Ana Claudia Domingues 24/10/2023
Cicatrizes de batalhas
Acabei a leitura em absoluto silêncio, pois não existem palavras pra expressar os níveis das sensações que esse relato me permitiu sentir. Com certeza 'Muita raiva' é uma junção de palavras que chega um pouco perto daquilo que senti de fato.
Alice foi abusada pelo próprio pai desde que era um bebê, no berço. Abusada física, psicológica e sexualmente por aquele que tinha a obrigação de protegê-la. A vida de Alice foi absolutamente destruída pelo homem que a colocou no mundo. Não há como descrever isso, não há como opinar sobre isso. O livro é o retrato da injustiça que uma criança sofrera.
É pesado demais, mas, por ser mãe de uma linda garotinha de 2 anos, o peso se torna 'incarregável'. Várias vezes precisei parar a leitura, abraçar a minha filha e dizer a ela que nós, seus pais, estamos aqui para tornar o mundo um lugar melhor pra ela, que estamos aqui para abraçá-la quando as dores (que virão!) a alcançarem.
Enfim, um desabafo que não era pra estar aqui, mas não pude resistir. Esse é um livro pessoal, não consigo não ser pessoal ao falar sobre ele.
Já assisti e li algumas coisas sobre TDI e eu ainda me surpreendo com a capacidade do nosso cérebro de lidar com as coisas mais difíceis na qual somos submetidos. Alice é uma sobrevivente, o custo é alto demais, suas cicatrizes de batalhas mostram a enorme força que ela teve e o trabalho que seu cérebro teve para ajudá-la nesse processo de sobrevivência.
Alice não viveu, não tinha como. A vida foi tirada dela, a dignidade foi arrancada da pior maneira possível e não há resgate possível. Ela nunca poderá viver aquilo que perdeu.
Que saco, sabe? QUE SACO!
Ninguém merece cicatrizes tão profundas.
Ai, vou parar por aqui. É diário ou resenha?