Resenhas - Lolita

Any 10/07/2022

O que posso dizer desse livro? Minha experiência com ele foi péssima. A escrita é até "ok",mas a leitura foi tão difícil de ser feita que por várias vezes pensei em abandonar. É preciso ter muito estômago pra fazer a leitura,eu sentia que estava preparada pra isso e mesmo assim não rolou.

Gu 28/01/2010

Lolita
Você tem estômago? Pois é isso o que precisará para ler esse grande clássico da literatura mderna.

Lolita é fantástico ao mostrar o que há de mais perverso na conduta humana. Você fica atordoado; raiva, pena, ansiedade, tristeza, são alguns sentimentos que despertam no leitor no decorrer da obra.
No entanto, quem disse que um livro têm que ser, necessariamente, confortante e alegre? Nabokov acha que não, e sua escrita transmite sentimentos que em nada comuta com felicidade. A não ser, é claro, para seu personagem Humbert Humbert e seus desejos obscuros e perversos. Ok, não podemos afirmar que ele era feliz, seu desejos carnais apontavam para um lugar do qual a moral vigente não admite. Ele tinha noção disso, mesmo assim não conseguia evitar.

Nabokov foi corajoso ao escrever esse livro. O tabu da pedofilia não é, com certeza, um assunto fácil de se abordar, no entanto, ele o fez com maestria. Uma linguagem rebuscada, trechos em francês, que para mim enriqueceu mais ainda a beleza da obra.

Enfim, se você sente asco de um livro através da personalidade das personagens, não leia Lolita. Mas se você sabe apreciar a riqueza de uma escrita pormenorizada, a habilidade em transmitir sentimentos humanos para o papel, sejam eles obscuros ou não, Lolita é uma boa pedida.

Deleite-se.

Bookster Pedro Pacifico 26/02/2020

Lolita, Vladimir Nabokov – Nota 10/10
Não é fácil fazer uma resenha de Lolita. Para falar sobre o livro, precisamos passar por um assunto muito polêmico: pedofilia. Nabokov narra a história de Humbert Humbert (H.H.), um homem de meia-idade, que se apaixona obcecadamente por uma garota de 12 anos, Dolores - apelidada de Lolita. Na verdade, quem narra a história é o próprio Humbert, que mergulha o leitor em seus pensamentos e em sua obsessão incontrolável por garotas jovens, que ele denomina como “ninfetas”.

E em nenhum momento H.H. nega que seu comportamento é reprovável. Há, na verdade, diversas passagens em que ele reconhece isso expressamente e se culpa por seus atos. Mas isso não é capaz de frear esse seu desejo interior. E é a partir dessa relação doentia, e não romântica, que Nabokov mostra o seu dom da escrita e a capacidade de construir personagens muito humanos.

O que mais me impressionou na obra é a forma como o narrador consegue manipular o leitor. Ele brinca com constantemente com a realidade, ao ponto de o leitor não saber o que é real ou o que é fruto de uma visão distorcida de Humbert. Será que a própria Lolita provocava H.H., como ele dá a entender? Eu passei a questionar os fatos a todo momento, pois, na verdade, não chegamos a conhecer a verdadeira Dolores, mas apenas a Lolita, na forma como é descrita por Humbert.

Importante dizer que a obra não traz passagens obscenas ou pornográficas. A relação entre H.H. e Lolita é narrada de forma sutil, com pinceladas de vulgaridade – e que ainda assim deixam dúvidas no leitor sobre o que de fato H.H. quer dizer com aquilo.

Além disso, apesar de uma visão totalmente parcial, H.H. se apresenta como honesto: escancara os seus sentimentos e seus conflitos internos. Ele sofre pelo que sente e isso pode gerar, em certos momentos, um sentimento de “compaixão” por Humbert, mas que logo passa.

É um obra sensacional e que, apesar de incomodar o leitor, não traz uma história romantizada da pedofilia, mas a visão manipuladora de um homem atormentado pela obsessão. Foi para a lista de favoritos!

“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha, alma, meu pecado (...)”

site: https://www.instagram.com/book.ster/

Nado 24/01/2021

Com certeza Lolita é um dos livros que mais fez a minha cabeça se transformar em um turbilhão de sentimentos.
Um leitor desavisado pode pensar que a obra trate esse assunto tão nauseante com cenas e narrações que tenham cunho erótico, mas é desenganado pelo próprio Nabokov logo nas primeiras páginas. O que o autor magistralmente faz é construir uma narrativa impecável, que na mão de outro escritor poderia ter sido escrita de forma banal e ilegível.
Cenas intragáveis são relatadas em um jogo de palavras que em um certo momento pode "enganar" quem está lendo, ocultando ali atos intragáveis e nauseantes.
Por mais que o tema seja controverso, o leitor que gosta de apreciar uma excelente narrativa precisa conhecer a obra. É um texto importante demais na literatura, e escrito com uma primazia tão grande, que não pode e não deve passar despercebido. Pela escrita eu daria 5 estrelas com louvor, mas eu não consigo manter a nota com as cenas intragáveis que são amenizadas pela narração que é feita em primeira pessoa.
Recomendo a leitura.

Luiz 29/08/2010

Ótimo livro. Personagem deplorável.
Quando li Lolita (de Vladimir Nabokov) pela primeira vez, quando eu era mais jovem, ficou muito claro para mim: aquele era o meu livro favorito. Uma história trágica, sobre a relação entre um pedófilo e uma menina de 12 anos, mas que tinha uma linguagem inspirada, que fazia tudo parecer extremamente engraçado, foram os elementos responsáveis por eu amar tanto a obra. Além, é claro, de ser uma trama bem movimentada, com elementos de erotismo e suspense.

Pois agora, alguns anos depois, resolvi revisitar a obra para saber se a opinião é a mesma. E é claro que não é.

Calma. Eu continuo achando o livro uma grande obra-prima, e certamente um dos melhores que já li. Mas agora o admiro por motivos diferentes.

Desta vez eu não ri muito com as tiradas sarcásticas de Humbert Humbert, o narrador e protagonista da obra. Elas continuam ácidas ao extremo, mas o que mudou dentro de mim foi a capacidade de encarar a história não apenas pelo ponto de vista dele, mas também pelo das pessoas com as quais ele convivia.

Aliás, hoje percebi que todo o livro é, na verdade, baseado na percepção dele, e só dele. Ou seja, há certamente coisas que ele altera, ou elimina, e conta apenas aquilo que poderia ajudá-lo a se livrar de uma condenação por assassinato.

Toda a história é, portanto, escrita de forma que se PAREÇA um caso de amor desesperado entre um homem com problemas psicológicos (mas não um monstro) e uma birrenta adolescente que se insinua a ele. Mas, se lermos atentamente, veremos que não é nada disso.

Lolita é uma fantasia da mente de um pedófilo que acredita que nunca (ou quase nunca) fez nada de errado. Tudo o que ele "sofre" nas mãos da jovem Dolores é amplificado no livro, ao passo que as suas atitudes deploráveis para com a menina são transformadas em algo leve, como se fossem uma brincadeira.

É difícil, para qualquer mortal, ter alguma reação que não seja ódio para com um adulto que se casa com uma mulher apenas por desejar sua filha de 12 anos, e que após a morte da esposa, seduz a filha (antes mesmo que esta saiba que perdeu a mãe) e a leva para uma vida terrível, onde eles ficam viajando pelos EUA e parando de motel em motel, como se fossem pai e filha, mas na verdade ele fica subornando a criança para que ela se entregue a ele (para não cumprir suas promessas depois de saciado).

Mas o que Humbert Humbert faz é transformar esta verdade em outra, tornando a obra bonita, como se um competente autor ultra-romântico estivesse narrando os fatos.

Literatura erótica por excelência, Lolita funciona como um ótimo estudo de personagens. Sim, porque o erotismo é quando usa-se as descrições dos atos do corpo para se atingir a alma humana (ao contrário da pornografia, que apela para a simples exploração do corpo pelo corpo). E não há trechos lingusiticamente chulos em Lolita, apesar de que se o leitor usar sua imaginação, saberá que o livro é bem safadinho.

Assim, por exemplo, foi com grande pena que agora acompanhei a solidão de Charlote, a ponto de apaixonar-se pelo culto Humbert, quando este era seu inquilino. Mas, mais do que tudo, tive muita compaixão pela Dolores, ou Lolita, como o narrador prefere chamá-la.

Uma menina que, órfã de pai e de mãe, se vê nas mãos de um adulto truculento, insensível e ciumento. Confusa com a vida absurda em que se encontra, ela é obrigada a tomar decisões que acabam a levando cada vez mais para o fundo do poço.

Lolita é, portanto, a história de uma vida trágica: a de Dolores Haze, uma criança que terá uma breve existência marcada por muitas desgraças.

A linguagem de Nabokov é excepcional, deliciosa e envolvente, como seria o papo de um criminoso culto e sedutor que quer ganhar a liberdade. Minha dica, enfim, é ler o romance duvidando do narrador e imaginando como seria a mesma história se fosse narrada pelo ponto de vista de outro personagem.

http://grafiasnoturnas.blogspot.com/2010/08/lolita.html

Bruna Suelen 05/12/2020

Lo. Li. Ta
“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, ao três, nos dentes. Lo. Li. Ta”.

P.S: Sem sombra de dúvidas essa não é uma história de amor.

Através de uma escrita poética e envolvente, ao mesmo tempo muito desconfortante, o autor nos conta uma história de tragédias e abusos. Nela o europeu Humbert Humbert de 37 anos recém-chegado a América fica obcecado por Dolores Haze, uma garota de 12 ANOS que ele conhece quando fica hospedado em sua casa e de sua mãe Charlotte. Humbert tem um longo histórico de envolvimento com meninas mais novas que ele chama de ninfetas: “Entre os nove e os catorze anos de idade, ocorrem donzelas que, a certos viajantes enfeitiçados, duas ou muitas vezes mais velhos do que elas, revelam sua verdadeira natureza que não é humana, mas nínfica (isto é, demoníaca)”.

Ele acaba se casando com Charlotte para – nas palavras dele – ter acesso livre à sua filha (Lo, Lola, Lolita). Quando um acidente acaba colocando Dolores nas suas mãos e aos seus cuidados. Assim, eles partem em uma longa viagem que durará uns dois anos, onde um Humbert controlador manipulava Lola através de subornos e ameaças. Sozinha e sem parentes ela não tem a quem recorrer.

Ele claramente cria em sua mente doentia um ser apelidado de Lolita, hipersexualizada, ela é um demônio sedutor no corpo de uma criança, e ele a vítima que é fisgado. Dessa história só temos o ponto de vista de Humbert Humbert, que vemos não é nada confiável, em muitos momentos ele age de maneira paranoica, principalmente quando há a presença masculina por perto de Lola.

Foi uma leitura densa e demorada. Como os acontecimentos não são explícitos e sim floreados, eu tive que reler algumas partes que eu não captei completamente e mesmo assim muita coisa passou batida. Depois que eu assisti ao filme de 1962 eu fiquei com muita vontade de ler o livro, só anos mais tarde descobri que Hollywood deu uma romantizada. Lendo percebi que eu tinha uma visão distorcida da história, o narrador é um monstro criminoso e o que ele fez com a Dolores foi muito cruel.

Rosangela Max 12/01/2021

Bom, apesar de tudo.
Embora a história cause desconforto e repugnância, é possível notar a boa escrita do autor. Não é um livro para todo mundo.

tali 07/01/2022

a obsessão e a perversidade de um narrador.
Lolita não é um romance romântico, trata-se, na verdade, da obsessão incontrolável e doentia do narrador(Humbert Humbert), e o que há de mais cruel na humanidade.
a escrita do Nabokov foi a mais rebuscada que já li até hoje, deixando, muitas vezes, dúvidas no leitor sobre o que de fato H.H. quer dizer com aquilo. a obra não retrata cenas obscenas ou pornográficas, caso você pense isso, mas por ser narrado em primeira pessoa, é válido ressaltar que, o que conhecemos não é verdadeira Dolores Haze, mas sim a Lolita, uma fantasia do H.H, descrita sob a perspectiva manipulativa do narrador. enfim, a obra é uma leitura lenta, perturbadora, rebuscada e, às vezes, até poética.

"Mas a finalidade terrível de todo este argumento é a seguinte. Ficou gradualmente claro para minha convencional Lolita, ao longo de nossa coabitação singular e bestial, que mesmo a mais miserável das vidas em família era melhor que aquela paródia de incesto que, a longo prazo, era o melhor que eu podia oferecer àquela criança perdida.". Finalizando com esse trecho para demonstrar o quão trágica foi a vida de Dolores Haze.

resenhasdajulia 10/08/2021

Incômodo, porém maravilhoso.
É muito difícil falar sobre esse livro, porque ele é complexo, incômodo e, com certeza não é uma leitura para todo mundo. Mas o mais importante a ser dito aqui, é: essa não é uma história de amor. O que Humbert Humbert sente por Dolores nunca foi, não é, e nunca será amor. Só tem um nome para isso: pedofilia. E, ao contrário do que ele transmite ao leitor, Dolores nunca teve culpa de nada, ela foi uma vítima nas mãos dele.

O livro conta a história de Humbert Humbert, um professor, de quase 40 anos, que se hospeda na casa de Charlotte Haze, e "se apaixona" por Dolores, sua filha, de 12 anos, a quem ele passa a chamar de "Lolita." Ele fica tão obcecado com a garota, que se casa com Charlotte, só para "ter livre acesso à sua filha."

A história toda é narrada por Humbert Humbert. Quando um livro é narrado em primeira pessoa, temos que ficar com um pé atrás, porque talvez, o que estamos lendo, não seja toda a verdade
Principalmente, tratando-se de alguém como ele, que não é confiável nem como narrador, e nem em qualquer outro aspecto.

Não conhecemos a verdadeira Dolores Haze nesse livro, somente a Lolita, que é uma criação da mente doentia de Humbert Humbert. Então, o livro todo nos mostra o ponto de vista de um pedófilo.

Achei a escrita de Nabokov incrível. Apesar de rebuscada e com poucos diálogos, não achei uma leitura cansativa.

Com certeza, um dos melhores livros que já li!

Bryan.Caratti 25/08/2020

Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, no três, nos dentes.
O protagonista, antagonista e narrador não confiável é um professor universitário de meia-idade sob o pseudônimo de Humbert Humbert. Está obcecado por Dolores Haze: Lolita. E é capaz de tudo para satisfazer os seus desejos. Lo não é sua paixão, a carne é. O que ela representa. Na infância Humbert teve um caso com uma menina (Da mesma idade de Lo) mas nunca chegou a manter relações sexuais. As duas tentativas foram frustradas pois sempre aparecia alguém. Pouco tempo depois ela morreu de lúpus. Isso mudou completamente a vida de H.H. e passou o resto da vida procurando concretizar o que não conseguiu na infância. Ao encontrar Lo ficou obcecado. Casou com a mãe e pensou em cometer assassinato. Mas, por ironia do destino, ela acabou sofrendo um acidente. Foi atropelada logo depois de descobrir o verdadeiro motivo de ter casado com ela. Humbert vai buscar Lo no acampamento. Acredito que o motivo de ter mandado Lo para lá foi por estar apaixonada por H.H. Ao buscar Lo, antes mesmo de revelar a morte da mãe, Humbert se aproveitou para possuir Lo. Ora, isso não seria possível se ela soubesse da morte da mãe, não é?! Segundo Humbert, foi Lo quem teve a iniciativa. Ao entrar no carro finalmente surgiu o primeiro beijo. Mas foi no hotel que aconteceu a penetração.
Na primeira da segunda parte do livro Humbert narra a aventura que teve com Lo. Viajaram sem rumo e Humbert possuiu Lo várias vezes. Para garantir que ela não contaria a ninguém fazia uso de ameaça. Se contar vai iria para o reformatório e perderia a liberdade. Depois passou a dar dinheiro. Lo queria pretendia fugir mas Humbert sempre cuidado para que ela não tivesse o suficiente. Humbert sabia dos "amantes" dela, mas só demonstrou quando percebeu que estava sendo seguido. Talvez por um detetive? Um tipo de policia diferente? Antes de descobrir Lo ficou doente. Internada no hospital ele suspeitou que esse estranho poderia ser um dos amantes. Mas só teve a certeza quando o estranho a levou do hospital. Começa a segunda da segunda parte. Humbert procura em vão por Lo. Mas depois de anos é ela quem o encontra. Manda um recado pedindo dinheiro. Ao chegar armado na casa dela, agora aos 17 anos, ele percebe que o Dick (O equivalente a Pinto) não foi o cara que roubou sua Lo. Pede então que ela, agora grávida, vá com ele. Ele alega amar, mas o real motivo era o bebê. Lo não era mais uma Lolita, uma ninfeta, tinha traços de mulher. Mas o bebê um dia seria uma Lolita. Ela nega ir com ele. Depois de receber o cheque e perguntar se teria que ir ao motel (Humbert nega pois ela não atrai mais), Lo dá o nome do sujeito. Era um antigo amigo da família, verdadeiro amor de Lolita. Ele era o homem misterioso que manteve um caso com ela enquanto viajava. Se não fosse por ele Lo seria dele por inteiro. Não seria necessário ameaças ou dinheiro, ela se entregaria de bom grado. Humbert mata o sujeito. Depois é propositalmente preso. Escreve o diário e morre de infarto. Lo morre no natal durante o parto. A criança? Uma natimorta.
Lolita foi inspirada em Florense Sally Horner, raptada aos 11 anos por Frank la Salle. O pedófilo viajou com ela por 21 meses, estuprando a menina com frequência (notaram a semelhança?). Conseguiu escapar e pediu ajuda do FBI. Mas infelizmente acabou falecendo em um acidente automobilístico, batendo na traseira de um caminhão. Adivinhem em que ano! Mesmo ano da morte de Lolita no livro: 1952. Ambas tiveram um final horrível...
Termino esse resumo com uma menção do capítulo 32, da parte 2 de Lolita: "Será que eu tinha feito com Dolly o mesmo que aquele tal de Frank La Salle, um mecânico de cinquenta anos, fizera com Sally Horner, de onze anos, em 1948?".

Alex 01/07/2023

Um contraste desconcertante
Esse livro possui uma contradição tremenda, por um lado uma escrita magistral, por outra, uma temática muito pesada, até posso dizer, repulsiva em alguns momentos. Por isso, acho que a avaliação e a resenha deve frisar isso separadamente.

Sobre a escrita de Nabokov, ela é perfeita. Fluida e envolvente. O próprio autor reconhece que é sua obra-prima. Nas primeiras páginas eu cai na armadilha literária, de torcer pelo monstro (exatamente como em outros livros em que você torce pelo ladrão como em Robin Hood ou Lupin, pelo assassino como em Dexter ou Hannibal, etc.). Mas tão somente até chegar no trecho, em que o protagonista, com todas as palavras, reconhece a monstruosidade do que ele deseja. Pois até ali, por mais errado que seja, o autor fazia parecer um sentimento genuíno. Palmas pro Nabokov, por conseguir isso. Manipulador desgraçado. Esse é o lado artístico r louvável da obra, agora vamos para o lado obscuro.

Sobre a temática ? chegado ao ponto em que ele confessa sua perversão, nasceu um asco do protagonista e desde então eu só segui lendo porque queria saber o qual fim de Lolita.

É interessante, que eu não tenho irmãs, não convivi com primas, não tive esse contato na adolescência, apenas na escola com as colegas, e por isso, não sei o quanto o protagonista fantasia sobre Dolores e sua ?inocente paixão? por Humbert. Ainda mais quando o autor coloca sobre Lolita a pecha de uma pestinha sedutora. E aí, exatamente nesse ponto, é muito pertinente frisar quem narra a história. É a narração de um pedófilo, obcecado e cheio de ressentimentos. É uma narração unilateral, feita na solidão da cela, sem a inclusão de qualquer outro personagem. Logo não dá pra confiar na lisura da narrativa.

Cabe frisar algumas características dessa narrativa, Humbert insere quase que exclusivamente seus pensamentos e sentimentos, são pouquíssimos os diálogos, e quando presentes, são muito breves. Outra característica, é que apesar de sua perversão ele sugere, ele diz sem detalhar, ele faz o leitor supor e imaginar seus atos sexuais. Fazendo uma analogia com o direito, ele narra as contravenções, mas nunca seus crimes.

Me impressiona o quão sórdido o protagonista era: ele sabia o quão errado eram seus atos, reconhecia que estava prejudicando o ?fruto de seu amor?, mas seguia em frente. Isso só se explica como doença, obsessão, ou sei lá o que.

Me pergunto desde o princípio do livro, como o autor conseguiu se colocar na pele do protagonista com tamanha credibilidade? Como ele conseguiu repassar em palavras alguns pensamentos tão sombrios e repugnantes? Como ele conseguiu dar vida a um monstro como H.H? Arte? Auto biografia? Experiência de uma vítima? Enfim, dei uma procurada e só achei que ele foi casado, a vida toda com a mesma mulher.

Por fim, um aviso, esse não é um romance, não é uma história de amor, não há aqui nada de admirável, e o autor deixa isso claro, ele até esfrega isso na cara do leitor desavisado:

?Eu seria hipócrita se dissesse ? e o leitor um tolo se acreditasse ? que o choque de perder Lolita me havia curado da pedofilia.?

Ogaiht 24/03/2023

Limites de uma Obsessão
Lolita, um dos clássicos da literatura contemporânea, tem despertado intensos debates acerca de seu tema. Esta obra já recebeu adjetivos dos mais variados: obscena, de mau gosto, escandalosa, pornográfica, fascinante, revolucionária, trágica, etc. Muitos começam a ler o livro já com pré conceitos ou nem chegam a lê-lo por pudor, o que me parece irracional, pois se fôssemos deixar de ler todas obras cuja narrativa inclua eventos que são considerados imorais, teríamos que boicotar todas as obras que mencionam assassinatos, roubos e adultérios, reduzindo drasticamente nossas opções de leitura.
Na contracapa desta edição, há uma citação de uma crítica da Vanity Fair sobre este livro falando: ?A única história de amor convincente de nosso século.? Mas a verdade é que este livro está muito longe de ser uma estória de amor. Na verdade é a estória da obsessão de um homem mais velho por uma menina que ainda é uma criança. Escrito por Vladimir Nabokov originalmente em inglês, Lolita narra a estória de um homem chamado Humbert Humbert, que se muda para os Estados Unidos e aluga um quarto na casa de uma mulher chamada Charlote Haze e sua filha Dolores. No primeiro momento que Humbert põe os olhos em Dolores ele a deseja intensamente. O protagonista chega se casar com Charlote apenas para poder ter uma desculpa para se aproximar da filha. Até o dia em que Charlote sofre um acidente e morre, deixando Dolores sob os cuidados de Humbert, que agora está livre para por em prática seus desejos mais obscuros com a jovem Lo.
O livro já começa com o protagonista na prisão, e é lá onde ele escreve suas memórias, até o desfecho de sua história com Dolores. Como a narrativa é em primeira pessoa, não se pode confiar em tudo o que é contado pelo narrador, considerando que é um relato de uma mente doentia, mas por outro lado é interessante e chocante ver como ele vê as coisas. Para Humbert, não há nada de errado com que ele está fazendo. Muito pelo contrário, ele se justifica dizendo que não é nenhum assassino ou ladrão. Ao narrar a história de sua vida, descobrimos que ele teve um amor em sua juventude, aos 12 anos, e que a menina morreu, fato que o marcaria para o resto da vida, e sempre procuraria por essa menina em suas relações futuras. O livro deixa bem claro que ele é um predador sexual e pedófilo e realmente não me parece que defenda ou romantize a pedofilia. Há alguns momentos onde a descrição dos pensamentos de Humbert são bem pesadas e doentias, mas não se pode negar que este livro seja muito bem escrito. A prosa do autor é belíssima. Logo nas primeiras linhas da narrativa, Nabokov faz um das melhores introduções que se pode encontrar na literatura, fazendo uma descrição poética de Lolita pela perspectiva de Humbert: ?Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado.?
A obra inspirou duas adaptações cinematográficas: uma dirigida pelo lendário Stanley Kubrick, muito bem dirigida com James Mason como Humbert e Shelley Winters como Charlotte. É uma versão bem discreta devido à época em que foi lançada (1962), e a outra versão foi lançada em 1997, dirigida por Adrien Lyne (diretor de Atração Fatal) e com Jeremy Irons como Humbert. Esta versão tem uma carga dramática maior que o primeiro filme, um tom mais melancólico, é mais explícita e muda a essência da obra ao transformar a estória num romance proibido. Essa versão também tem uma belíssima trilha sonora do mestre Ennio Morricone, mas infelizmente a direção de Lyne não é tão talentosa como a de Kubrick e o filme acaba tendo um resultado inferior ao da versão de 1962.
Enfim, Lolita é um romance bem escrito, controverso, com momentos realmente pesados, mas aqueles interessados em expandir seus conhecimentos literários deveriam conferir esta obra. Antes de lê-la, tentem limpar a mente de pudores e pré conceitos criados por comentários e opiniões de outrem e tentem ler e julgar a obra por si só.

Lala 28/04/2022

Um livro cruel sobre a crueldade
Esse livro é pura agonia e claustrofobia. É o relato de um crime horrível escrito de forma floreada em primeira pessoa, ou seja, o leitor só tem uma visão:a do criminoso.
Humbert Humbert é asqueroso. Ele é pura maldade e narcisismo. O personagem também é muito bem construído e cheio de nuance e é muito interessante ler o livro analisando a cabeça doentia desse personagem.
Dolores Haze também é muito complexa e uma personagem muito sofrida. Ela perdeu o pai, tem uma mãe que a despreza, perde essa mãe, depois cai nas mãos de Humbert e tem sua infância destruída. Eu senti muita pena dela e torci pra que ela ficasse bem, mas infelizmente essa história não tem um final feliz pra Dolores.
Não é uma história de amor nem aqui e nem em nenhum lugar. É uma história de violência e privação de liberdade, de uma menina de 12 anos que perdeu tudo, inclusive a oportunidade de ser criança.
O sentimento muitas vezes é de vazio e melancolia. A prosa de Nabokov é muito bem escrita e poética (mas as vezes um pouco confusa) e torna a experiência imersiva.
Humbert tem pensamentos que dão nojo, ele é completamente não confiável e a imagem de "Lolita" é fruto de sua mente perturbada. Ele tenta se justificar, mas é pego em seus próprios argumentos e hipocrisia.
O livro me deixou desconfortável quando eu pensei que existem Humberts e Dolores na vida real e que essas coisas acontecem mais frequentemente do que imaginamos. E eu acho que a sociedade não fala sobre esse assunto como deveria.
Enfim, o livro é muito bom. É um retrato da maldade humana muito potente e a primeira pessoa deixa tudo mais perturbador.
Quem lê e defende HH não leu, simplesmente.
O titulo a minha resenha é uma frase do posfacio e eu a achei a definição perfeita pra Lolita:um livro cruel sobre a crueldade

Jamile.Almeida 10/11/2020

Um livro que acabei entre nauseas e aplausos
Como foi sofrível e maravilhoso ler Lolita.

Um livro sobre um tema pesado, cheio de gatilhos, mas não se enganem com o que possam ter te falado: o assunto não foi romantizado (apesar de Nabokov saber usar como ninguém a prosa floreada, que as vezes até te engana sobre o quão grave é a situação).

Essa não é uma história de amor, essa é uma historia de obsessão - obsessão visceral com todos os ?ismos? dos extremos. Estamos falando de um homem (Humbert) que não guarda apenas assuntos sexuais mal resolvidos de sua infância, mas que tem graves problemas mentais e o autor deixa isso bem claro.

Não estamos falando de uma menina que sabe suas armas de sedução e as usa para prender o narrador/criminoso em sua teia. Estamos falando de uma criança, cujo relacionamento com o pai desconhecemos, péssima relação com sua mãe, sozinha no mundo aos nove anos, hipersexualizada (mas isso esta longe de saber o que é prazer sexual), que sabe o que é errado, mas não tem noção das consequências de seus atos.. apenas que, com eles, consegue atenção, proteção, doces e revistinhas.

Não se deixe enganar pela Humbert, ele não é um coitadinho que não resistiu aos encantos de uma criança de um metro e quarenta. Ele é um homem com sérios problemas psiquiátricos, que sabe a arte das letras e da escrita e que narra sua história sobre o SEU ponto de vista... de um homem cuja razão, bom senso ou sanidade, passaram longe da sua cabeça.

Esse também não é um livro pornográfico, as descrições da interação dos dois estão longe do erotismo, beiram a discrição em palavras e, quando não, trazem desconforto pela suposição. A ideia do Nabokov não é trazer a sensação de prazer, mas de mal estar, pois estamos falando de uma relação não natural, aceitável, ou perdoável.

Mas afinal, por que, depois de falar tudo isso, achei a leitura boa?

Só vivendo a experiência para entender o que é brilhantismo em forma de escrita. Nabokov traz movimento dentro de sua prosa, as palavras dançam, rodopiam, te tocam e fazem palpitar seu coração de tão perfeita que é sua escrita. Um domínio sem igual da prosa floreada... e pensar que sua língua natal é russa e ele fez isso em outro idioma que não o seu, em inglês ... se isso não é ser o gênio das letras, não sei mais o que é.