Cidades afundam em dias normais

Cidades afundam em dias normais Aline Valek




Resenhas - Cidades afundam em dias normais


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Bárbara 31/12/2020

Memórias e visitas ao passado
E se você tivesse que revisitar o passado, remexer nas lembranças da juventude, fatos que marcaram seu povo e sua memória?

Kênia, uma fotógrafa, retorna a sua terra natal junto com seu parceiro, o jornalista Facundo, para filmar um documentário sobre Alto do Oeste, uma cidade do cerrado brasileiro que sucumbiu a um alagamento e desapareceu. Notícias de jornal davam conta de que a "Atlântida do Cerrado" ressurgiu depois de quase vinte anos submersa. Ela reencontra a cidade em ruínas, e os antigos moradores, alguns velhos conhecidos, que tentam retornar às antigas casas, e recomeçar a vida dentro de alguma normalidade.

Aos poucos, vamos conhecendo um pouco mais sobre aquela cidade, suas ruínas consumidas pelo tempo e pela água. A cidade, o retrato da destruição, aparece como uma personagem viva, pulsante, envolta em um passado nebuloso. Os antigos moradores são testemunhas da enchente que levou tudo ao colapso. Muitos nem sonhavam o que estava por acontecer.

A narrativa vai se alternando entre passado e presente. Aos poucos, vamos conhecendo mais sobre a história da cidade, através de reportagens, depoimentos, memórias registradas no caderno de uma adolescente. Vemos os fatos sob as óticas de de um padre náufrago, de adolescentes da época, de uma professora de História disposta a preservar as memórias.

Todas são histórias com as quais podemos facilmente nos identificar, pois trazem as dificuldades da vida, a impotência em mudar o rumo das coisas, o desejo de mudança e a esperança em dias melhores, sentimentos universais. Vamos montando um quebra-cabeças sobre o processo que afundou Alto do Oeste e as vidas de muitas dessas pessoas, percebendo que tudo acontece gradativamente, e nem sempre tudo é o que parece.

A escrita da autora é bonita, sensível, me peguei pensativa e até nostálgica em algumas passagens. Quem gosta de fotografia e memória também tem tudo pra gostar dessa leitura. Há passagens poéticas sobre a imagem que se imortaliza na foto, o olhar e a percepção de que vê, e o poder da memória. Conhecer essa autora esse ano foi uma grata surpresa!

site: http://www.instagram.com/leiturasdebarbara
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Renan 17/05/2021

Amo como Aline consegue transmitir a infinidade de relfexões que ela tá sempre fazendo em seus livros.

A história do livro por si só já é interessante, mas são as mensagens que mais importam. Eu amo esse estilo da autora.

Os personagens são complexos e a atmosfera é muito real. Por se passar no centro-oeste, várias características de falas e comportamentos específicos foram gravados e eu, por ter tido uma infância lá, me identifiquei com todos.
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Mari M. 14/02/2023minha estante
Também senti isso. E o caderno da Tainara muito bem escrito pra uma jovem que estava na escola...não senti diferença no texto dela pra narrativa geral


Alexia 20/03/2023minha estante
Senti falta de um desfecho para a tainara. Ficou muito aberto


camiscaarvalho 22/10/2023minha estante
Concordo totalmente. Temos mais empatia por Tainara do que pela Kênia. Muitas histórias paralelas que não são aprofundadas... O livro tem uma boa premissa, acredito que se fosse revisado numa reedição seria uma boa guinada.




Flora Airbender 04/01/2022

Só conta, não mostra nada
A história não mostra quase nada sobre a inundação em si. Não mostra pessoas abandonando/perdendo suas casas, não mostra a vida delas após a tragédia, não mostra pessoas que moram ao redor lidando com uma cidade afundada. Também não foca no retorno das pessoas, nem no documentário e as fotografias. Sabe-se o que rolou mas sabe-se apenas por alto. Caiu duas chuvinhas, a cidade afundou, todo mundo foi embora, do nada a água abaixou, alguns voltaram. Mas isso é apenas implícito, não há detalhes.

Poderia ser um livro de ficção científica ou realismo fantástico mas o enredo é mais "filosófico", só que pra isso funcionar precisaria de mais aprofundamento na trama. Ao invés de a história ser contada pelos moradores por meio do documentário, a maior parte é contada por Tainara (BFF de adolescência da Kênia) numa espécie de livro de memórias que era um trabalho pra escola. Então o enredo é mais sobre a adolescência dela, uma história que poderia ser contada em qualquer cidade. Alto do Oeste fica apenas como pano de fundo. Há alguns outros poucos personagens que ganham algum destaque, mas suas histórias também poderiam ser contadas em qualquer outra época ou lugar. Ou seja, não é mostrado como a inundação afetou a vida das pessoas.

E é difícil acreditar que a cidade não chamaria atenção da imprensa nacional e internacional . Nenhum cientista/geógrafo deu as caras pra tentar entender o que aconteceu. Um fenômeno extraordinário aconteceu e o resto do mundo ignorou pelo motivo de "porque sim".

E que final cagado! A Tainara adulta nunca aparece e não se sabe o que aconteceu com ela, e o epílogo não fez o menor sentido.
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Maitê 08/08/2022

Gosto bastante da história e das analogias que a autora faz, apesar de ter sentido dificuldades em continuar a leitura no meio do caminho, perdi o ritmo e precisei de um esforço para terminar. Mesmo assim ainda consigo dizer que no fim das contas é um livro que vale a pena.
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luamagnetica 28/02/2022

Me faltam palavras para descrever essa obra. Finalmente, o primeiro 5 estrelas e favoritado do ano!

Primeiramente, irei falar o óbvio: sim, temos milhares de livros internacionais bons. Mas, nunca um livro internacional será tão relacionável com as nossas realidades quanto um latino-americano ou principalmente brasileiro.
Nesse livro você encontra sua família, seus amigos, seus colegas, seus vizinhos e você mesmo.

"talvez pudesse dizer algo sobre a experiência latino-americana de nem sequer conseguir curar as feridas profundas da colonização, porque as desgraças se sucediam e o povo não tinha tempo de lidar com todas elas."

Segundo, nunca li antes uma representatividade indígena tão rica e realista numa obra fictícia. (Deveriam substituir "Iracema" por este livro nas leituras obrigatórias...)
Digo novamente que aqui o colonialismo foi tratado como ele é: cruel, invasor e desgraçado. Da narrativa de Érica até a de seu pai Vicente, toda a realidade foi exposta com maestria.

"Érica Xavante tinha a idade da terra. Diziam que ela viu os brancos chegarem, viu a mata virar fazenda, os corpos castigados pelo trabalho forçado ou deteriorados por doenças impossíveis. Outros contavam ainda que ela viu de perto os seus fugirem e morrerem, os tiros, as crianças aos poucos ficando mais claras, mas ainda descalças. Viu a pobreza ser inventada diante de seus olhos."

Terceiro, o mais lindo neste livro são os detalhes.
Aplaudo novamente a escrita da autora quando ela mostra dois melhores amigos que sempre foram bagunceiros na sala de aula mas passam a crescer afastados.
Até que em um certo ponto os dois em meios miseráveis, um conhece o rap (mais especificamente, Racionais) e a arte (pixação) e após isso, quando tem a chance de escolher o crime, não o faz. Já o outro, não teve essa base e infelizmente faz o que precisa fazer para sobreviver.

Pronto, destaquei meus pontos favoritos.
E enfim, esse livro está genuinamente recheado de narrativas incríveis. Amo esse tipo de história que segue vários personagens diferentes, explorando suas versões e perspectivas.

Se você procura uma obra nacional especial com, diga-se de passagem, uma das capas mais lindas que podem estar na sua estante para ler e favoritar, leia Cidades afundam em dias normais.

"A gente sempre se acostuma, depois de um
tempo. (...) Isso me assusta um pouco. Se acostumar é não conseguir mais diferenciar as tragédias dos dias normais."
Katia Rodrigues 28/02/2022minha estante
Excelente resenha! Deu vontade de ler o livro! Já conhecia a autora, mas não essa obra. Vai pra listinha de leituras.
Concordo muito com o q vc falou sobre os livros nacionais ???


luamagnetica 28/02/2022minha estante
obrigada, katia! leia sim, vou esperar sua resenha ?




Smbdouthers 09/05/2023

O mais incômodo do sobre o Paleolítico era a falta de nomes, a impossibilidade de atribuir os feitos a qualquer indivíduo que fosse; os grandes Inventores e artista e líderes perdidos na mesma pilha de ossos de medíocres e incompetentes e idiotas pré-históricos enterrados em algum sambaqui.
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Tuane 07/01/2022

"Memórias são feitas para o futuro"
Estou simplesmente encantada com esse livro. Do meu ponto de interpretação, ele fala sobre pertencer ou não a algum lugar e como isso molda a gente.

A autora (maravilhosa por sinal) chamou minha atenção inicialmente por ser mulher e brasileira. O título foi a segunda coisa que me prendeu pois pareceu, pra mim, um daqueles comentários que a gente faz sem pretensão alguma, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, jogado no meio de uma conversa sobre o tempo:
- "... e cidades afundam em dias normais. Uai, cê não sabia?"

E já nessa primeira impressão a Aline constrói uma narrativa direta e ao mesmo tempo delicada que leva até o fim da história. Você não sabe o que vem ou o que esperar, mesmo já sabendo que a cidade afunda e que as histórias contadas são de pessoas comuns, como eu e você.

É sobre aquilo que foi mas voltou, mas voltou diferente, ou igual. Daquilo que permaneceu e se perdeu, ou se encontrou. Sobre o espaço que nos constrói e do espaço que construímos. Sobre não ter lugar e ao mesmo tempo nunca ter ido embora. É o encontro de lugar com pessoa, pessoa com lugar, pessoas com pessoas, encontro de identidade, de referência.

E o cenário? Mais brasileiro, impossível. Eu me vi ali, em Alto do Oeste, cresci e passei minha adolescência naquela cidade, indo na escola que iam, comendo arroz doce no lanche do recreio, pegando o circular da viação Rio dos Patos, ficando atoa na praça tomando picolé olhando o movimento com a melhor amiga, falando as mesmas gírias, tudo.

É uma obra completa do trecho de uma história que não começa e nem termina, contada como com todas as nuances de um livro documentário exposição.

Super recomendo.
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Jefferson 28/12/2020

Nenhum lugar é para sempre.
?Resolveu que tatuaria isso para reafirmar seu compromisso consigo mesma,de seguir em frente,de não olhar para trás,para cidades que desmoronavam ou para as relações que se rompiam,inevitáveis.
Teria pelo menos algo permanente em meio a uma vida tão transitória.?
Esse trecho do livro define bem uma das mensagens que a história nos transmite,enfatizando a necessidade de valorizarmos o momento,pois se a verdade desaparece no instante em que é registrada,talvez a memória seja o único lugar onde podemos permanecer.
Após uma grande seca trazer para a superfície uma cidade que ficou submersa no início do milênio,uma fotógrafa(em busca de visitar sua antiga cidade e registrar as suas ruínas geradas pelo lago) e o seu colega jornalista,a procura de respostas relacionadas ao ponto de vista dos antigos moradores sobre a lenta inundação do município,vão para a cidade em busca de uma boa matéria jornalística e fotos interessantes.
Foi uma reportagem marcada por diferentes perspectivas do que significou o desaparecimento da cidade para os antigos moradores. Mostrando a necessidade que eles sentiram de voltar para a cidade após o seu reaparecimento,nos fazendo perceber que os antigos moradores procuravam um sentido para a própria narrativa deles e queriam reordenar as próprias memórias.
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Dani Bittencourt 21/07/2022

Terminei agora esta leitura - reflexiva, nostálgica e satisfeita por ter feito essa viagem com a autora e seus personagens. Fui entrando aos poucos na narrativa, como sendo levada devagar, a bordo do ônibus-balsa, pra dentro de Alto do Oeste. Quando percebi, já estava totalmente submersa nas memórias da Kênia, da Tainara, da Érica... Que delícia de livro!
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Maju 08/08/2022

Melancólico, tocante, poético, maravilhoso, perfeito.
A escrita desse livro é uma das mais cativantes que já tive o prazer de ler. Os fatos vão sendo revelados não como se estivessem sendo escondidos do leitor, mas como se apenas coincidentemente ainda não tivessem sido abordados. Já que a narrativa decorre como uma conversa particular e íntima entre antigos conhecidos. Me tornei íntima de todos os personagens e amo isso. Simplesmente inesquecível.

Escrevo essa resenha aos prantos e digo que com apenas um livro já vendi minha alma para Aline Valek.
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Sabrina 24/11/2020

?Eu era muito nova quando entendi que a gente carrega aqui dentro a nossa própria destruição, o potencial de nos despedaçar aos poucos. Nascemos para a morte, essa é a natureza. Mas foi aqui, nesse lugar, que aprendi a construir.?

O novo livro da Aline Valek traz a história de uma cidade, Alto do Oeste, que foi inundada depois de uma longa e devastadora chuva e que anos depois voltou à superfície fazendo assim com que a história dessa ?Atlântida brasileira? interessasse não apenas para quem retornava pelas memórias, mas também para quem queria dali tirar novas histórias, como Facundo, um argentino que decide ir para lá documentar o ocorrido. Junto dele vai Kênia, uma antiga alto oestina que divide sua história junto com a de tantos outros que lá habitavam, em especial, Tainara que deixou um caderno de memórias perdido nas águas.

A história dessa cidade me lembrou diversas outras como a de um documentário que contava sobre os moradores de uma cidade fantasma no Brasil; dos alagamentos em Maceió; da mudança total em Mariana depois do rompimento da barragem, enfim havia algo de muito real nessa escrita e nesses personagens.

A escritora usou de diferentes técnicas literárias: carta/e-mail, diário, relato em terceira e também primeira pessoa ao longo do texto, um linguajar de acordo com os personagens em questão, as referências jovens dos anos 90 foram um êxtase imenso durante a leitura. Uma narrativa que me prendeu do início ao fim. Eu queria saber mais de Kênia, Tainara, as outras meninas, da professora, dessa cidade que havia deixado marcas em todos esses sujeitos que retornavam em presença ou memória para sempre contida naquela vivência.

Além de um título que me prendeu desde o início, a escrita da Valek tem uma forma instigante de romance contemporâneo e isso tornou a leitura leve e rápida e era bem o que estava precisando.
@de_literatura
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