spoiler visualizarVininaum 02/09/2020
Cansativo e decepcionante mas com um bom final
**** ISTO NÃO É UMA RESENHA, É APENAS A OPINIÃO DE UM LEITOR SOBRE ESTE LIVRO ****
Antes de tudo quero tirar algumas coisas do caminho;
O mundo de tinta (trilogia de livros) é descrito primariamente como uma aventura e uma fantasia, então vamos a descrição de cada um desses gêneros:
"Fantasia é um gênero da ficção em que se usa geralmente fenômenos sobrenaturais, mágicos e outros como um elemento primário do enredo, tema ou configuração. Muitas obras dentro do gênero ocorrem em mundos imaginários onde há criaturas mágicas e itens mágicos."
"Livros do gênero aventura normalmente colocam o protagonista/herói em situações perigosas, que envolvem grandes jornadas, batalhas com inimigos ou monstros e um triunfo final, onde o protagonista consegue o que procurava."
Agora que relembramos o que significa estes dois gêneros eu digo que o mundo de tinta é uma aventura desengonçada em um mundo com pouca ou nenhuma fantasia.
Digo isto não para denegrir a autora ou para desrespeitar os leitores que tanto amam esta obra, digo isto porque penso isto e não poderia dizer o contrário apenas porque outras pessoas pensam diferente.
Comprei estes livros pelas inúmeras resenhas positivas e notas altas em sites como Skoob e youtube, porém passei grande parte dos livros me sentindo como Orfeu, querendo mudar cada pedaço daquele mundo e daquela história por achar que não estava bom o suficiente. Não tenho a pretenção de achar que poderia fazer melhor que a autora, porém como leitor me permito questionar certas coisas no enredo que para mim quebram o ritmo da história e fazem com que a vontade de terminá-la diminua a cada página.
Bom, nem tudo foi ruim, os 4 itens abaixo me agradaram e merecem destaque como os principais pontos positivos deste volume.
1- Orfeu se tornou o personagem mais interessante neste livro, pois ele faz um papel de vilão muito mais importante do que o Cabeça de Víbora ou qualquer outro capanga, é através dele que a história se desenrola e os perigos chegam aos mocinhos.
2- Jacopo sempre foi um personagem ambíguo na história, eu nunca conseguia sentir se ele era malvado, bonzinho ou só indiferente a tudo que acontecia ao seu redor então aprendi a nunca prestar muita atenção a ele, porém no final quando nossa atenção está voltada para toda a tensão final da história, Jacopo entra em cena e decide tudo, achei um bom final e bastante corajoso porque apesar das palavras serem escritas por MO, foi Jacopo que matou o avô entregando o livro para os seus inimigos.
3- Dedo empoeirado finalmente se tornou um personagem legal, depois de voltar da morte ele controla o fogo com maestria, chegando ao ponto de trazer a vida animais feitos de chamas e utilizar de magia com aquela fuligem que mostra um pouco do que acontece em outro local e até aquela projeção que ele utiliza para escapar do incubo (mesmo achando essa última um dos vários Deus ex machina da história).
4- FINALMENTE a autora explicou como funciona a magia das palavras neste universo. É preciso das palavras escritas pelo Fenóglio seja no coração de tinta ou em qualquer outro livro para que Orfeu, Mo ou Meggie possa dar vida aos textos. Orfeu foi muito esperto em começar a fazer uma listra de palavras em ordem alfabética com todas as palavras do livro porque ele entendeu que o livro não era importante mas sim as palavras.
Agora vem a parte triste, alguns dos pontos que mais me irritaram no enredo e quando digo alguns, quero deixar claro que existem mais mas o que aparecerá aqui é apenas o pior do pior.
1- A autora não da nenhuma explicação sobre como Mo conseguiu fazer um livro que deixa a pessoa imortal. Isso é jogado na história apenas para dar um gancho para o terceiro volume.
2- Quando Mo encontra a morte e ela ameaça ele dizendo que quer a morte do Cabeça de Víbora se não ela iria matar a ele e a Meggie o Mo aceita a proposta e ainda pede para levar o Dedo Empoeirado junto de volta ao mundo dos vivos. Porque a morte iria aceitar isso? Ela não ganharia nada deixando Dedo Empoeirado ir embora, e isso não era uma negociação, ela estava ameaçando Mo, ou ele faz o que ela pede ou ele e a filha morrem. Tudo isso é apenas uma desculpa para trazer o dançarino do fogo de volta porque Mo já iria Matar o Cabeça de Vibora, mesmo que a morte não tivesse dito nada.
3- Fenoglio fez várias canções sobre o GAIO e criou esse personagem a imagem de Mo, até ai tudo bem, porém depois que a Meggie lê aquela canção para evitar que o Mo morra, ele muda completamente de personalidade, ele deixar de ser o encadernador e vira o GAIO, então começamos a nos perguntar; "O Fenoglio tem o poder de mudar as pessoas com as palavras dele", então porque ele não escreveu que o Cabeça de víbora virasse boa gente ou que o novo Rei de Ombra acordasse e decidisse ser justo pelo resto da sua vida? No final do livro a autora até tenta plantar a ideia de que o GAIO é um outro lado do Mo e que ele decidiu ser o GAIO por conta própria apesar das canções do Fenóglio lidas pela Meggie mas a mudança foi tão abrupta que essa desculpa não funcionou.
4- Darios e Elinor são completamente descartáveis nesse livro, eles aparecem durante vários capítulos fazendo absolutamente nada e no final acabam conseguindo ir para o mundo de tinta também fazer um pouco mais de nada e acabam sendo apenas um artifício de humor, fazendo comédia pastelão em momentos errados.
5- Mortola voltar a vida como uma gralha foi muito esquisito, porque nunca foi mencionado esse tipo de magia em nenhum dos livros e do nada ela aparece e diz que com algumas semente específicas um humano pode se tornar animal e um animal pode se tornar um humano, a principio não entendi o porque da volta dela mas depois de algumas páginas fica claro que ela só voltou para a história para lembrar a Resa que ela também sabe se transformar em animal, se tiver as sementes e para dar ao Orfeu TODAS as 'armas' que ele precisa para voltar a trama principal depois que Dedo empoeirado tirou dele o livros e as anotações. Como seria bom se esse ponto fosse explorado e trabalhado desde o primeiro livro, imagina Resa usando uma semente e escapando do calabouço como um ratinho ao invés de receber uma visita do Dedo Empoeirado invisível só para saber se ela estava bem.. E esqueça essa história dele ficar invisível, a autora esqueceu então eu também vou esquecer.
6- Este livro está CHEIO de falso suspense. TODO o personagem do grupo principal que se perder será encontrado, se for capturado será resgatado, se for ferido será curado, se for morto será revivido então nada tema, porque não existe tensão nesta história.
7- Orfeu. Ele é um personagem bom mas com um enredo ruim amarrado a ele, porque ele deseja tanto ir para o mundo de tinta e quando consegue você percebe a felicidade nele e imagina tudo que ele vai fazer lá, porém durante 70% do livro ele fica desenterrando baus de prata que ele lê (o que é muito inteligente, diga-se de passagem) e fica maltratando o Farid, só isso. Você não vê ele articulando nada com os outros nobres, usando o dinheiro para adquirir poder na corte, usando a magia do livro para algo importante além de fazer animais bizarros para servirem de caça, é muito frustrante porque a autora tem um personagem bom, com uma arma mortal e não faz nada com isso.
Senti isso em vários momentos desta trilogia, os personagens são maravilhosos, quando a autora descreve os pensamentos deles, os hábitos, os desejos, você se perde nas páginas, porém estão todos amarrados a um enredo ruim que não usa seus pontos fortes e não exploram todo o seu potencial.
No final do livro quando o Incubo e o gigante aparecem eu fiquei muito incomodado pois, a história inteira é tão desligada da fantasia, que quando a autora mostra estes personagens que são marca carimbada deste tipo de história você acha esquisito e quando digo "desligada da fantasia" quero dizer que não existe nenhuma ligação profunda entre os personagens, a história e o mundo, por exemplo, a história principal é focada em pessoas comuns, ela inicia, se desenrola e termina sem praticamente nenhuma ajuda dos seres fantásticos daquele mundo, ninguém interage com os duendes na história, as fadas só servem para aparecer voando aqui e ali, os gigantes são lendas, os monstros das florestas não aparecem, os peixes comedores de homens no lago do castelo não aparecem, o Incubo e o Gigante só apareceram porque foram lidos, então da a impressão de que aquele mundo caminha do fantástico para o comum, como se em alguns anos toda a magia fosse sumir e sobrar apenas os humanos com seus problemas.
Enfim, talvez eu procure outras obras da autora mais para frente mas no momento encerro essa minha jornada no mundo de tinta um pouco cansado e com certeza decepcionado.