Larissagris 22/09/2023NÓS DOIS NA LUA (ALICE KELLEN)Como se fosse possível escolher no amor, como se amar não fosse um raio que te quebra os ossos e te deixa paralisado no meio do pátio. (Pág. 5)
É impossível saber quando você vai conhecer aquela pessoa que de repente vai virar seu mundo de cabeça para baixo. Simplesmente acontece. É um piscar de olhos. Uma bolha de sabão estourando. Um fósforo se acendendo. (Pág. 7)
Mas ele tinha "algo". Aquele "algo" que às vezes não conseguimos explicar com palavras quando conhecemos alguém. (Pág. 8)
Ela me olhou sorrindo. E, sei lá, era um sorriso tão lindo que dava vontade de emoldurar. (Pág. 14)
Senti que tudo, todo o resto, o mundo exterior, deixou de ser importante. Porque ali estava ele. Eu. Nós. Uma canção em francês que eu não entendia. Uma janela para o céu. A sensação de me sentir bem, de ter os pulmões cheios de ar. Essa emoção. (Pág. 39)
[...] Vai chegar o dia em que você não vai sentir que precisa se esconder na frente de outros, sabe? O dia em que você poderá simplesmente ser você, o que parece fácil, mas é quase uma utopia. E eu sei que as pessoas ao seu redor se impõem, mas pensa nelas como apenas um número a mais, e que elas estão aqui, na Terra, diferente de nós. [...]
- E nós estamos onde?
- Nós dois... na lua. (Pág. 40)
É possível se apaixonar por alguém em poucas horas? É possível esquecer esse alguém depois de umas mais? (Pág. 46)
Acho que a relação com Rhys era tão especial que eu queria guardá-la só para mim, como aquelas coisas que, às vezes, a gente gosta tanto e acaba não usando para não correr o risco de perder ou estragar. Eu queria conservar o Rhys. E, de certa forma, eu gostava da ideia de que aquilo era "só nosso". (Pág. 95)
Se eu tivesse te conhecido em um pub e em outras circunstâncias, provavelmente teria me aproximado de você, teríamos tomado um drinque e conversado um pouco. E então, sei lá, eu teria me inclinado e sussurrado alguma coisa no seu ouvido. E teria tocado seu joelho por debaixo da mesa. Teríamos acabado naquele sótão, mas em vez de comer miojo largados na cama, eu teria te beijado inteira até você gemer o meu nome. E depois eu passaria o tempo decorando cada centímetro da sua pele nua. Cada sarda. Cada pinta. Cada cicatriz. Cada curva. (Pág. 107)
O que eu estou tentando dizer, Ginger, é que você não precisa fazer nada que te deixe infeliz. Eu sei que isso parece uma dessas frases motivacionais que aparecem estampadas em camisetas de lojas de departamento ou em canecas de café da manhã, mas a vida é muito curta para não aproveitá-la ao máximo. (Pág. 110)
Você não acha triste que às vezes a gente perca o contato com pessoas que um dia significaram tudo para a gente? É estranho. Eu sei que "a vida dá muitas voltas" e que "as pessoas vêm e vão", mas talvez a gente não devesse levar isso com tanta naturalidade. Me assusta ver que o ser humano esquece tudo tão rápido. (Pág. 131)
Será que existe algum tipo de solidão mais triste que essa, Ginger? A solidão de estar rodeado de gente, mas mesmo assim se sentir só. (Pág. 135)
A gente se convence de que quer ser de um jeito que, no fundo, não deseja, de um jeito que não nos completa, que não nos motiva, que não vem de dentro. Mas não importa. Estamos determinados a fazer isso. E nos obrigamos. E vamos aguentando. E os anos vão passando. E você começa uma e outra faculdade. E você se convence de que pode ser feliz, já que todos os outros também são (ou fingem ser). Mas sabe de uma coisa? Não é assim. Um dia eu entendi. Entendi que eu só tinha uma vida e que não queria jogá-la no lixo. (Pág. 135)
"Vertigem" era aquele beijo, não o que eu tinha sentido antes. "Vertigem" era ela. Olhar para ela e saber que não existia um "nós". (Pág. 180)
Eu gosto de (re)começar sabendo que você está do outro lado do oceano e da tela, do outro lado de tudo, na verdade, embora isso não faça com que eu te sinta distante. Às vezes acho que é o contrário. Talvez os quilômetros não sejam a única coisa que une ou separa as pessoas. (Pág. 193)
Que história é essa de Marte e Saturno? Nós estamos na lua, Ginger. Não se desvie pela galáxia sem avisar. (Pág. 233)
Para Rhys, o cara com quem compartilho um apartamento na lua, porque ele "não era mais que uma raposa igual a cem mil outras. Mas eu a tornei minha amiga. Agora ela é única no mundo." (Pág. 243)
- Sucesso... [...] Acho que é o que acontece quando você consegue saber quem você é e ser fiel a isso. (Pág. 269)
Olhares. Palavras. Momentos. Três coisas capazes de mudar tudo. Porque existem momentos que deveriam desaparecer. Esses que você se arrepende tanto, que deseja viajar no tempo e mudá-los; apagar os olhares cheios de rancor, afogar as palavras que perfuram, que fazem buracos, que te arrancam de suas raízes. Quem somos nós sem raízes? Como nos mantemos ancorados a terra? O que acontece quando o vento sopra, te sacode e você não consegue se agarrar a nada que conhece? (Pág. 297)
E então entendi que, pela primeira vez na vida, eu não estava trepando com alguém, estava fazendo amor. Com ela. Com Ginger. Eu a amava com as mãos, com a pele, com os olhares nublados de desejo, com nossos corpos unidos movendo-se juntos. Compreendi tantas coisas naquele momento... (Pág. 365)
O que é estar apaixonado? "É sentir um frio na barriga quando você encontra com ela. É não conseguir parar de olhar para ela. É sentir saudade, mesmo quando a pessoa está bem na sua frente. É desejar tocá-la o tempo todo, falar de qualquer coisa, de tudo e de nada. Sentir que você perde a noção do tempo quando está ao lado dela. Prestar atenção nos detalhes. Querer saber qualquer coisa sobre ela, mesmo que seja uma bobagem. Na verdade, acho que é como estar permanentemente pendurado na lua. De cabeça para baixo. Com um sorriso enorme. Sem medo." (Pág. 365)
Porque, se você pensar bem, Rhys, ler um bom livro é quase como estar na lua. Durante esses instantes, enquanto você mergulha nas páginas, você deixa de ter os pés no chão, você viaja para longe, para outros lugares, para outros mundos, para outras vidas... (Pág. 408)
Acho que as amizades são assim, nem sempre seguem o mesmo caminho, e um dia você olha para alguém que conhece há mais de uma década e percebe que não tem mais nada em comum com aquela pessoa. (Pág. 418)
É assim que as coisas funcionam, né? Pessoas que em certo momento foram importantes, quase indispensáveis, mas que um dia simplesmente desaparecem, caem no esquecimento. Amizades voláteis. (Pág. 455)
Mas não tem como voltar no tempo, levando junto tudo que a gente sabe no presente, né? Assim seria muito fácil... (Pág. 462)
É engraçado. Como é possível que algumas palavras ou uma decisão aparentemente insignificante possam virar uma vida inteira de cabeça para baixo? Não sei como a gente não morre de medo de caminhar assim pelo mundo, suspensos por um fio tão fino... tão fino, que se você perder o equilíbrio por um segundo, apenas um, você cai de cara no chão. (Pág. 462)
Imagino que repetir mil vezes "sinto muito" não faça as coisas mudarem, nem faz com que um erro deixe de ser um erro. (Pág. 464)
A gente se acostuma a estar perdido. É um pouco como vagar pelo espaço e flutuar no meio do nada. No início é assombroso, você quer desesperadamente tocar a terra firme, se encontrar, mas acho que em algum momento você deixa de sentir vertigem e pensa que, na verdade, não é tão ruim viver em um imenso e escuro vazio, porque você pode fechar os olhos, pode esquecer como era a sensação de estar ancorado a algo, a alguém ou ao mundo. Você pode, simplesmente, deixar de ser. (Pág. 475)
Afastei o cabelo que caía na testa dele mais uma vez, tentando não o deixar perceber que minha mão estava tremendo. Olhando para ele, só consegui pensar que existem emoções mais perigosas do que armas carregadas. (Pág. 479)
- E você nunca parou para pensar que talvez esses vazios não precisem ser preenchidos? [...] Talvez o vazio simplesmente "seja". Como um queijo suíço. Você não pensa em preencher os buracos do queijo quando vê um. Não precisa mudar isso para ele ficar melhor. (Pág. 494)
- O que tem a lua?
- Ela está cheia de crateras, mas elas são bonitas, não são? E ela é mais bonita assim, com as crateras, do que se fosse uma superfície completamente lisa. Você é como a lua. Todos somos imperfeitos. Todos temos alguns buracos. Mas e daí? A gente pode viver com isso. A gente deve viver com isso. (Pág. 494)
Fiquei com vontade de chorar. Porque eu percebi que naquela noite, sob as estrelas, tudo era diferente. Éramos nós, mas diferentes. Éramos nós além do desejo, além da vontade. Éramos apenas o que restava depois, debaixo daquelas camadas que às vezes unem, somam, mas às vezes confundem, mascaram. Éramos a confiança, o carinho, a amizade, o amor, o conhecer-nos. (Pág. 498)
Lembro em particular de uma frase que dizia algo assim: "Que não importava quando tempo passasse, quais mudanças acontecessem em suas vidas ou neles próprios, porque o laço continuaria sempre intacto. Era como um fio que balançava, tremia, levava uns puxões... mas nunca se rompia." Talvez a gente viva pendurado em um fio assim, Rhys. (Pág. 500)
- Demorei meses, mas a gente acaba vendo tudo de maneira diferente quando aceita a realidade. Tenho duas opções: me enfiar na cama e ficar chorando ou me levantar e tentar aproveitar o tempo que nos resta juntos, mesmo que não seja nas melhores condições. (Pág. 512)
[...] os lugares não mudavam, as memórias também não, nem mesmo os acontecimentos, mas éramos nós os que íamos mudando, nos moldando, ressurgindo, caindo, nos tornando outros por dentro e por fora. (Pág. 512)
Talvez deixemos passar mil anos mais se continuarmos procurando a situação perfeita, que se alinhem todos os planetas ou sei lá o quê. Estou começando a ficar muito a favor de viver cada dia como se fosse o último. E cansei de procurar coisas que nunca chegam e de deixar passar as que estão bem na minha frente. (Pág. 546)
Quem sou eu? De onde venho? O que estou fazendo aqui? Por que estou neste mundo? Essas são as perguntas que todos deveríamos nos fazer pelo menos uma vez na vida. E depois a crucial, a que tem mais peso: "É tão importante assim encontrar essas respostas? Precisamos mesmo conhecê-las para sermos felizes?" Um dia eu decidi que não. Um dia eu parei de procurar. (Pág. 548)
Não somos apenas o que fazemos, mas também o que não fazemos. Somos o que dizemos, quase tanto quanto o que calamos. Somos as perguntas que nunca tivemos coragem de fazer, tanto quanto aquelas respostas que nunca chegarão e que permanecerão para sempre flutuando em meio a redemoinhos de medo e de incerteza. Somos a sutileza de um olhar, a intimidade de uma carícia leve, a curva de um sorriso sincero. Somos momentos bonitos, instantes agridoces, noites tristes. Somos detalhes. Somos reais. Mas, acima de tudo, somos as decisões que tomamos. Em todas as suas dimensões. Para cada escolha, damos um passo à frente e abandonamos algo pelo caminho. Ou damos um passo atrás e abandonamos algo que estava por chegar. Avançamos entre alternativas, selecionando algumas, rejeitando outras, marcando nosso destino. Sempre haverá algo que se perde mesmo quando se ganha, mas isso não é o mais importante. O que é realmente valioso é poder tomar essa decisão, fazê-la livremente; apostar em um sonho, por si mesmo ou por outra pessoa, sem dúvidas ou medos, somente com desejo, com paixão. (Pág. 550)