Queria Estar Lendo 15/06/2021
Resenha: Uma Conjuração de Luz
O terceiro volume da série Tons de Magia, da autora V.E. Schwab, é uma montanha-russa de emoções - e a montanha-russa está em chamas e você está gritando durante todo o percurso. Uma conjuração de luz começa numa espiral de adrenalina e conduz você assim até as últimas páginas.
Esta resenha vai conter spoilers dos livros anteriores.
A história começa exatamente onde Um encontro de sombras terminou. A magia sombria, na forma de Osaron viajou para a Londres Vermelha e planeja tomar aquele mundo para si; Kell está preso na Londres Branca e sua esperança reside em Lila, sozinha, atravessando mundos para chegar até ele. Rhy e os outros estão à espreita do inimigo ressurgindo. Dessa vez, para devorar toda a magia e aqueles que não se curvarem ao novo rei.
Uma conjuração de luz deveria se chamar uma conjuração de surtos, porque foi isso o tempo todo. Apesar do tamanho do livro, quase 750 páginas, elas passaram voando. Quando vi, já estava na metade, e então perto do final, e então terminando e chorando e gritando por tudo que senti.
Dividido entre as partes já familiares do resto da série, esse foi um volume para terminar tudo que havia deixado em aberto. Nenhuma ponta solta, nenhuma resposta vazia; Schwab usa todas as páginas para explicar o que aconteceu, o que poderia acontecer e como eles pretendem evitar isso. É um livro completo, com muita ação, reviravoltas e uma pontinha de personagens fazendo burrice à toa (o que já se tornou parte da série).
Kell segue o protagonista honrado e ansioso para fazer o certo. Depois do escorregão ao fim do livro anterior, quando quase se dobrou a um poder horrendo simplesmente porque foi tentado demais, ele carrega consigo a obrigação de corrigir isso. Ele sabe o que Holland sentiu; sabe o que ele experimentou e por que se dobrou a isso, e é um dos poucos que vê a humanidade no Antari da Londres Branca.
O papel de Kell nesse livro é muito do que já foi, mas é também de manter o equilíbrio. Onde Rhy, Alucard e Lila são impulsivos, Kell é contido e racional. Eu amo esse garoto com todo o meu coração, e me emocionei demais com o que ele vive, como luta, como defende aqueles que ama. Sua relação com a Lila e com o Rhy, principalmente, são duas âncoras às quais ele se prende para garantir que a luta siga pelos motivos importantes.
- O fogo precisa de ar. A terra precisa de água. E Osaron precisa de caos.
Eles são o amor do Kell, e a gente sente isso nas páginas, na maneira com que ele pensa e reflete sobre os dois. Seu irmão e a ladra que roubou seu coração.
O livro mostra bastante do poder do Kell e dos sacrifícios e escolhas que ele tem que fazer por ser tão poderoso. Junto com Holland, ele é um dos poucos capazes de parar Osaron e sua magia da Londres Preta. Mas o preço é uma coisa que fica em aberto, e a autora consegue costurar a tensão pra deixar a gente mais e mais nervosa com o que pode ser o final dessa história.
Lila volta a se mostrar uma personagem muito cabeça dura, do jeito que eu amo, mas também tem seus momentos de maturidade. Ela está bem mais contida nesse livro do que nos anteriores, com uma evolução notável tanto na sua postura quanto pensamentos e maneira de reagir a tudo que está acontecendo.
O possível apocalipse parece ter colocado um pouco (só um pouco) de cautela nos passos dela. Os riscos que aumentam com o passar do tempo também. Ela e Kell são a tormenta para o equilíbrio um do outro e eu amo como o livro trata o relacionamento amoroso deles de maneira natural; aconteceu e evoluiu e eles se importam muito um com o outro agora. É uma coisa intensa, tem muita química e é parte dos dois.
"Era mais fácil quando se andava pela vida, por mundos, como ela fazia. Era mais fácil quando não se importava, quando as pessoas chegavam a uma página e depois iam embora de novo, de volta para suas próprias histórias."
A Lila é uma toupeira às vezes, mas eu a amo. Eu vou sentir saudade. Ela foi tudo para mim, desde o incidente sem querer que a colocou no caminho do Kell (ou por querer, né) até o coração grandioso e corajoso que ela demonstrou na guerra contra a escuridão que ameaça esse livro.
Rhy, aqui, é outra peça essencial da história. O príncipe soterrado por acontecimentos traumáticos e por reviravoltas em sua existência sabe o que é a escuridão, sabe o quanto ela pode ameaçar tudo que existe, e está disposto a lutar até a última gama do seu ser para proteger seu povo.
Ele é um líder nato, tal como seu pai, o rei Maxim - com quem divide as melhores cenas do livro. Ele ainda é um garoto tentando fazer o certo, mesmo com os preços que tem que pagar. Ele é um irmão preocupado, vendo Kell partir para a escuridão sem muito que fazer para protegê-lo. Sem magia, tudo que Rhy tem é sua postura e sua voz de liderança, ainda que precise obedecer ao pai.
Eu morri com os dilemas que a Schwab trouxe para ele, os horrores que ele tem que passar, as dores que ele sofre. É tudo muito real e muito emocionante e, assim como os outros arcos, é coerente com tudo que conhecemos do personagem até agora. O príncipe libertino se foi; uma sombra dele restou, mas aqui contemplamos um personagem maduro e consciente (ainda que eu não entenda por que diabos ele fez o que fez lá no final, ficou burro de repente. Foi a pior escolha sem sentido do mundo e eu só perdoo porque te amo, Rhy).
Além de tudo isso, ainda tem o Alucard. O capitão charmoso e misterioso com quem Rhy tem um passado turbulento e apaixonado, com segredos que precisam ser esclarecidos se eles quiserem viver uma chance. Eu amo tanto KJASFOUSABGOUA o romance entre os dois. Tem as faíscas e a atração e a clara noção de que os dois estão apaixonados, mas tem aquele freio pela mágoa e pelo que rolou antes. Pelo que não foi esclarecido.
"- Quanto mais amamos, mais temos a perder. Mas a única maneira de evitar a perda é evitar o amor. E como um mundo assim seria triste."
Você se desespera durante tanto tempo porque esse impedimento pode estar existindo no pior momento possível, com a escuridão batendo à sua porta.
E o Alucard... O que dizer sobre o meu amor maior? Diferente da postura confiante e cheia de si do livro anterior, aqui vemos seus cacos. Ele perdeu muito, sacrificou muito, está disposto a passar por tudo isso de novo, mas está quebrado. E precisa se manter de pé assim como os outros para dar àquela Londres a sua melhor luta.
Todo o seu arco na história foi ótimo para um fechamento, com vislumbres do passado que ele deixou para trás e o que significou para ele, para o seu crescimento. Ainda tem coisas para resolver, mas dá para sentir no personagem que ele está nesse caminho - se, é claro, a escuridão permitir.
Por fim, acho importante falar do Holland. Sem falar, é claro, porque a surpresa está em toda a sua participação na história. Só preciso dizer que me surpreendi positivamente. Holland sempre foi um enigma, e aqui a Schwab tira todo o tempo necessário para entendermos quem era e o que se perdeu de quem era; o que ele viveu, o que sofreu, o que tentou fazer e falhou. Holland foi um personagem completo e o mais importante para toda essa trilogia, no fim das contas.
Num geral, o livro faz muito bem em explorar mais da magia das diferentes Londres e dos seus Antari, expondo novidades interessantes que se tornam importantes com o desenrolar da trama, sem jamais se desviar do propósito principal, que é salvar a Londres Vermelha da escuridão.
Osaron é um vilão forte, e ela mostra isso através dos embates com ele. É um vilão indestrutível, e cada novo comentário sobre ele, cada nova cena mostrando sua força, mais nossa tensão cresce. Porque ler sobre seu poder, ver ele acontecendo, torna toda a batalha contra Osaron uma jornada ainda mais angustiante. Não dá para saber o que vem para os nossos personagens no final, mas dá para saber que vai ser difícil.
"Mitos não tomam forma de repente. Eles se formam aos poucos, rolando entre as mãos do tempo até que suas bordas se suavizem, até que a repetição da história dê peso suficiente às palavras, às lembranças, para mantê-las em movimento por conta própria."
A minha edição estava um pouco problemática em questão de impressão, com as páginas tortas e a diagramação falhando linhas e espaços em alguns pontos. Não me atrapalhou, mas fica aí a crítica porque né... A Record às vezes dá uns escorregões desses. E barato o livro não foi.
Uma conjuração de luz é o final que essa história merecia. O começo já vem como um baque no seu emocional e, daí para frente, é só adrenalina e reviravoltas muito bem orquestradas. Esse livro só não se tornou o meu favorito porque Um encontro de sombras ainda conseguiu me causar mais surtos. Mesmo assim, é uma perfeição em forma de narrativa e encerramento.
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