spoiler visualizarEuriano 09/12/2021
Chamados para Criar
Na igreja frequentemente ouvimos que Deus é amoroso, santo, onipotente, soberano, justo, misericordioso e fiel. Mas raramente ouvimos, se é que ouvimos, que Deus é empreendedor. Contudo, como King sugerira, essa é a primeira característica revelada sobre Deus na Bíblia.
?No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. Disse Deus: Haja luz. E houve luz? (Gn 1.1-3). Se você é como eu, você leu essa passagem tantas vezes que pode ser fácil perder de vista a magnitude do que está acontecendo aqui. No princípio, ?a terra era sem forma e vazia? (v. 2). Só quando Deus tomou a iniciativa que o vazio sem forma começou a se preencher. Deus criou algo do nada. Ele trouxe ordem para o caos. Deus foi o primeiro empreendedor.
O CUSTO DA CRIAÇÃO
Finalmente, embora Deus claramente tenha criado algo novo para o bem dos outros, o Deus onipotente realmente se arriscou quando ele criou? Como o pastor Timothy Keller4 compartilhou com um grupo de empreendedores cristãos:
Vocês podem perceber os riscos e os custos desde o princípio. Deus fez o mundo cheio de seres humanos à sua imagem, seres humanos com livre-arbítrio. Então, Deus fez o mundo sabendo que iria custar para ele. Sabendo o que iríamos fazer. Sabendo que o Filho [dele] viria ao mundo e passaria pelo que passou.5
Uma das características mais essenciais para o empreendedorismo é o risco. Quando rearranjamos a criação de um jeito diferente para trazer à luz algo novo, há uma tremenda quantidade de incerteza. Não somos oniscientes e assim não sabemos se nossas criações vão dar certo ou não. Mas Deus é onisciente. Ele realmente sabe de tudo. Quando Deus criou a humanidade, ele sabia exatamente quais os riscos ele estava tomando e, mesmo assim, ele criou por um desejo de compartilhar seu amor conosco.
O AGIR DO ESPÍRITO CRIATIVO
Depois dessas coisas, o SENHOR disse a Moisés: Eu designei Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, dando-lhe sabedoria, entendimento e habilidade em toda atividade artística, para criar obras artísticas e trabalhar em ouro, prata e bronze, para lavrar pedras de engaste e fazer entalhe em madeira, enfim, para trabalhar em toda atividade artística. (Êxodo 31.1-5)
Bezalel era empreendedor e artista, sendo comissionado pelo próprio Deus. Mas, antes de Bezalel começar o trabalho de reorganizar a matéria-prima de ouro, prata, bronze, pedra e madeira para criar algo novo, Deus teve de enchê-lo com seu Espírito. Por quê? Porque Deus é o Primeiro Empreendedor e a fonte de toda criatividade e engenhosidade. A fim de Bezalel criar o tabernáculo do Senhor, ele precisa mais da semelhança de Deus.
O CARPINTEIRO
Quase quinhentos anos depois de Bezalel usar suas habilidades concedidas por Deus para criar a habitação de Deus, o próprio Deus veio à terra como humano e gastou 85% de sua vida profissional utilizando competências semelhantes as de Bezalel para administrar uma pequena empresa.
A Bíblia nos dá poucos detalhes da vida de Jesus entre as idades de doze e trinta anos, quando iniciou seu ministério público. Uma das únicas coisas que a Escritura observa sobre esse importante período de tempo é que ele era conhecido em sua comunidade por seu trabalho como carpinteiro (Marcos 6.3). Isso é impressionante! A única coisa que a Bíblia nos diz sobre o que Jesus estava fazendo durante metade de sua vida era trabalhar. Mas Jesus não estava fazendo qualquer trabalho; ele estava fazendo um trabalho criativo, de empreendedor, revelando para nós essa importante característica de seu Pai e, na verdade, de toda a Trindade.
Poderia ter sido importante para o Messias ? como para o profeta Samuel e João Batista ? crescer numa família de linhagem sacerdotal. Ele poderia dedicar dias à oração e ao estudo da Escritura bem como ter acesso diário aos arredores do templo. Ou talvez o Messias poderia ter sido criado numa família farisaica, como o apóstolo Paulo.11
Mas Deus não escolheu colocar Jesus numa família sacerdotal ou farisaica. Jesus foi colocado numa família que era dona de uma pequena empresa, onde por vinte anos ele revelaria o caráter de Deus (o caráter dele) como empreendedor, criando coisas novas para o bem dos outros.
CO-CRIADORES
O que Deus criou em seis dias é impressionante. Mas é igualmente surpreendente o que ele não criou. Ele criou animais, mas não lhes deu nomes. Ele criou terra, mas não criou sistemas de irrigação. Ele criou estrelas, mas não criou um app de iPhone que nos permite apontar um computador que cabe no seu bolso para elas e ver no céu seus nomes. Depois de trabalhar por seis dias, Deus deixou a terra bem subdesenvolvida e sem cultivo. Ele criou uma tela e então nos chama a preenchê-la junto com ele. Vamos voltar a Gênesis 1 com a criação final de Deus no sexto dia: ?E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou? (Gn 1.27). A característica dominante que Deus revelou sobre si até esse ponto na Escritura é que ele é Criador. Então, quando os seres humanos são criados ?à sua imagem? a implicação lógica é que eles serão caracterizados pela criatividade de seu Criador.
PORQUE OS CRISTÃOS NÃO SÃO EMPREENDEDORES?
sabendo o que sabemos do caráter criativo de Deus, por que tão poucos cristãos se sentem chamados a imitar o seu Criador? A ideia de que o trabalho dos empreendedores é um ?chamado? de Deus é contraintuitivo para muitos. Mas não é só o trabalho criativo e empreendedor que os cristãos não se sentem chamados a fazer, mas o trabalho ?secular? em geral. Um estudo de 2013 feito pelo Grupo Barna descobriu que apenas um terço dos cristãos americanos ?se sentem chamados a fazer o seu trabalho atual.?2 Os americanos trabalham em média quarenta e sete horas semanais, isso significa que os cristãos americanos gastam cerca de 40% das horas que estão acordados fazendo um trabalho no qual não veem significado eterno.3 Que pena!
O PARAÍSO ERA LOCAL DE TRABALHO
Em Gênesis 2.15, aprendemos que ?o Senhor Deus tomou o homem e o colocou no jardim do Éden, para que o homem o cultivasse e guardasse.? A palavra hebraica traduzida como ?colocar? (wayyannihehu) neste versículo não significa simplesmente rearranjar a disposição de um objeto. A palavra conota descanso e segurança bem como dedicação na presença de Deus. Deus colocou o homem especificamente no jardim para que ele pudesse estar seguro e descansar, e onde ele poderia ter comunhão com Deus. A responsabilidade primária da humanidade ali era adorar e obedecer a Deus. Adão serviu ? e assim adorou a Deus ? por meio do seu trabalho. O trabalho é uma boa dádiva de Deus, não um castigo pelo pecado.
Na outra extremidade da história, a Bíblia nos ensina que o trabalho também será um componente central da vida no céu. Em Apocalipse 22.3, aprendemos que ?[os] servos [de Deus] o servirão? no céu. Serviço é ativo, não passivo. Envolve gastar energia e executar tarefas. Ao contrário da caricatura do céu como um asilo de velhinhos glorificados, a Bíblia ensina que vamos continuar a trabalhar por toda a eternidade, servindo a Deus com nossos dons únicos.
?Eu sinto dentro de mim a vida futura. Eu certamente subirei aos céus. Quanto mais perto chego do fim, mais claro está o som das sinfonias imortais dos mundos que me convidam. Por meio século eu tenho escrito meus pensamentos em prosa e verso; história, filosofia, drama, romance, tradição, sátira, odes e músicas; todos esses experimentei. Mas eu sinto que ainda não expressei um centésimo do que há em mim. Quando chegar à cova, eu posso dizer como outros ?terminei o meu dia de trabalho.? Mas não posso dizer ?terminei a minha vida.? O meu dia de trabalho vai começar novamente na próxima manhã. A tumba não é um beco sem saída; é uma travessia. Ela se fecha ao crepúsculo, mas se abre à alvorada..? Victor Hugo (Os Miseráveis)
O CHAMADO DE DEUS
Há uma ideia bem disseminada de que há uma hierarquia de chamados para os cristãos. Ela está desalinhada com a Escritura e boa parte da história da igreja. Martinho Lutero, João Calvino e outros líderes da Reforma protestante do século 16 argumentaram que qualquer trabalho, até o trabalho ?secular?, é um chamado de Deus, tanto quanto o trabalho de pastor ou padre.14 Nas palavras do artista da DC Comics, Dave Gibbons: ?O maior chamado não é ser pastor, mas se tornar o que Deus te chamou para ser, a saber, uma pessoa que glorifica a Deus em tudo que faz.?
A ESCOLHA DA PROFISSÃO
Quando estamos descobrindo a nossa profissão, quase todas as perguntas tratam mais de servir a nós do que a Deus e aos outros. A pergunta é: ?Qual profissão me trará maior respeito e adoração? Qual profissão me ajudará a acumular mais riqueza no menor tempo possível? Qual profissão me dará maior liberdade e flexibilidade??
Com questões como essas, não é surpresa que um número recorde de pessoas esteja escolhendo o caminho do empreendedorismo, que promete popularidade, riquezas e relativa liberdade.2 O fato de que todas essas três coisas se resumem à nossa identidade não é surpresa. Para os americanos, quase nada molda tanto a nossa identidade quanto a profissão que escolhemos. É por isso que ?você trabalha com o quê?? é a primeira pergunta que fazemos quando conhecemos alguém. As nossas identidades se interligam de tal forma ao darmos essa resposta que pode parecer impossível não escolher uma profissão unicamente pela imagem que ela passará ao resto das pessoas. Mas, como cristãos, a nossa identidade já está definida. Como 1João 3.1 nos lembra: ?Vede que grande amor o Pai nos tem concedido, o de sermos chamados filhos de Deus, o que realmente somos.? Não somos o que dizemos quando nos apresentamos numa festa. Somos filhos de Deus. Por causa do evangelho ?o nosso trabalho se torna a expressão da nossa identidade, e não a sua fonte.?
Escolher a carreira de empreendedor, é claro, não é inerentemente ruim. Mas, se o nosso trabalho deve ser mais que um emprego ? se deve ser um chamado para a nossa vida ?, então precisamos nos perguntar não qual profissão vai melhorar nossa autoimagem, mas qual que melhor vai servir àquele que nos chamou para criar. Os empreendedores que eu entrevistei para este livro tendem fazer três excelentes perguntas ao discernir o chamado de Deus para as suas vidas:
1. Qual é a minha paixão?
2. Quais dons Deus me deu?
3. Onde eu tenho a maior oportunidade de amar ao próximo?
Tim Keller afirma que se escolhermos um trabalho que não podemos fazer bem, refletimos mal a Deus, cujo caráter fomos chamados a refletir para o mundo. Da mesma forma, a fim de amar ao próximo por meio do nosso trabalho, precisamos ser competentes na área em que escolhemos.
?A empregada que limpa o chão faz a vontade de Deus, tanto quanto o monge que ora ? não porque ela canta um hino cristão enquanto varre, mas porque Deus ama um chão limpo. O sapateiro cristão faz o seu dever não ao colocar pequenas cruzes nos sapatos, mas fazendo bons sapatos, porque Deus valoriza trabalho de qualidade.? Essa citação, frequentemente atribuída a Martinho Lutero, ilustra bem o ministério de competência, especialmente quando se lembra de que ?a doutrina de Lutero da vocação insiste no fato de que o trabalho é feito a serviço do próximo e do mundo. Deus gosta de sapatos (e sapatos bons!) não por eles mesmos, mas porque o seu próximo precisa de sapatos.?10 Uma das formas primárias de demonstrar amor ao próximo é fazendo o trabalho que temos o dom para fazer.
CRIANDO PARA QUEM?
Criar uma torre ou um parque temático não é inerentemente ruim. Torres e parques temáticos podem e vão revelar o caráter de Deus e o amor ao próximo. Mas, quando criamos algo com a motivação de fazer um nome para nós ou ?deixar a nossa marca? no mundo, nós, como Walt Disney e os babilônios, estamos tentando roubar Deus da glória que é dele por direito. Como o pastor John Piper diz, comentando nesta passagem em Gênesis 11: ?a vontade de Deus para os seres humanos não é que encontremos a nossa alegria em sermos louvados, mas encontremos a nossa alegria em conhecê-lo e louvá-lo.?
Seguir o chamado para criar significa que não mais trabalhamos para fazer um nome para nós; trabalhamos para a glória daquele que nos chamou. Nas palavras do apóstolo Paulo, ?portanto, seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.?
Timothy Keller diz o seguinte: ?se você amar qualquer coisa no mundo mais do que a Deus, você vai esmagar esse objeto sob o peso de suas expectativas.?
?Todo mundo fica te dizendo que você precisa ter uma conta no Twitter, que você precisa ter uma marca, que você precisa ter um blog. Deus pode usar essas coisas como instrumento para os propósitos dele, mas podemos ficar tão envolvidos pensando no nosso nome que esquecemos a razão de estarmos criando: exaltar o nome dele. Precisamos estar dispostos a assumir o papel a que Deus nos chamou, não importa se esse papel jamais será visto, ou mesmo anunciado no Twitter ou citado no Wall Street Journal. O objetivo final não é ganhar créditos com as pessoas, mas ser parte do que o Criador ordenou.? Hannah Brencher
Se criamos para fazer um nome para nós mesmos, nunca estaremos satisfeitos. Nunca sentiremos como se nosso trabalho fosse mais que um emprego, um verdadeiro chamado nas nossas vidas. E, inevitavelmente, vamos destruir as nossas vidas e a dos nossos entes queridos. Mas se, como Bach, virmos o nosso criar como um meio de revelar o caráter de Deus e amar ao próximo, então teremos a ambição apropriada para escrever, trabalhar e criar como se nosso tempo estivesse acabando ? porque, na verdade, ele está acabando!
EMPRESAS QUE FAZEM A DIFERENÇA
É bem comum que empreendedores cristãos comecem um empreendimento sem pensar profundamente sobre como a sua fé impactaria toda a estrutura de sua empresa. No lugar disso, eles transformam todos os ?T? da logo em cruzes, enfiam um versículo bíblico nas suas embalagens ou patrocinam alguma ação social. Nada disso é necessariamente errado, mas nada fará sentido se não for acompanhado por uma integração mais profunda e holística do evangelho com toda a estrutura da empresa.
Cervejaria Guinnnes: na época, sec XVII, as pessoas não consumiam água pois não era potável e causava doenças. A Europa consumia muita bebida com álcool e as pessoa estavam viciadas. Arthur Guinnes criou então uma Bebida que tivesse um valor proteico e com baixo teor alcoólico, evitando assim a embriaguez do povo europeu.
Forever 21: imprime Joao 3:16 em suas sacolas, mas na prática não é tão cristã. Paga mal seus funcionários e roubam direitos autorias de peças.
In-N-Out Burguer: também imprimem versículos nas embalagens, mas é uma ótima empresa pra trabalhar. Promove o crescimento do Funcionario, que atendem bem os clientes.
O evangelho tem o poder de mudar tudo, inclusive como criamos. Como a In-N-Out Burger e outras organizações semelhantes nos mostram, duas das melhores maneiras de integrar profundamente a nossa fé e como o nosso negócio funciona é buscar excelência em tudo que fazemos e priorizar as pessoas acima do lucro.
Filmes, livros e várias capas de revista que celebram empreendedores como Jobs e Musk criaram uma caricatura do empreendedor ideal que prioriza produto, processo e lucro acima de pessoas. Nessa forma de pensar, as pessoas são insignificantes ? partes substituíveis, que estão ali apenas para maximizar a produtividade ou serem logo ?descartadas?. Nesse cenário, talvez não haja forma mais clara de cristãos se separarem do mundo do que priorizar as pessoas acima do lucro e de qualquer outra coisa.
?Não se esqueça de que, no reino de Deus, são as pessoas ? vidas redimidas ? que são a obra-prima. É isso que importa para Deus, ao longo de toda a sua história. São vidas redimidas que Deus chama de seu tesouro. Então, nos conflitos previsíveis entre pessoas e produtos, as pessoas precisam ganhar sempre. Deixe as coisas partirem. Não importa, não dá para comparar. São pessoas, afinal.? Pr. Jerry King
CONFIA NO SENHOR
Mas, como Salomão compartilha em Provérbios 16, há uma sequência em confiar e se esforçar que honra ao Senhor e nos dá maior descanso. Em Provérbios 16.3, o homem mais sábio que já existiu ordena: ?Entrega tuas obras ao SENHOR, e teus planos serão bem-sucedidos.? Então, antes de nos esforçarmos, nós entregamos o nosso trabalho ao Senhor. É um ato de fé, reconhecendo que é somente Deus quem produz os resultados. Em seguida, no versículo 9, Salomão exorta a nos esforçarmos: ?O coração do homem planeja seu caminho, mas o SENHOR lhe dirige os passos.? Sim, Deus nos chamou a confiarmos nele, mas ele nos deu graciosamente mentes para planejar e executar. Depois de entregarmos os nossos trabalhos ao Senhor, somos chamados a correr. Essa é a hora de reunir, planejar, fazer o design, desenvolver, pintar, inovar, escrever, marquetear e vender. Finalmente, no versículo final deste capítulo, Salomão escreve: ?A sorte se lança no colo, mas do SENHOR procede toda a decisão? (16.33). Se confiarmos no Senhor para produzir os resultados, e depois nos esforçarmos obedientemente, fazendo o nosso melhor com nossos talentos dados por Deus para concretizar a nossa visão, ?a sorte se lança? e podemos experimentar descanso verdadeiro, sabendo que não somos.
EXAMEM/MAPA
Esses retiros sabáticos anuais levaram Lin a valorizar o descanso e incorporar mini-momentos sabáticos na sua rotina diária por meio do antigo método litúrgico advogado por Santo Inácio chamado examen. Lin explicou: ?Examen é simplesmente o ato de rever o seu dia mentalmente para ver onde Deus apareceu. A cada noite, eu relembro todo o meu dia e tento reconhecer onde estava o mover de Deus, onde ele estava claramente presente, onde ele estava particularmente ativo. Quando tudo está realmente bem na EllieFunDay, esse processo me ajuda a reconhecer que é Deus, e não eu, que está produzindo riqueza e sucesso. Isso me lembra de que eu não estou no controle, nem sou a responsável final por fazer esse negócio dar certo. E isso me dá um profundo descanso.?
FALTA VULNERABILIDADE
Esse é um problema disseminado na igreja, não só entre os que são chamados para criar. Vamos à igreja no domingo, esboçamos uma cara feliz e torcemos para que não precisemos passar de conversas superficiais. ?E aí, tudo bem? Eu amei a foto que você postou no Instagram! Você viu o jogo ontem?? Ao invés de tratar os outros na igreja como irmãos e irmãs em Cristo, nós temos conversas que não são mais profundas do que com um garçom conhecido no nosso restaurante favorito. Enquanto isso, os nossos casamentos vão a passos largos a caminho da ruína, somos viciados em sermos admirados nas redes sociais por pessoas com as quais nem nos importamos, e todos carregamos o peso de diversos pecados ocultos.
Nós tratamos o evangelho como um ?seguro contra incêndio?, muito bom para nos deixar longe do inferno, e só. Na verdade, o evangelho é a única coisa que nos permitirá lutas e fracassos com verdadeira paz.
As provações que você e eu encaramos pessoal e profissionalmente certamente não podem se comparar a de Spafford. Mas a nossa fonte de esperança é a mesma. Se você está atrasado no lançamento de seu último produto, se você perder o seu maior cliente, se a sua arte não vende, até se a sua empresa falir, você pode olhar para cruz como Spafford e dizer: ?sou feliz com Jesus.? Romanos 8.28 nos lembra de que: ?Sabemos que Deus faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam, dos que são chamados segundo o seu propósito.? Para aqueles chamados para criar, fracasso e adversidade são inevitáveis. Mas nós, como Spafford, temos esperança de que Deus está fazendo tudo cooperar para glória dele e nosso bem.
*Spafford perdeu as 4 filhas em um acidente de navio.
DEPENDÊNCIA DE DEUS E COMUNHÃO COM OS IRMÃOS
?Somos tentados a depender demais desses clientes?, disse Kristin Joy. ?Havia um cliente da nossa empresa em especial que muitas vezes temíamos perder. Nós nos perguntávamos ansiosamente: ?Eles estão bem? Eles gostaram do último vídeo que produzimos para eles? Há uma chance de eles nos trocarem por outra empresa?? Nesses momentos que nos vemos escravizados emocionalmente a um cliente em particular, Tim e eu renovamos as mentes um do outro, nos lembrando de que, embora gostássemos do nosso cliente, eles são apenas um instrumento nas mãos do Senhor. É o Senhor agindo por meio deles. É ele que trabalhou para nos dar esse cliente, para começo de conversa. Se soubermos que, mesmo dando o nosso melhor, ainda perdemos esse cliente, ainda é da vontade de Deus. O Senhor o deu e o Senhor o tirou. Essa verdade nos faz descansar e abandonar a necessidade de depender emocional ou espiritualmente de um cliente em específico. Tanto Tim quanto eu podemos esquecer facilmente de verdades como essas. É por isso que somos sócios: para lembrar um ao outro das promessas de Deus.?
Sem comunhão constante com outros crentes para recuperar sua perspectiva eterna, Tolkien poderia nunca ter finalizado O Senhor dos Anéis e Lewis nunca teria terminado As crônicas de Nárnia. Ao criarmos neste mundo, precisamos de comunhão regular com nossos irmãos e irmãs em Cristo para renovar nossas mentes e recuperar as lentes pelas quais vemos o mundo.
O CHAMADO DE DEUS PRA NÓS
Contrariamente aos desejos dos muitos cristãos, Deus não nos dá respostas mais claras às questões mais importantes da vida: qual profissão, com quem se casar, que universidade cursar e assim por diante. Boa parte da vida cristã é um processo de buscar a Deus e discernir a usa vontade. Mas, enquanto Deus nos dá a liberdade de discernir o seu chamado em muitas áreas da vida, há outras áreas em que a Bíblia claramente nos ordena a agir. Um desses mandamentos está nas palavras finais de Jesus para seus discípulos antes de ascender aos céus: ?Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo; ensinando-lhes a obedecer a todas as coisas que vos ordenei; e eu estou convosco todos os dias, até o final dos tempos? (Mt 28.18-20).
?Ide? não é um mandamento, [Jesus] não está mandando eles irem, mas sim dizendo: ?Uma vez que vocês foram [...] transformem os homens em discípulos!? A palavra ?ide? literalmente significa ?tendo ido?. A parte de ir é presumida. Em outras palavras, Jesus está encerrando o encontro deles naquela colina da Galileia e está dizendo: ?Tendo ido embora daqui, quando vocês forem, transformem os homens em discípulos.? ?Ide? não é o mandamento. Se fosse, então o próprio Jesus não teria cumprido a Grande Comissão ao pé da letra. Para não ter chance de ser herético, ouça-me de novo: ?ide? não é o mandamento. Jesus não viajou mais de 350 quilômetros da sua cidade natal e ele mesmo assim nos diz para fazer discípulos de todas nações. E ele ainda é o maior discipulador da história. Não se trata de quão distante ele foi. Trata-se de o que ele fez enquanto estava indo. O mesmo é verdade para você e para mim.
O DISCIPULADO
Paulo entendia algo que nós não entendemos hoje: o discipulado começa antes da pessoa se tornar cristã. É muito comum atualmente considerarmos o discipulado simplesmente como os processos pelos quais cristãos se tornam mais parecidos com Cristo: você faz a ?oração de deixar Jesus entrar no seu coração?, dá o seu contato para alguém na igreja e logo recebe o convite para ?ser discipulado? por um crente mais maduro. Não parece que era assim o discipulado de Jesus. Na sua primeira conversa com os apóstolos, ele disse: ?Vinde a mim, e eu vos farei pescadores de homens.? Ainda levaria três anos antes dos apóstolos terem a experiência de ?conversão? deles, mas Jesus estava lhes discipulando desde o início, investindo intencionalmente nesses homens com o propósito de torná-los mais parecidos com ele. Paulo, ?chamado para ser um apóstolo de Cristo Jesus?, entendeu o modelo de Jesus para o discipulado e usou seu negócio de fazer tendas para este fim, primeiro amando as pessoas, depois falando sobre o evangelho e finalmente ensinando a Palavra.
Depois da experiência dramática de conversão na estrada para Damasco, os seus contemporâneos teriam entendido se ele abandonasse seu negócio de tendas para espalhar o evangelho como missionário de tempo integral, remunerado por doações. Como 1Coríntios 9 nos mostra, isso certamente era uma opção para Paulo, mas ele escolher criar discípulos enquanto ele ia pelo seu trabalho como empreendedor.
Que forma melhor de as pessoas verem o seu caráter o tempo todo senão ao você trabalhar ao lado delas? Isso é certamente uma das razões primárias pelas quais Paulo escolheu trabalhar com tendas.
O apóstolo Paulo nos fornece um modelo para seguirmos à medida que buscamos criar discípulos por meio do nosso empreendedorismo, vivendo o evangelho ao amar as pessoas e construindo relacionamentos genuínos, falando o evangelho com palavras e ensinando a Palavra a outros crentes para que eles possam se tornar mais parecidos com Cristo. Mas como fazer isso hoje na vida daqueles chamados para criar?
Os três empreendedores a seguir nos dão ótimos exemplos.
Dennis Hardiman: Quando amamos as pessoas que nos cercam em nossas empresas, seja funcionários, clientes ou sócios, construímos intimidade e confiança. Em relacionamentos assim, falar sobre as boas novas de Jesus Cristo é simplesmente uma extensão natural de nosso cuidado genuíno.
Ron e Dan Marshall: A fim de produzir mais fruto na criação de discípulos nas nossas empresas, precisamos primeiro amar as pessoas, tendo interesse sincero nas suas vidas e focando em ?abençoar? em vez de só ?converter?. Somente então construiremos a confiança necessária para falar o evangelho para os que anseiam ouvi-lo.
Alex Clark: Chick-fil-A tem ensinado os seus funcionários a ler as histórias das pessoas ao seu redor por décadas. Os franquiados da empresa (conhecidos como operadores) levam a sério o trabalho de ensinar aos seus funcionários, na maioria ainda adolescentes, a como cuidar e amar as pessoas. Mesmo que não percebam, elas estão aprendendo a serem mais parecidas com Cristo. Os operadores que fazem isso intencionalmente estão usando os seus negócios para criar discípulos, seguindo o exemplo do fundador do Chick-fil-A, Truett Cathy.
LUCRO
Se nós acreditarmos que somos responsáveis por nosso sucesso ? que somos nós quem gera riqueza ? então é perfeitamente lógico concluir que o lucro é uma forma de nos recompensar. Se eu gerei os lucros, eu sou dono dos lucros e, assim, sou livre para gastá-los do jeito que eu escolher, quer seja comprando um iate, viajando o mundo ou me aposentando cedo. Mas se é Deus quem produz lucros por meio de mim, então ele é dono de tudo e eu sou só um mordomo da riqueza que ele me confiou.
Na Palestina do primeiro século, a pesca era uma forma de prover para a sua família e a sua comunidade de forma simbiótica com a criação?, disse Robbins. ?Era a providência manifesta. Você ia e simplesmente flutuava esperando os resultados aparecerem, de forma que você não poderia reivindicar os créditos. Você simplesmente esperava a abundância chegar. Você iria pescar e levar os peixes para a sua comunidade ? que lhe agradeceria, mas, no final das contas, agradeceria a Deus, já que não era você quem tinha os créditos. No meu trabalho hoje, Deus é o meu colaborador. Eu não tenho créditos pelos lucros que as minhas empresas geram. Então, esses peixes são meus? Na verdade, não. Eu sou a pessoa que conecta os peixes do mar com a vila. Eu sou um mordomo. Os empreendedores são ponte de abundância, de uma abundância que não é nossa. A ideia de ?mérito? é um lixo.
?Se as pessoas são materialistas e não são generosas, isto indica que não compreenderam de fato como Jesus, embora rico, se tornou pobre por causa delas. Indica que não entenderam o que significa o fato de que em Cristo temos todas as riquezas e tesouros. Talvez creiam nessas verdades como doutrina, porém as afeições de seu coração se apagam às coisas materiais, as quais, para elas, são mais excelentes e belas do que o próprio Jesus.? Tim Keller
?Ganhe o máximo que puder. Poupe o máximo que puder. Doe o máximo que puder? John Wesley
O propósito do lucro não é simplesmente doar tudo. Há muitas formas que Deus nos chama para cuidar da abundância com que ele nos abençoou por meio de nossas empresas. Não tem uma resposta única e universal para como utilizar os lucros que você recebeu. Mas, se entendemos que é Deus, e não nós, que produz riqueza, e se captarmos a generosidade que vimos em Cristo, nós não veremos os lucros como um meio de nos glorificar; pelo contrário, vamos ver a nossa abundância como uma oportunidade de glorificar a Deus e amar ao próximo.
NOVO CÉU E NOVA TERRA
Suponha que você vive num abrigo para moradores de rua em Miami. Um dia, você herda uma casa incrível em Santa Barbara, na California, totalmente mobiliada, numa colina fantástica com vista para o mar. Junto com a casa, vem um trabalho maravilhoso fazendo o que você sempre quis. Não só isso, mas você também vai viver perto dos seus parentes mais íntimos que saíram de Miami há muito tempo.
No seu voo para Santa Barbara, você vai trocar de aviões em Denver, onde você vai gastar uma tarde. Alguns outros parentes, que você não via há anos, vão te encontrar no aeroporto de Denver e embarcar no avião com você para Santa Barbara, onde eles herdaram as suas belas casas em outra parte do mesmo bairro. Naturalmente, você está bem ansioso para vê-los. Agora, quando o funcionário do aeroporto de Miami te perguntar para onde você vai, você vai responder ?Denver?? Não. Você vai dizer ?Santa Barbara?, porque esse é o seu destino final. Se você mencionasse Denver, você diria: ?eu vou para Santa Barbara, passando por Denver. Quando você falar para os seus amigos em Miami onde você vai morar, você vai focar em Denver? Não. Você pode mencionar Denver, mas você só vai ficar em Denver por algumas horas. Mesmo se você saísse do aeroporto e gastasse um dia ou até uma semana em Denver, lá não seria o seu foco. Denver é só uma parada ao longo do caminho. O seu destino verdadeiro ? a sua casa definitiva ? está em Santa Barbara.
Da mesma forma, o céu para onde vamos quando morremos, o céu intermediário, é uma habitação temporária. É um lugar maravilhoso e muito confortável (bem melhor que o aeroporto de Denver!), mas ainda é só uma parada até o nosso destino final: os novos céus e a nova terra.
Infelizmente muitos que são chamados para criar veem o céu como um lugar sem cultura, sem nada que criamos nesta vida. A Bíblia simplesmente não ensina isso. A Escritura nos conta que, no mínimo, haverá cidades, portões, rios, casas, comida, vinhas, frutos, estradas e música na nova terra. Em suma, haverá cultura, o produto das nossas criações. A Bíblia deixa claro que vamos trabalhar sem a maldição da queda para sempre na nova terra. Penso que podemos assumir que quem foi chamado para criar usará seu empreendedorismo para criar como um ato de adoração. Mas Isaías nos mostra que não é apenas o que criamos no céu que vai durar pela eternidade; o que criamos hoje tem o potencial de viver para sempre na nova terra.
NOSSO TRABALHO NÃO É EM VÃO
O que fazemos no presente, seja pintando, pregando, cantando, costurando, orando, ensinando, construindo hospitais, cavando poços, fazendo campanhas em prol da justiça, escrevendo poemas, cuidando dos necessitados, amando o próximo como a nós mesmos, permanecerá no futuro de Deus. Nenhuma dessas coisas pode ser considerada simplesmente uma maneira de tornar a vida presente um pouco menos cruel e um pouco mais suportável até o dia em que deixaremos tudo isso para trás, definitivamente [...] Todas elas se inserem no que podemos chamar de construção em prol do reino de Deus. N.T. Wright