inspirada, que fazia tudo parecer extremamente engraçado, foram os elementos responsáveis por eu amar tanto a obra. Além, é claro, de ser uma trama bem movimentada, com elementos de erotismo e suspense.

Pois agora, alguns anos depois, resolvi revisitar a obra para saber se a opinião é a mesma. E é claro que não é.

Calma. Eu continuo achando o livro uma grande obra-prima, e certamente um dos melhores que já li. Mas agora o admiro por motivos diferentes.

Desta vez eu não ri muito com as tiradas sarcásticas de Humbert Humbert, o narrador e protagonista da obra. Elas continuam ácidas ao extremo, mas o que mudou dentro de mim foi a capacidade de encarar a história não apenas pelo ponto de vista dele, mas também pelo das pessoas com as quais ele convivia.

Aliás, hoje percebi que todo o livro é, na verdade, baseado na percepção dele, e só dele. Ou seja, há certamente coisas que ele altera, ou elimina, e conta apenas aquilo que poderia ajudá-lo a se livrar de uma condenação por assassinato.

Toda a história é, portanto, escrita de forma que se PAREÇA um caso de amor desesperado entre um homem com problemas psicológicos (mas não um monstro) e uma birrenta adolescente que se insinua a ele. Mas, se lermos atentamente, veremos que não é nada disso.

Lolita é uma fantasia da mente de um pedófilo que acredita que nunca (ou quase nunca) fez nada de errado. Tudo o que ele "sofre" nas mãos da jovem Dolores é amplificado no livro, ao passo que as suas atitudes deploráveis para com a menina são transformadas em algo leve, como se fossem uma brincadeira.

É difícil, para qualquer mortal, ter alguma reação que não seja ódio para com um adulto que se casa com uma mulher apenas por desejar sua filha de 12 anos, e que após a morte da esposa, seduz a filha (antes mesmo que esta saiba que perdeu a mãe) e a leva para uma vida terrível, onde eles ficam viajando pelos EUA e parando de motel em motel, como se fossem pai e filha, mas na verdade ele fica subornando a criança para que ela se entregue a ele (para não cumprir suas promessas depois de saciado).

Mas o que Humbert Humbert faz é transformar esta verdade em outra, tornando a obra bonita, como se um competente autor ultra-romântico estivesse narrando os fatos.

Literatura erótica por excelência, Lolita funciona como um ótimo estudo de personagens. Sim, porque o erotismo é quando usa-se as descrições dos atos do corpo para se atingir a alma humana (ao contrário da pornografia, que apela para a simples exploração do corpo pelo corpo). E não há trechos lingusiticamente chulos em Lolita, apesar de que se o leitor usar sua imaginação, saberá que o livro é bem safadinho.

Assim, por exemplo, foi com grande pena que agora acompanhei a solidão de Charlote, a ponto de apaixonar-se pelo culto Humbert, quando este era seu inquilino. Mas, mais do que tudo, tive muita compaixão pela Dolores, ou Lolita, como o narrador prefere chamá-la.

Uma menina que, órfã de pai e de mãe, se vê nas mãos de um adulto truculento, insensível e ciumento. Confusa com a vida absurda em que se encontra, ela é obrigada a tomar decisões que acabam a levando cada vez mais para o fundo do poço.

Lolita é, portanto, a história de uma vida trágica: a de Dolores Haze, uma criança que terá uma breve existência marcada por muitas desgraças.

A linguagem de Nabokov é excepcional, deliciosa e envolvente, como seria o papo de um criminoso culto e sedutor que quer ganhar a liberdade. Minha dica, enfim, é ler o romance duvidando do narrador e imaginando como seria a mesma história se fosse narrada pelo ponto de vista de outro personagem.

http://grafiasnoturnas.blogspot.com/2010/08/lolita.html

tali 07/01/2022

a obsessão e a perversidade de um narrador.
Lolita não é um romance romântico, trata-se, na verdade, da obsessão incontrolável e doentia do narrador(Humbert Humbert), e o que há de mais cruel na humanidade.
a escrita do Nabokov foi a mais rebuscada que já li até hoje, deixando, muitas vezes, dúvidas no leitor sobre o que de fato H.H. quer dizer com aquilo. a obra não retrata cenas obscenas ou pornográficas, caso você pense isso, mas por ser narrado em primeira pessoa, é válido ressaltar que, o que conhecemos não é verdadeira Dolores Haze, mas sim a Lolita, uma fantasia do H.H, descrita sob a perspectiva manipulativa do narrador. enfim, a obra é uma leitura lenta, perturbadora, rebuscada e, às vezes, até poética.

"Mas a finalidade terrível de todo este argumento é a seguinte. Ficou gradualmente claro para minha convencional Lolita, ao longo de nossa coabitação singular e bestial, que mesmo a mais miserável das vidas em família era melhor que aquela paródia de incesto que, a longo prazo, era o melhor que eu podia oferecer àquela criança perdida.". Finalizando com esse trecho para demonstrar o quão trágica foi a vida de Dolores Haze.

Thamiris.Treigher 14/07/2021

Lolita...
Lolita, na minha opinião, NUNCA será uma história de amor. É uma assombrosa história doentia e de ruína, que narra a relação obsessiva de Humbert Humbert com Lolita, uma criança de apenas 12 anos.

Acho que não tem muito como eu contar detalhes sem dar spoilers!

O livro é muito bem escrito e tudo muito bem aprofundado, e isso fez com que eu sentisse vontade de continuar lendo, pois a história e o tema são muito pesados e revoltantes. A aversão que a gente cria por Humbert e insuportável!

Porém, é um livro muito bom! Li por indicação da @acarollgomes e da @carolinetreigher e super recomendo também! Mas prepare seu estômago!

Kaylane.Barbosa 21/12/2020

É sério q tem gente q acha q a criança NÃO é uma vítima?
Gente serio...
As vezes eu queria tacar esse livro na parede, as vezes eu não conseguia para de ler, mas em contrapartida eu sempre senti nojo do narrador ( Humbert Humbert).
Sério, é preciso ter estômago para ler esse livro, que é uma preciosidade de obra literária por levantar questões serias e de extrema importância na sociedade.
Incrível como um livro tão antigo, consegue levantar questões tão atuais, hoje acho que evoluímos em questões tecnologicas, mas não evoluímos a mente como sociedade.
Ainda agimos como animais no cio.