Otávio - @vendavaldelivros 21/11/2023
“Silêncio antes de nascer, silêncio depois da morte, a vida é puro ruído entre dois silêncios insondáveis.”
Progressos sociais à parte, a morte ainda é nosso maior tabu. A única certeza de todo ser humano não é plenamente compreendida pela humanidade. A morte nos sonda todos os dias, desde o primeiro momento. Nos cerca e os nossos, invisível e intangível, até o momento que dá seu derradeiro abraço. O que fazemos entre os silêncios é o que faz tudo valer a pena.
Publicado em 1994, “Paula” começou a ser escrito pela chilena Isabel Allende quando sua filha, ainda em 1991, é internada às pressas e acaba em um coma profundo. É na cabeceira de seu leito, ao longo dos dias e meses, que Isabel começa a contar a história de sua família e seus personagens principais, com o objetivo que a filha possa ler tudo quando retornar do sono.
Acompanhamos, então, duas histórias que correm para o mesmo fim. Uma é a história da família de Isabel, seus avós, pais, amores, casamentos, filhos, trabalhos e todo seu tempo no exílio político. A outra fala sobre os dias dessa mãe que assiste de perto o crepúsculo da filha, por muito tempo ainda acreditando em sua recuperação, mesmo com os diagnósticos médicos que mostravam que Paula estava ali apenas em corpo.
É no mínimo incrível como Allende consegue escrever um livro que nos mergulha em uma parcela de sua dor e que, ao mesmo tempo, consegue ser belo e poético. Uma mãe que sofre e, mesmo nesse sofrimento, consegue contar a saga de sua família, os medos da ditadura chilena e suas relações interpessoais. Nos envolvemos com os personagens, com as histórias reais, de pura imperfeição humana e particularmente, acho difícil quem não tenha sentido no mínimo vontade de confortar Isabel, mesmo enxergando nela uma força ancestral capaz de mudar a roda da vida.
Paula é a obra que expõe a alma de Isabel Allende através de dores, alegrias, vida e morte. Me envolvi com sua história, mas acima disso, pude refletir sobre a raridade da vida e a inevitabilidade da morte. Morreremos, porque vivemos, mas enquanto vivemos podemos amar, sentir prazer e fazer o melhor para quem amamos. Amar os nossos, amar a vida e entender que o fim faz parte do começo.