Silvana 25/11/2020
Ralph Stockwood, conde de Berwick, é um dos membros do Clube dos Sobreviventes. O grupo é formado por cinco ex-oficiais militares, por uma mulher, lady Barclay, que viu seu marido ser torturado e morrer na guerra e, por George Crabbe, duque de Stanbrook que perdeu o filho e a esposa para a guerra e é o dono da propriedade onde o clube se formou e foi quem cuidou de cada um deles como se fossem parte de sua família até vê-los recuperados. Mas a sombra da guerra acompanha cada um, seja de maneira física ou psicológica. Ralph tem as marcas no seu corpo, inclusive uma cicatriz que corta parte do seu rosto, mas o vazio que sente por dentro é o pior.
Ralph não consegue deixar para trás a culpa de ter levado seus amigos com ele para a guerra e dos quatro amigos, somente ele voltou. Ele já tentou tirar a própria vida algumas vezes, mas foi salvo por George que sempre está ali presente quando ele mais precisa. E Ralph sabe que precisa seguir em frente e principalmente se casar e ter um filho, pois é o único herdeiro do ducado de Worthingham. E que somente isso bastaria para ele conseguir uma ótima noiva, mas ele não quer ser injusto impondo um casamento a uma garota sonhadora, que ele sabe que não será feliz ao seu lado, porque ele não terá nenhum tipo de sentimentos a oferecer.
Mas quando sua avó diz que o atual duque está cada dia mais doente e é necessário que Ralph se case o mais rápido possível, ele decide cumprir com sua obrigação, mas é surpreendido com uma proposta inusitada. Chloe Muirhead é uma solteirona que no momento está servindo de acompanhante para a duquesa. Depois de uma série de escândalos que acabaram com suas chances de conseguir um bom casamento, ela ouve a conversa entre Ralph e sua avó, e se oferece para se casar com ele em um casamento de conveniência. E aparentemente é só isso mesmo que eles terão, porque Ralph se considera incapaz de amar e Chloe já sofreu uma decepção amorosa e não quer se envolver com ninguém, só lhe interessa ter alguém que lhe assegure seu futuro e lhe dê uma família.
"— Felicidade é apenas uma palavra — declarou ela. — É como o amor, de certo modo. Existem muitas definições, todas precisas, mas nenhuma delas suficientemente abrangente. Não me arrependo de ter me casado com você."
E chegamos ao quinto livro da série Clube dos Sobreviventes e já estou sentindo aquela sensação de perda, mesmo que ainda falte dois livros para a série terminar. É que fazia tempo que não lia uma série tão boa e que está disputando o primeiríssimo lugar de melhor série de época com Spindle Cove da Tessa Dare. E pela segunda vez temos um livro favoritado. E olha que até boa parte do livro eu estava achando que ele ia ser um dos mais fracos porque não estava entendendo o protagonista masculino e também como romântica que sou estava achando tudo muito frio e cru para me encantar com a história. Mas confesso me acabei em lágrimas no final e vi ali uma das cenas mais lindas que transbordou amor e fez meu coração derreter.
Se tem uma palavra para descrever esse livro é diferente. Diferente de tudo o que já li nos romances de época, principalmente o casamento por conveniência, clichê tão famoso do gênero. Já cansei de ler livros onde os protagonistas casam por comum acordo sem ter sentimentos envolvidos no meio, mas que para deleite dos românticos de plantão, eles se apaixonam logo em seguida. Mas aqui isso não aconteceu. Foi tudo tão frio, sem sentimentos mesmo, que até certo momento eu estava torcendo o nariz para a relação deles. Mas se parar para pensar, tudo isso que li nesse livro é que é o real, não o que eu estava lendo até o momento. Eles fizeram um acordo e estava cada um cumprindo sua parte.
E o mais interessante é ver as cenas de sexo sendo descritas. A garota é virgem, não tem preliminares, ele chega, ergue a camisola dela, faz o que tem que fazer e vira para o lado. E isso continua sucessivamente, o objetivo do sexo é gerar um herdeiro, não ter prazer. Era exatamente isso que acontecia. E se pararmos para pensar essa é a realidade de muitas mulheres hoje em dia, com exceção da parte da camisola. Mas até isso, porque já ouvi de pessoas que fazem sexo através de um buraco no lençol, mas vamos deixar isso para lá hehe. Mas mesmo sabendo ser esse o esperado, é impossível não ficar incomodada, mesmo que a protagonista não esteja, está indo tudo conforme o combinado.
E outra coisa que chama a atenção no livro é a doença de Ralph, a depressão causada pela síndrome do sobrevivente. Ralph não se conforma de estar vivo enquanto seus amigos que foram para a guerra convencidos por ele estão mortos. Naquela época não se dava nome aos bois, nem sabiam da existência dessas doenças, e se não sabiam denominá-las, o que dirá tratá-las. Ralph vive uma luta diária dentro dele. A culpa se mistura com uma sensação de raiva por estar vivo, por não ter coragem de falar com os familiares dos seus amigos e quando conhece Chloe, ainda se acrescenta a confusão de ter ao seu lado uma mulher eficiente que não depende dele para nada. a carga emocional do personagem é tão grande que por vezes eu via ele como um homem bem mais velho do que seus vinte e seis anos.
E Chloe, que mulher incrível. Ainda mais depois de uma protagonista "normal" como a Agnes de Uma Paixão e Nada Mais. Chloe é um personagem forte como poucas vezes vi no gênero. Quando se fala em personagem forte em um romance de época já se pensa em uma mulher a frente do seu tempo e Chloe é exatamente o contrário, ela é do seu tempo mesmo, mas isso não deixa ela menos marcante. Ela é segura de si, vai atrás do que quer e não fica se iludindo nem chorando sobre o leite derramado. Mas isso não faz dela uma mulher menos apaixonante. Aliás foi isso que entendi e que me fez mudar completamente de ideia sobre o livro. Apesar da aparente frieza, os sentimentos existem e como disse antes, foi uma das cenas mais lindas e românticas que já li. Mas enfim, vou parar por aqui que já escrevi demais. E termino indicando o livro é claro, para todos que gostam de um ótimo romance de época.
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