Marcela 08/05/2021
Com uma narrativa ágil e envolvente que contempla personagens cheios de sonhos e defeitos, além de uma carga dramática que vem com revelações e surpresas, Colleen Hoover é sempre um ótima opção para sair da ressaca literária.
Narrado em primeira pessoa alternadamente por uma jovem mãe e por sua filha adolescente, Se Não Fosse Você traz a história de uma família que precisa se reestruturar após uma tragédia tirar o seu mundo dos eixos e abalar ainda mais a relação difícil entre as duas, que vivem momentos tão distintos da vida: enquanto Clara precisa lidar com o luto ao mesmo passo em que começa a conhecer a euforia do primeiro amor no colégio, Morgan se vê tendo que reconsiderar toda a sua vida, após ter abandonado a faculdade e a possibilidade de uma carreira para se dedicar à criação da filha e ao cuidado da casa enquanto seu marido sustentava todos os gastos... e, no meio do turbilhão, há ainda o sentimento mal resolvido com Jonah, melhor amigo de seu falecido marido, única pessoa que parece compreendê-la desde a juventude.
Embora o recurso de narração dupla não seja nenhuma novidade, o diferencial está na escolha da CoHo quanto às perspectivas serem, nesse caso, de mãe e filha, e não de um casal que se envolve romanticamente e precisa enfrentar dificuldades para ficarem juntos. Aqui, acompanhamos o quanto cada uma lida de seu modo com a relação que vai ficando cada vez mais desgastada graças aos segredos que escondem uma da outra por pensarem que não serão compreendidas. Por sinal, embora eu tenha entendido bem os dois lados, de forma geral, é difícil demais engolir pensamentos de adolescentes cheios de birra que se acham muito maduros sem nem sequer terem noção de nada. Por isso, embora tenha sido coerente até certo ponto, a Clara me irritou demais... e a Morgan me irritou um pouquinho por ser complacente demais e por SEMPRE se sacrificar pelos outros e ignorar a si mesma. Já o Jonah e o Miller são dois queridos.
Sobre a história em si, achei que os acontecimentos foram bem previsíveis no geral, embora não tenha sido um problema para mim. Foi interessante notar principalmente a diferença de percepção de uma realidade através das duas visões tão diferentes: uma jovem adolescente que busca independência, validação de opiniões e, sobretudo, viver a vida com intensidade, e sua mãe adulta que já passou por essa fase, sabe muito bem os perigos e desafios envolvidos e agora precisa se reinventar depois de anos vivendo numa situação acomodada. No geral, o desenvolvimento do enredo é bem estruturado, mas há pontos que ficaram em aberto e mereciam mais atenção para saciar a curiosidade do leitor, que se envolve nessa trama familiar (que poderia muito bem se tornar uma novela do tipo "selo Manoel Carlos"). Para mim, não é dos melhores da Colleen Hoover, mas, ainda assim vale a pena conferir.