Nana
23/01/2024Bom com muuuitas ressalvasLido durante a #MLV2024
Acho que a ideia desse livro é boa, mas a execução se perdeu no caminho. Primeiro de tudo: é exaustivamente longo. Li Cinder há pouco tempo e percebi que é característico da autora fazer livros longos, mostrar detalhes, lugares, explorar seu universo, e ela realmente desenvolve bem de forma a dar profundidade e fundamento para a história, mas é cansativo. Começou a me dar preguiça em certo momento, em 50% eu já estava cansada, torcendo pra acabar logo e percebendo de antemão que poderia ser muito mais curto do que é.
O começo é interessante, prende o leitor, deixa ansioso e faz criar expectativas, mas a enrolação, somada à crescente irritação com a protagonista, fizeram tudo decair. Tudo bem que a premissa do livro é uma garota comum se tornar uma grande vilã e passarmos a odiá-lo ao decorrer da história, mas aqui a irritação surgiu não pela transformação da personagem, mas por ser passiva, mimada e pouco se comportar como a tal Rainha de Copas que foi prometida. Ela é irritante em diversos momentos, principalmente no quesito enfrentar os pais. As dificuldades dela são compreensíveis, mas às vezes, até em momentos desesperadores onde se precisava agir com firmeza, ela continuava se segurando para não decepcionar ninguém. Em um certo capítulo o mundo está um caos e ela ainda vai a um baile idiota sem nem tentar recusar antes??? É frustrante, simplesmente frustrante que ela não tome nenhuma atitude forte para ir contra os pais e até contra o rei, que é um bobão.
Uma coisa beeeem pouco verossímil é o grandessíssimo motivo que move tudo na vida de Cath e a impede de alcançar seus objetivos: o cortejo do rei. O problema aqui é que esse motivo não convence. O cortejo do rei não dá a impressão de ser algo impossível de se rejeitar, não causa medo no leitor, porque o pior que pode acontecer com a protagonista é lidar com a decepção dos pais. É diferente de uma história onde recusar um casamento significa pena de morte, por exemplo. O rei aqui é um grande bobão que não tem coragem de matar uma mosca, então desde o início não senti força em este ser o motivo principal a separar a casal.
As partes que mais gostei no livro foram, com certeza, o Coringa, a missão dele e tudo o que envolve Xadrez. O Coringa poderia ter sido melhor desenvolvido, inclusive, ele tinha mais potencial e carisma que a Cath. Quanto à Xadrez, foi uma parte que sinceramente me surpreendeu, pois surgiu como um alívio numa altura do livro em que eu achava que só seria tédio até o final. Os elementos fantásticos envolvendo o Tempo, as Irmãs e o poço, o Corvo, os reinos branco e vermelho, o labirinto e todas as referências à Alice original são muito interessantes e deram um temperinho a mais. Em partes, sinto que foi o que salvou essa história para mim.
Li uma resenha dizendo que a Marissa Meyer nunca esteve disposta a arriscar tudo e não poderia concordar mais. Escrever uma história de partir corações requer construir uma trama que doa no leitor a ponto de emocionar, só forçar um romance "trágico" goela abaixo não convence. Não acho que a Marissa escreva mal ou que Sem Coração seja uma história de se jogar fora, mas tinha potencial pra muito mais.