Lolita

Lolita Vladimir Nabokov




Resenhas - Lolita


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joaoggur 18/12/2023

Não é romance; é livro de terror.
Ouso dizer ser impossível alguém, em sã consciência, ler Lolita e não ficar horas refletindo sobre o que absorveu da experiência. Gastei tempos digerindo toda a podridão do que foi lido; e, por isso, julgo que esta (pesada, complicada e até levemente traumática) experiência fora de bom proveito.

A história é conhecida e até um pouco pífia, pois esta é irrelevante; o suprassumo do livro (e, ouso dizer ser um dos maiores suprassumos da literatura ocidental da segunda metade do século XX) está na altíssima habilidade de Humbert Humbert, o autor, de ?se defender?. Se defender, com aspas: a partir do momento que entendemos que estamos lidando com um pedófilo, a simpatia pelo homem cai por terra. O autor (por meio de um fluxo de consciência pesado, mesclando memórias passadas com recordações mais regressas ainda) joga com o leitor, tentando fazer-nos constantemente ?cair nas graças? de Humbert, ou seja, crer que, apesar de sua ?doença? (como o próprio refere-se a seu desejo por crianças), Lolita o seduziu (tendo apenas 12 anos), e ela é a causadora de todos os infortúnios de sua vida.

E neste ponto é o píncaro da genialidade; a tragedia, por meio da linguagem prolixa e defensiva, se tornando poesia. Isso não isenta o narrador, muito menos ameniza o peso do livro; mas é inegável que mesmo o conteúdo sendo execrável, todos aqueles de estômago forte permanecerem até as páginas finais. A cada cena supliciante eu ficava me questionando porque ainda estava ali, e a cada cena bela e poética ficava com raiva de mim mesmo; quem diria, encantado pelo feitiço de um pedófilo! Me lembrei de Dom Casmurro (em ambos os livros acompanhamos um julgamento enviezado).

Lolita não é uma obra que banaliza a pedofilia, muito pelo contrário. Prolixo, com uma linguagem nada coloquial e extremamente densa, Humbert Humbert não é um narrador que quero reencontrar. Recomendo para os fortes; é um suco de crueldade.
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Lola 07/04/2021

sob o ponto de vista de uma vítima de pedofilia
com certeza o livro mais difícil que já li, a cada duas páginas eu fechava o livro e refletia sobre tudo aquilo com nojo mas ao mesmo tempo contemplando como o autor desenvolveu muito bem o perfil do pedófilo. Chegavam partes que eu lia e pensava ?que poético e romântico? até lembrar que o assunto eram crianças completamente vulneráveis sob a visão de um adulto sociopata. Não é um livro que se lê em 2 dias, é uma obra que demora para ser compreendida e precisa de muita atenção pra não se perder entre as coisas bonitas que lê e deixar se levar pelas visões de um pedófilo romantizando uma garota menor de idade. Fui vítima de pedofilia e acredito que esse livro deva ser lido por todos. Homens, mulheres, qualquer um. Pedófilos estão espalhados por todos os lugares, na rua, dentro de casa, na escola, no serviço. Abram os olhos com esses caras de 20 e poucos anos esperando garotas de 15/16 nas portas da escola, isso também é pedofilia! Pessoas que não veem diferença entre uma garota de 15 pra uma de 18, também não veem diferença entre uma garota de 14 pra 12 e assim por diante. Fiquem atentos e protejam os menores!
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Giselle 24/09/2021

Não busque o leitor desavisado um "romance" nesta obra do russo Nabokov. Protagonista e narrador, portanto, questionável Humbert, apaixona-se por uma jovem! O erro? Ele, com mais de 40 anos, ela aos frescor dos 12 anos, uma criança. Como é em primeira pessoa, olhar atento para não romantizar a relação. Sim, pedofilia e estupro. Escrita muito bem elaborada que desde o início trouxe inquietação e preocupação com o desfecho de Lolita! Comecei na indignação e sem querer continuar, mas me peguei eletrizada pela trama!
Ruannita 04/12/2021minha estante
Romance aqui é mais como gênero que possui uma narrativa longa com personagens complexos não tem relação com o "sentimento" romântico. Gostei de sua resenha. Irei pôr esse livro na meta pra 2022.


Giselle 04/12/2021minha estante
Por isso que coloquei entre aspas a palavra romance rs. Encaixa-se como gênero, mas não como o sentimento! Alerta aos porventura desavisados! Vale a leitura Ruannita! Que bom que gostou! ?




evemm 26/04/2023

Lolita
Todo mundo já ouviu falar de Lolita em algum momento da vida.
narra o amor obsessivo de Humbert Humbert por Dolores Haze.
Sempre tive muita curiosidade de ler, mas também um pouco de receio. 
Thalia58 26/04/2023minha estante
Na verdade, nem é amor, é pedofilia mesmo. O narrador é extremamente duvidoso em suas descrições


evemm 26/04/2023minha estante
verdade.


Thalia58 26/04/2023minha estante
É só que às vezes a gente acaba romantizando, e até se compadece um pouco do cara. Mas acho que a intenção do livro é justamente o contrário




Rayssa A 30/03/2023

Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. ?
História com uma temática muito polêmica, o personagem H. H. é obsessivo e muito MUITO problemático, em algumas partes chega a ser nojento, ? e também um manipulador relatando apenas o seu ponto de vista em relação a Lolita (Dolores).
Esse livro definitivamente não é um romance, porém apesar de ser um assunto pesado, a escrita do autor Nabokov é impecável e poética sendo realmente a melhor parte dessa história. ?
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Isadora1232 28/09/2021

Lolita, como obra, demonstra quão fácil nós podemos recair nos tropos criminosos de hiperssexualização de crianças e características infantis. Maior prova disso é o ícone das "lolitas", tal como conhecemos, e, ainda, que durante toda a história esse livro foi constantemente vendido como uma história de amor (inclusive já vi especialistas em literatura com falas nesse sentido).
Muito pelo contrário, Lolita é um diário de abusos e violência, escrito por um narrador egocêntrico, cruel e doentio que vai tentar, a todo custo, usar do seu domínio sobre as palavras pra tentar nos convencer de que não, ele não era tão cruel assim. Esse golpe é anunciado já na primeira página. É preciso muita maturidade e atenção do leitor pra não cair no golpe da prosa bonita e floreada de Humbert Humbert.
Foi sem dúvidas um dos livros mais difíceis que já li, que me fez revirar o estômago e rolar os olhos enojada incontáveis vezes, mas uma leitura que valeu a pena chegar ao final.
Recomendo? Não sei.. Mas é preciso registrar minha apreciação pela escrita do Nabokov, que eu achei genial.
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Bruna 11/05/2022

É leitura para quem está acostumado a temas pesados. Precisa saber interpretar, precisa saber ler, entender que muito da construção de Lolita e de Humbert vem dos abusos que o próprio autor sofreu na infância,galera.
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Larissa266 11/02/2023

É bem denso, dá agonia, a leitura é bem difícil e ele transita entre os extremos do ódio do tédio. Enfim, boa sorte.
Ana Carolina 11/02/2023minha estante
Abandonei por estes motivos!!




Cris 13/08/2020

Ache tudo, menos que este livro narra uma história de amor...
Tudo começou quando o erudito e para todos os efeitos Humbert Humbert tinha 13 anos de idade. Ele se apaixonou por Annabel e com ela pôde experimentar as nuances do primeiro amor, porém, sua história foi interrompida bruscamente devido a morte de Annabel, a jovem garota o deixou e nem o tempo e muito menos as internações a diversos sanatórios ao longo dos anos pôs fim a esse amor. Contudo, agora adulto aquele inocente sentimento juvenil deu lugar a uma obsessão tornando Humbert um assumido e dissimulado pedófilo...

"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, no três, nos dentes."

Dolores Haze, uma garota de 12 anos, é a Lo-li-ta de Humbert; é com ele e através dele que sabemos de tudo, do início ao fim. Pararei por aqui e deixarei você leitor um tanto curioso acerca do enredo a partir de agora. Lembre-se, você está num júri e tem total liberdade de assimilar, analisar, julgar e sentenciar. Seja ludibriado, enganado, ou, minimamente afetado por tudo que Humbert tem a dizer.

"O que me põe louco é a natureza dupla desta ninfeta - de todas as ninfetas, quiçá; esta mistura, na minha Lolita, de uma infantilidade terna e sonhadora com uma espécie de horripilante ordinarice, que provém das enfadonhas modelos fotográficas da publicidade e das revistas, com os seus narizinhos travessos..."

Antes de mais nada: 'Lolita' de Vladimir Nabokov é um livro estruturalmente perfeito! Assim que finalizei a leitura só conseguia enaltecer a escrita do autor. Claramente ouve uma renúncia de alma, ele se desnudou a fim de entregar aos seus leitores uma obra-prima.
Trazer à tona um assunto tão repulsivo como a pedofilia e mesmo assim manter o leitor envolvido na história não deve ser algo tão fácil de fazer, de escrever. E manter a atenção desse mesmo leitor quando existe um único narrador e, diga-se de passagem, de caráter duvidoso é ainda mais difícil, sendo assim, meus parabéns!

Embora tenha sido envolvida pelo universo de Nabokov, preciso dizer que tive alguns problemas no decorrer da narrativa, por vezes achava tudo muito parado, cansativo e demasiadamente enrolado. Minha vontade em MUITAS cenas era de entrar no livro e simplesmente encurtar as coisas, queria de todo modo gritar aos quatro cantos para o astuto do Humbert ir pros finalmentes, entende? Mas creio que tudo ali exposto foi minuciosamente proposital, o réu me queria testar, cansar a minha paciência ... quem sabe assim bem cansada eu possa abrandar minha decisão/punição... quem sabe! Enfim, Nabokov me testou, cansou e acima de tudo me surpreendeu positivamente.

'Lolita' é um livro para se debater, dentro dele há diversas discussões para se fazer, tanto no âmbito pessoal ou estudantil. E claro, romantizar qualquer ação ali narrada está fora de cogitação, esta NÃO é uma história de amor, e sim, a história de um pedófilo. Ponto final.

"Esta, pois, é minha história. Acabo de relê-la. Tem pedaços de medula ainda presos a seus ossos, e sangue, e belas e reluzentes moscas verdes."

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Bruna Sousa 09/04/2020

Pedofilia não romantizada
O livro famoso, narrado em primeira pessoa, é o diário de um quarentão, Humbert, professor universitário da França, que se apaixona por uma menina de 12 anos, Dolores Haze, ou Dolly, ou Lolita. O tema tratado no livro é, inegavelmente, forte. Um homem de 37 anos contando sua história com uma menina, a quem conhece quando viaja para os EUA. Sim, o livro suscita pedofilia. Sua paixão pela pré-adolescente nos é apresentada por um narrador persuasivo e extremamente manipulador. É daqueles personagens não confiáveis, que sabemos que está manipulando os fatos e tentando nos seduzir com sua linguagem rebuscada, bonita e cheia de floreios. Mas Nabokov deixou pistas sutis e quase subliminares de sua crueldade. Tem aquela arrogância de psicopatas. É um pedófilo, estuprador e sequestrador, que está sempre tentando nos convencer do contrário. Logo no primeiro trecho do livro já percebemos isso. Humbert nos fala como se estivesse de frente a um júri, o que acabamos sendo realmente, tendo em vista que como leitores julgaremos as ações no desenrolar da narração. Humbert tenta nos convencer que tudo é justificado por conta do "amor" que ele nutriu por Lolita.
Confesso que o asco toma conta durante vários momentos da leitura. Se quiseres realmente ler, tens que ter em mente isso. Para quem não conhece o autor, adianto que Nabokov é um escritor genial. Falar de sentimentos, descrever sentimentos é algo, extremamente, difícil e complicado, mas que ele faz com uma fluidez e leveza impressionantes. Porém, não podemos esquecer que apesar da maravilhosa escrita, estamos acompanhando a história sendo contada a partir da mente doentia do pedófilo Humbert. Há momentos que fica meio impossível de ler. O livro não é fácil, pela temática, e pela forma rebuscada da escrita. Terminei de ler com repulsa pelo criminoso e deslumbre pela genialidade do autor.
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“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, ao três, nos dentes. Lo. Li. Ta.”


site: Cinéfila Leitora: https://www.instagram.com/cinefilaleitora/
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sasasoriano 30/05/2021

Mediano
esse livro é bem complicado em muitos aspectos.precisa de bastante maturidade pra ler,eu mesma fiquei absmada com o tanto que ele é obcecado pela lô...
a cabeça dele é completamente doentia.na mente dele ela provoca a cada instante,sendo que não é assim.
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Lili Costa 08/07/2020

Senhoras e senhores do júri...
"[...] Ah, e havia ocasiões em que sabia o que sentias, e era um inferno sabê-lo."


Lolita não é um romance, não há como romantizar toda a desgraça vivenciada por Dolores Haze nas mãos da única pessoa que restara na sua vida, seu padrasto. São anos de violações, pressão psicológica, ameaças, medos...


"Compreendem, ela não tinha absolutamente lugar nenhum para onde ir."


Lolita é um relato muito bem escrito de um pedófilo demasiado inteligente que durante a narração deixa claro que tem consciência da sua natureza pútrida. H.H descreve em parágrafos poético o seu" relacionamento" doentio com a sua enteada de 12 anos. Ao longo dos capítulos, ocupamos uma das cadeiras no julgamento do padrasto da Lolita. Humbert não mente, ele confunde o leitor. Ele não é confiável. Em segundos, estamos envolvidos em suas teias mescladas numa inteligência invejável de um sociopata.


"No fim de contas, Dante apaixonou-se loucamente por Beatriz quando ela tinha nove anos e era uma cintilante garota pintada, encantadora e coberta de jóias, de comprido vestido escarlate - e isto passou-se em 1274, em Florença, numa festa particular efetuada no alegre mês de Maio. E, quando Petrarca se apaixonou perdidamente pela sua Laura, ela era uma loura ninfeta de doze anos a correr ao vento, entre pólen e poeira, uma flor em fuga, na bela planície vista dos montes de Vaucluse e descrita pelo poeta."


Por várias vezes fiquei enojada com as situações detalhadas em pormenores por H.H. Foram necessárias algumas pausas prolongadas para conseguir então concluir a leitura.


Dolores teve a infeliz sorte de encontrar não um, mas dois demônios pelo percurso da vida. Tais violadores camuflados quer seja por sua inteligência ou pelo prestígio profissional como H.H e Claire Quilty, estão por entre nós. Terminei a leitura exausta, sentia-me claustrofóbica.


Dolores, foste vítima de um pedófilo sociopata indiscutivelmente inteligente que sugou os melhores anos da sua vida.


Vladimir Nabokov escreve muitíssimo bem tendo em vista o tema abordado. Não é qualquer um que consegue escrever um livro com uma carga emocional tão forte e deixar o leitor em estado de estupefação após a leitura.


Sim, estive presente no julgamento de Humbert Humbert.
E quanto a declarar se este é inocente ou culpado é uma opinião particular, peculiar.
Tens que escolher um das cadeiras naquele tribunal, ouça tudo.
Certamente no final terás uma resposta.


[...] e ela chorava nos meus braços - uma salutar tempestade de soluços depois de um dos acessos de melancolia que se tinham tornado tão frequentes nela, no decorrer daquele ano noutros aspectos admirável."
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Aelita Lear 27/12/2020

Achei que seria super polêmico,
Mas foi só chato mesmo. Achei bem nada a ver esse livro, até entendo que ele é um clássico e na época que foi escrito pode ter tido seu valor. Mas hoje em dia... Ficou bem obsoleto e nada a ver. Preferi bem mais o Minha Sombria Vanessa, embora ele tenha sido baseado nesse, o desenvolvimento e o envolvimento com a história foi bem maior!
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Thami 08/06/2020

Surpreendente
Narrativa poética do Nabokov nesse romance dramalhão que dentre muitos outros temas, trata a pedofilia de maneira única.
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Renata CCS 27/09/2016

Dolores, Dolly, Lo, Lola, Lolita.
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“Pela manhã ela era Lo, não mais que Lo, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.” (p.11)

Por muito tempo fiquei apenas na vontade de ler LOLITA. A sinopse não é das mais agradáveis, leitores se dividem em opiniões controversas, e a obra não tem qualquer finalidade moralista latente. Sim, é um livro que traz uma proposta polêmica: a relação de um homem de meia idade, Humbert, com uma menina de 12 anos, Lolita.

O livro é narrado em primeira pessoa por Humbert. Envolvente e muito irônico em diversas situações, ele tem plena consciência da pedofilia que comete, chegando a admitir, em diversos momentos, que foi ele o culpado por arruinar a vida da enteada. Assim como Nabokov, Humbert é um europeu residente nos EUA, e retrata o modo de vida norte-americano com muita ironia, fazendo troça das pessoas, zombando de comportamentos e situações. Isso sem mencionar as vezes que ele caçoa dele próprio. Faz uso de uma narrativa bem-humorada, e isso, sem dúvida, somou vários pontos a favor da obra.

A relação entre os dois protagonistas nada moralistas é o ponto fortíssimo do livro, que muito aguça - ou distancia - o interesse dos leitores pela obra. O romance de Nabokov ganha atenção por sua ousadia de falar de um assunto que é um tremendo tabu, e exatamente por isso, evitado pelas pessoas. Mas o livro não é apenas uma história de paixão obsessiva e ruína: é também um painel dos EUA revisitado, é uma brilhante utilização da linguagem e suas nuances, e é uma mostra perfeita de como a linguagem pode ser elevada à categoria de arte.

Você deve estar se perguntando o porquê de três estrelas depois de tantos adjetivos. Difícil explicar tantos sentimentos contraditórios a respeito do livro. Antes de mais nada, gostaria de registrar que detesto Humbert. Também não gosto de Lolita. Não gosto de Charlotte e tampouco de Quilty. Resumidamente, não gosto de ninguém daquela história. Mas gosto de Nabokov. De todo modo – e falando francamente – gostar ou não dos personagens simplesmente não tem relação alguma com a qualidade do livro, mas, talvez, tenha a ver com o que colocaria aqui como a minha relação pessoal com a qualidade da leitura: aquela ligação rápida e geralmente prazerosa com a obra, entendendo, ao menos, algumas das motivações do protagonista. No caso de LOLITA, isso não foi possível. Resquícios (ou culpa?) das minhas leituras da juventude? Talvez...

Um outro ponto que me desagradou foi seu ritmo. Nabokov arrasta demais a narrativa, parecendo não querer se deparar com o final da história. Achei muito cansativo os trechos das longas viagens, e nem mesmo a prosa poética do autor ajudou em determinados momentos que, para mim, seguiram um tanto arrastados.

A meu ver, o grande problema é que o romance é narrado apenas por Humbert: ele está no comando da história, selecionando o que será revelado, quando e como será contado. Humbert é um ser desprezível que atravessa o livro todo explorando uma criança. Ele é arrogante e doente, e passa parte da história tentando justificar suas ações. É irônico o contraste entre o Humbert narrador e o Humbert personagem. Enquanto o primeiro se enxerga como uma pessoa inteligente, sensata e irresistível para as mulheres, o segundo não passa de um velhaco asqueroso e covarde. Ele é ridículo, e Lolita sabe perfeitamente disso.

E nós, os leitores, ficamos resignados ao papel de voyeur, completamente à mercê de Humbert, assim como a própria Lolita. Humbert faz questão de romancear seu relato com ímpetos de lirismo calculado para seduzir o leitor. E mesmo em se tratando de um crime horrendo, ele consegue colocar a sua paixão num patamar acima do que o crime que ela representou. A todo momento ele quer romantizar o que faz, culpando a vítima por seus atos. É o discurso do pedófilo. Não é o sexo que corrompe Lolita: é Humbert colocando-a como um objeto de seu desejo que a arruína e desumaniza. A meu ver, fora do olhar doentio de Humbert, não há ninfeta alguma. A ninfeta Lolita só existe através do obcecado Humbert.

A questão é que, o que chamo de incômodo no romance é justamente o que também representa a genialidade do autor. É que ele nos coloca, com sua narrativa convincente e tendenciosa, o amor acima de tudo, fazendo com que algo tão abominável aparente ser, ao mesmo tempo, um discurso convincente de homem apaixonado. É neste momento que uma angustiante desordem de sentimentos parece desafiar o leitor e o romance mostra-se dos mais desconcertantes, mas não menos cativante. É genial! E Nabokov muito faz uso desse recurso: a obsessão do protagonista é, simultaneamente, sua destruição e seu álibi – se é que pode existir um. Mas é essa a grande energia da narrativa, pois consegue nos lançar em uma profusão de sentimentos contraditórios e embaraçosos, e ao mesmo tempo, envolventes e instigantes. Sim, são páginas muito difíceis de digerir, mas há uma recompensa intelectual para quem conseguir ultrapassar a barreira do desconforto.

LOLITA é um livro maravilhosamente bem escrito. Ele trata de um tema terrível: a pedofilia, mas limitar-se a este argumento para repudiar o livro é absurdo. Também é absurdo alguém ver o livro como uma história de amor, principalmente por causa do final, quando Humbert se arrepende. Arrependimento que não tem nada de convincente, pois ele passa mais de 400 páginas narrando o abuso de uma menina, buscando nos convencer como isso é perfeitamente natural, então não é um parágrafo do suposto arrependimento no remate do livro que o torna uma história de amor.

Sim, é possível gostar do livro sem gostar dos personagens. E mais ainda: sem endossar a pedofilia. Não me apaixonei pela leitura, mas também não me arrependo de tê-lo lido. Portanto, recomendo que você leia LOLITA. Leia para entender o que eu estou tentando explicar e o que todas as pessoas que leram vivem tentando explicar. LOLITA é um romance fora da lei, condenável e, mesmo assim, sedutor.

Vale a cada um ter a sua própria perspectiva.
Hester1 27/09/2016minha estante
Este livro está desde sempre em minha listinha, e desde sempre vou protelando.


Natalie Lagedo 18/10/2016minha estante
Gostei MUITO da sua resenha. Em breve tirarei minhas conclusões sobre Lolita.


Isabelle.Lima 02/02/2017minha estante
Resenha muito bem escrita. Apenas um adendo: Não é mesmo pra gostar de Lolita, até pq ela aparece sob a ótica de Humbert apenas, jamais saberemos como ela é realmente, já que sua personaliodade foi descrita por um louco que tende a parcialidade.




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