Cringe Literário 31/10/2021
A criatura Amarela
Resenha: Frankenstein de Mary Shelley, editora Principis, 2019, 240 p.
Nota: 5 +
Esqueça produções cinematográficas e descubra o universo criado por Mary Shelly em 1818 com projeções até os dias atuais.
Com o título de Frankenstein ou então Frankenstein o Prometeu moderno, já fui despertada com um estranhamento, que Prometeu?
Em suma na mitologia grega, Prometeu foi um Titã que roubou o fogo da criação do Olimpo e o presenteou para a humanidade, o fogo representa metaforicamente o conhecimento e poder.
Sinopse: 1 ficção científica, com sucesso mundial, também classificado como literatura juvenil. Narração com 3 vozes principais: Robert, o capitão do navio, o Doutor Victor Frankenstein e a criatura.
Primeiro plano, Narração epistolar, por uma carta inicialmente, onde um capitão de um navio, dá notícias de viagem à sua irmã, relatando sobre o resgate de um homem à deriva em um bloco de gelo perdido no mar no Polo Norte, (na literatura à deriva precede um horror subjetivo e psicológico).
Em segundo plano, esse homem resgatado, o cientista Victor Frankenstein narra sua vida para o capitão do navio, sendo:
Um cientista descendente de família aristocrata, Victor Frankenstein, que busca aprofundar estudos na ciência, consequentemente, irá estudar como dar vida aos corpos inanimados;
Victor longe de casa na universidade, em laboratório particular, monta uma criatura com membros cadavéricos que recolhe dos túmulos, tentando reproduzir a criação divina em seu laboratório.
A criatura deveria representar o mais belo e forte, porém ocorre uma tragédia, a coisa ao aparecer com vida, caracteriza-se com mais de 2 metros de altura, pele amarelada, lábios negros e dentes brancos perolados é abominado por seu criador sem ao menos receber um nome, pois causou desprezo e nojo no mesmo.
No decorrer de 2 anos e após o episódio de criação, Victor que já estava há muito tempo ausente do lar para se tornar um pesquisador de renome, recebe a notícia de uma tragédia familiar informada por carta e tem que retornar para sua casa.
Em terceiro plano, temos a voz da criatura monstruosa, sem nome, referenciada por Victor como uma múmia sem alma, estava perdida na vastidão do mundo e totalmente desprezada pela sociedade, e a criatura almeja um reencontro com seu criador.
O reencontro acontece, expondo suas mazelas a criatura revela algumas crueldades que cometeu e como ele é desprezado pelos os humanos, sua corrupção para maldade, a sua sede de vingança e como ele é único e solitário no mundo; diante disso a criatura faz uma imposição ao seu criador...
Interpretações:
Por influência da cultura pop de terror, esperava cenas extensas da criação de um monstro verde e não foi nada disso que encontrei, ainda bem;
Sobre a criatura: é meu personagem favorito, como não compadecer com seu sofrimento? Ao menos um nome recebeu.
Há uma gratuidade existencial que ele não solicitou, seu criador (Victor Frankstein) não é o mesmo criador de todas as outras criaturas (Deus) que coabitam o planeta;
O personagem Victor Frankenstein é egoísta e cruel; o que ele realmente representa? A soberba da ciência, o preconceito com os diferentes, as mazelas sociais, as críticas religiosas? São amplas as interpretações...
O julgamento social recai na criatura com preceito de crueldade unicamente por suas características físicas;
Com isso ele nutri sentimento de vingança, raiva e ações correspondentes.
Jean-Jacques Rousseau, ?o ser humano nasce bom, a sociedade o corrompe?, como não fazer essa associação e pensar como essa produção ainda perdura com esse recorte social?
A obra permite por si só muitas reflexões e interpretações, que podem ser ampliadas se o leitor se atentar a saber um pouco mais sobre a vida da autora.