fernandaugusta 26/06/2023Nunca saia sozinho - @sabe.aquele.livroA Escola Preparatória Westmont é um internato de regras rígidas, em que os estudantes são preparados para a universidade. Desde muito tempo seus egressos sabem do folclore do Homem do Espelho, mas a realidade deste ritual estudantil é imersa em uma aura de mistério e poucos escolhidos podem comprovar sua autenticidade, sempre mantendo o segredo.
Com o tempo, ingressar no seleto grupo de iniciados passa a ser um desejo para quem quer se destacar socialmente na escola. Em 2019, entretanto, a iniciação deixou dois estudantes mortos em uma chacina ocorrida em uma casa abandonada nos limites do campus. A investigação chegou a um professor, que tentou cometer suicídio se jogando na frente de um trem, na linha férrea atrás da casa. Era de se esperar que, com o encerramento do caso, os jovens envolvidos seguissem em frente. Porém dois destes jovens deram fim a própria vida se jogando na frente do mesmo trem.
As incongruências do caso chamam a atenção e um podcast de crimes reais começa a ser produzido. Entram em cena o especialista em perfil criminal Lane Phillips e a perita em reconstrução criminal Rory Lane. Afinal, o que está acontecendo em Westmont?
Confesso que esta leitura me prendeu e surpreendeu. A escrita de Charlie Donlea está afiada e trazer de volta Rory, depois de "Uma Mulher na Escuridão" foi um grande acerto. Antes eu não tinha simpatizado muito com a personagem, mas neste livro já gostei mais dela, apesar de achar que Donlea fez a típica autista estereotipada em sua obra: a genial inepta social cheia de manias.
O mistério na escola gira em torno de um rito de passagem muito nebuloso, mas que passa a mensagem da seletividade social: quem entrar, ganha status. O Ensino Médio americano, quase sempre retratado de forma cruel, também não escapou deste rótulo.
A trama de Donlea, como sempre, alterna narradores e tempo. Temos o assassino lendo seu diário, os investigadores, os estudantes, todos aparecem bem. Assim que Lane e Rory entram em cena, o foco passa a ser mais em torno da parceria investigativa deles e dos achados que eles fazem. O início pode ser um pouco confuso, mas o encaixe dos personagens garante bom andamento e logo a curiosidade sobre o que realmente aconteceu na casa abandonada e porque os estudantes estão tirando a própria vida passa a chamar muito a atenção.
Achei o final bem súbito e abreviado. Outro ponto que noto nos livros do autor é que ele quase sempre deixa pontas soltas nos desfechos (às vezes besteiras, mas que ficam sem explicação) ao passo que o desenvolvimento do livro é extremamente rico em detalhes.
Mesmo assim, depois de amargar duas leituras que considerei medianas - "Não confie em ninguém" e "Uma Mulher na Escuridão" - "Não Saia Sozinho" me pegou. Não é a perfeição do suspense, mas é bom.