Bárbara 21/10/2020Tocante e bastante atualHá quem diga que a maior alegria da vida se deu no momento em que se descobriu a gravidez. Isso é uma constante, mas não a realidade universal. Foi o que aconteceu com Rosa. Aos quarenta anos e recém separada, viu-se grávida de um homem com quem havia construído uma vida. Após 12 anos de relacionamento abusivo, ela conseguiu se soltar das amarras.
Numa escrita rápida e interessante, passamos a ver e a acompanhar as angústias da personagem. Uma história que cativa, e que ensina que é preciso se colocar na situação do outro.
O relacionamento tóxico a fez ter medo de contar para o pai da criança. Apenas quem passou na pele, ou já viu de perto, talvez entenda essa situação. Na noveleta, Rosa também mostra desconforto por estar em um novo relacionamento, e não saber como se comportar sobre essa gravidez. O novo namorado é bem mais novo, e isso também é um entrave. Há, ainda, o medo de perder o emprego após a licença maternidade, prática infelizmente tão comum, mesmo Rosa tendo uma carreira estável como supervisora numa empresa.
A autora nos entrega uma forte carga dramática e reflexiva. É uma jornada de dúvidas e de medos, de autoconhecimento e de aceitação. Temas como violência doméstica (física ou moral), preconceito, gordofobia, perda do emprego, inseguranças, homofobia e esperança são encontrados aqui.
Outro tema bem trabalhado foi a cobrança de ser excelente mãe desde o primeiro instante. Não somos um molde. Para Rosa, não foi fácil se ver grávida. Como você agiria ao saber que estava grávida de seu ex agressor? Complicado. Mas a experiência mostra que o amor é uma construção diária, que passa longe da maternidade idealizada, e que a empatia é uma ferramenta indispensável nesse processo. É uma história para ser lida com o coração. Que tantas outras mulheres se sintam representadas, e saibam que um olhar mais generoso sobre si mesmas é essencial.
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