asteuwick 20/06/2021
Otimismo tóxico
A primeira vez que li Poliana (na versão Pollyanna) em 2013, eu gostei e achei sua proposta bastante interessante, agora relendo, as coisas não são bem assim.
O olhar que tive sobre essa obra, penso que possa, talvez, fugir do objetivo da autora quando escreveu. Esse olhar otimista, demasiado otimista, é uma grande farsa.
Consegui captar uma nova visão de tudo isso, buscando no próprio texto trechos para a "tese", não usando aqui a superinterpretação de que tanto gosto.
Forçar alguém, ainda mais uma criança, a se "conformar" com sua condição para que não se sinta infeliz já é algo que o próprio Huxley fez em "Admirável Mundo Novo". Uma pessoa não se revolta com a própria condição se ela estiver condicionada a gostar dela. Sem revolta não há conflito, sem conflito não há progresso.
Claro que o livro de Poliana é sutil, delicado e mais "juvenil", mas aqui e ali indentifiquei o estrago mental e emocional que o "jogo do contente" causava em Poliana. Durante o dia ela sorria, engolindo a própria dor, a noite chorava copiosamente, sozinha. Uma criança de 11 anos "extraordinária", que teve que encontrar forças no otimismo sufocante para não despencar no precipício do sofrimento.
E isso não é saudável, obviamente, usar máscaras de forçada alegria não cura a raiz do problema.
Enfim, eu devaneei sobre isso até certa parte do livro, depois esse foco se perdeu, e ainda não acho que tenha sido essa ideia a intenção da autora, mas foi minha leitura de mundo em cima da obra.