Ana Elisa Dotta Maddalozzo 16/03/2021Resenha Mulheres ExtraordináriasMuitos sabem que Mary Shelley foi a escritora do aclamado clássico Frankenstein, mas quem foi ela de verdade? Será que a grande autora era reconhecida em sua época? De onde surgiram suas inspirações?
Nessa biografia impecável de Charlotte Gordon podemos conhecer a vida de duas personalidades incríveis: Mary Shelley e sua mãe Mary Wollstonecraft. Ambas foram indivíduos a frente de sua época, onde o patriarcado tolhia membros do sexo feminino que falavam sobre política, pregavam a liberdade sexual e desejavam fixar espaço no mercado editorial. A trajetória de Wollstonecraft, grande defensora dos direitos civis das mulheres, impactou intensamente nos ideais da filha, mesmo que não houvessem convivido. Infelizmente, por meio de uma infecção, Mary morreu ao dar à luz.
Contudo, as ideias revolucionárias da mãe, que pregava a importância de todos os membros de uma sociedade, independente do gênero, terem acesso e domínio sobre seus próprios bens e serem capazes de regirem sua vida, participaram ativamente da formação de Mary. A autoridade absoluta que os homens detinham e o mal que poderia advir de tamanha influência estão caracterizados em Frankenstein, onde o médico abusa de seu poder desmedido e resolve brincar com a vida, causando o sofrimento da criatura (seu filho) e de sua noiva. A busca irrefreada por domínio e soberania, tal como o esquecimento de valores morais, leva à ruina do cientista e de todos aqueles a sua volta. Tais pensamentos iam de encontro com a sabedoria de ambas as Marys. Além disso, o preconceito que a criatura sofre na comunidade é uma metáfora para a situação em que que mãe e filha estiveram, quando transformaram-se em párias por suas mentalidades evoluídas e por suas escapadas românticas. Uma mulher que não seguisse a fórmula pronta “casar, ter filhos e cuidar do lar” era vista imediatamente como indigna.
Ademais, somos contemplados com o desejo das duas autoras em conciliarem a razão e a emoção em seus escritos, bem como a repercussão da revolução industrial, da revolução francesa e do romantismo nas obras literárias produzidas por elas. Figuras como Percy Shelley, Lord Byron e William Godwin também são pilares importantíssimos nas vidas dessas mulheres.
Recomendo esse livros a todos que desejam voltar ao passado e descobrir a origem do feminismo que conhecemos atualmente, assim como conhecer os caminhos percorridos por duas grandes celebridades da literatura e da filosofia que lutaram contra o convencionalismo.