Lia 01/06/2021
Um dos melhores livros da Sarah J. Maas (4.5 estrelas)
“Por amor, tudo é possível."
Embora Crescent City seja protagonizado por 3 personagens, Bryce Quinlan é o foco principal do livro. Independente, festeira, impulsiva e divertida, nossa ruivinha já apresenta seu medo de se entregar a algum vanir (ser sobrenatural, basicamente) por causa de como o relacionamento de sua mãe e de seu pai biológico acabou. Criada por sua mãe, Ember, e padrasto, Randall, um famoso atirador, o princípio de sobrevivência e autoproteção sempre fizeram parte de sua lista de prioridades.
No entanto, em busca de independência, Bryce se mudou para Lunathion, longe dos pais. Lá, ela cria laços com Danika Fendyr, uma poderosa loba, que se torna sua melhor amiga e alma gêmea (não no sentido romântico, mas platônico).
Devo dizer que Bryce, por ser semifeérica, é descriminada frequentemente; afinal, ela não é poderosa quanto um feérico puro-sangue, tampouco se encaixa na definição humana. Como resultado deste preconceito, ela é frequentemente fetichilizada e sexualizada por outras pessoas, cobiçada por seu corpo curvilíneo e belo rosto com traços feéricos, mas nunca vista por sua mente, suas ideias, suas opiniões.
Portanto, desde o primeiro momento de leitura, enxerguei a força de Bryce: como ela era descriminada, mas não se deixava desistir por isso, mesmo com todas as adversidades. Ainda assim, fica claro que Bryce está ciente de como é tratada por certos homens, mas não os deixa para trás por medo de não encontrar algo melhor - algo muito comum nas mentes das minorias, infelizmente.
No entanto, o mundo de Quinlan vira de cabeça para baixo quando sua Danika e sua matilha são assassinados em seu apartamento. Isso, sem surpresa alguma, lhe parte o coração: não acho que seria eufemismo dizer que ela estava depressiva depois deste acontecido.
É ao descobrir que o verdadeiro assassino de seus amigos está impune pelas ruas que ela decide se unir a Hunt Athalar na busca do culpado. Sua fúria e sua dor são seus maiores combustíveis nesta jornada.
“Você é a pessoa para quem não preciso me explicar - não quando importa. Você vê tudo que sou, e não foge disso."
Hunt Athalar é um escravo de Lunathion desde que se revoltou contra o sistema anos antes e assassinou milhares. Hoje, ele serve Micah, o governador de Lunathion, como seu assassino de aluguel. Seu desejo é conseguir sua liberdade, o que será possível uma vez que ele mate para Micah a mesma quantidade de pessoas que ele dizimou na guerra.
Quando Micah lhe oferece uma grandiosa redução de dívida em troca de encontrar o assassino junto a Bryce para seus próprios interesses políticos, é claro que Hunt não nega. Desta forma, ele passa a trabalhar lado a lado com a mulher imprudente que ele pensa que ela é.
Hunt, assim como Bryce, também perdeu pessoas importantes. Além de ter perdido sua namorada na guerra e sua família logo depois, ele tem um passado recheado de tortura e abusos inimagináveis. Ainda assim, ninguém parece olhar para isso - seja porque não lhes é conveniente ou porque Athalar faz um ótimo trabalho em esconder seu coração ferido nas sombras do temido Umbra Mortis, um guerreiro letal.
"Bryce foi um fantasma por um longo tempo, Hunt. Ela fingiu não ser, mas era. Você a trouxe de volta à vida."
É surpreendente quão compatíveis esses dois são. Hunt, à primeira vista, parece sério e tradicional, enquanto Bryce se esforça para parecer o oposto, na tentativa de esconder a própria dor. São suas feridas, seus lutos e seus desejos que os unem. No fundo, tudo que eles querem é liberdade - seja física ou de espírito. Querem sentir que fizeram justiça por aqueles que amavam, que nada pelo que passaram foi em vão.
Suas jornadas de cura, em especial a de Bryce, são fenomenais. Sério, Sarah J. Maas soube trabalhar com esmero a dor destes dois, unindo-os através disso sem retirar a responsabilidade pessoal de cada um de lidar com suas próprias merdas. Afinal, nós somos a nossa própria cura - o máximo que podemos encontrar no outro é a força para continuar seguindo em frente, e é exatamente isso que eles são um para o outro.
Hunt vê Bryce como ela é: uma mulher independente, um tanto orgulhosa, mas forte para caramba, e Bryce faz o mesmo ao perceber que, debaixo de tanto sangue e morte, há um coração sensível e um senso de justiça incrível.
Há diversos diálogos e cenas de conexão entre ambos, que mostram suas vulnerabilidades, e acho que isso é o que me fez cair de amores por esse casal. Mesmo antes de um beijo, de um toque, eles já tinham se apaixonado por suas almas.
Ainda assim, não posso deixar de mencionar a enorme tensão sexual entre esses dois durante o livro. Céus, como eu sofri! O tempo todo queria entrar o mundo deles apenas para empurrá-los um para o outro, mas a espera valeu a pena - é só isso que posso dizer.
"Porque ela o amava muito mais do que odiava você."
Não vou negar: embora maravilhoso, Ruhn Danaan é, sim, ofuscado pelos outros dois. Todavia, nem mesmo o romance e a busca de Quinlar (A.K.A: meu mais novo OTP) é capaz de diminuir a complexidade deste homem.
Ruhn é um príncipe (literalmente), mas não só isso: ele também é um herdeiro de Áster, uma lendária espada que apenas se deixa ser empunhada pelos grandiosos guerreiros. Mas Ruhn não é um guerreiro, deve-se frisar - ele é o que um jovem (nos termos feéricos) geralmente é: festeiro, rebelde e único.
Acho que cerca de noventa e cinco por cento da construção de seu personagem se dá pelo seu desprezo pelo pai e seu relacionamento conturbado com Bryce, sua meia-irmã, resultado de uma discussão ocorrida anos antes.
Embora obviamente arrependido e sempre buscando se reconectar com a irmã (sem sucesso), Danaan não deixa de tentar protegê-la a todo custo. Ele é bondoso, está sempre à seu dispor, não apenas por culpa, mas por amor. Além disso, tem um senso de humor muito legal, assim como os outros dois, e os três são responsáveis por nos arrancar risadas durante o livro inteiro.
Ele guarda segredos perigosíssimos e ostenta poderes pra lá de misteriosos e ~obscuros, rs~, mas seu maior complexo é de não ser quem o pai quer que seja, acredito. Ruhn obviamente sofre bastante com a ausência da mãe e a negligência do pai, embora nem mesmo ele admita em suas narrações.
Enfim, embora ele tenha sido ofuscado, sim, espero que ganhe mais importância nos próximos livros! Ele é um personagem incrível que merece mais notoriedade!
"Então deixe o mundo saber que meu primeiro ato de liberdade foi ajudar meus amigos."
Falando em personagens, e os secundários? Syrinx, a quimera de estimação de Bryce, é uma fofura que só! Jesiba é uma megera misteriosa que, sendo honesta, não consigo odiar (pelo menos, por enquanto). Tharion é divertido e sinto que será de grande utilidade no próximo livro. Os pais de Bryce são os típicos pais da vida real, maravilhosos. Mas, de todos os secundários, Lehebah, a duende de fogo que trabalha junto com Bryce, protegendo a biblioteca secreta embaixo do Antiquário, é a que mais se destaca.
Tagarela, curiosa e safadinha, ela me representa de várias maneiras. Assim como Hunt, ela é escravizada, pois seus antepassados também se revoltaram contra o status quo décadas antes. Ainda assim, ela é aquela amiga que apoia, incentiva, conforta nossos corações em momentos difíceis; mas, especialmente, é a amiga companheira que não diz o que queremos ouvir, mas o que deve ser dito.
Amei a personalidade fofa dela, a gentileza, a delicadeza e, principalmente, seu altruísmo e lealdade. Por mais Leles pelo mundo!
"Este é o ponto disso, Bryce. Da vida. De viver, amar, sabendo que amanhã tudo pode desaparecer. Isso torna tudo mais precioso."
Afinal, esta é a mensagem que Casa de Terra e Sangue passa: viver, mesmo em meio a dor e as dificuldades, e a autora fez um ótimo trabalho ao entregar essa moral conforme desenvolvia o enredo.
O que impede deste livro ser perfeito é o começo: repleto de informações de uma só vez e com uma pequena demora para que a história realmente comece, levou um tempo até que minha leitura engatasse.
Ainda assim, CCity está longe de ser péssimo: com personagens memoráveis, ótima descrição de mundo (com muita profundidade política, ao contrário de ACOTAR) e equilíbrio entre romance e ação, é muito difícil não ser cativado! As informações que Sarah vai soltando conforme a leitura instigam o leitor a teorizar sobre o que está acontecendo, nos impedindo de largar o livro até que as últimas 200 páginas nos prendam por completo através de reviravoltas inesperadas e um final emocionante e intrigante, Cidade da Lua Crescente é, facilmente, um dos melhores livros de Maas, e com toda certeza a melhor introdução de trilogia que já li até hoje.
P.S: também tem a falta de representatividade típica dos livros da SJM, onde se tu for negro, ou você é um personagem sem importância ou morre em favor do enredo ou de mocinhe brance, mas ainda tenho esperança que, nos próximos livros, ela adicione menos pessoas bronzeadas e mais pessoas negras, amarelas, marrons, etc.