Taynara.Barreto 31/12/2022
Attraversiamo, do italiano, vamos atravessar | @icouldreadallday
Desde que comecei a leitura, senti que a narrativa era divertida e o sentimento, por mais louco e incompreensível que parecesse, era real. Talvez porque fosse como eu me sentia. A história começa com a Liz fazendo uma análise sobre a sua vida e se perguntando por que não se sente mais feliz, se tinha tudo o que queria. A depressão a levou ao chão, literalmente, chorando desesperadamente, sem saber mais o que fazer e, quando uma voz a respondeu e ela soube que, de alguma forma, tudo ficaria bem.
Decidida a atravessar o mar de dor que vivia, ela se afasta dos relacionamentos e embarca em uma jornada de autoconhecimento para redescobrir o que gosta – depressão nos faz perder o interesse por tudo – encontrar Deus e amar a si mesma. Em suma, deixar a posse (seja por ideias, seja por coisas, seja por pessoas) e optar pela paz dentro de si.
Pode parecer fácil, mas deixar tudo o que se conhece para trás requer muita coragem. Sua casa, sua família, seu relacionamento, seus amigos, seu emprego. Eu sei, porque acabei de vir para uma cidade estranha na qual não tinha sequer onde ficar quando cheguei. É quando você percebe que realmente você é o seu próprio lar. Reconhecer seu lado sombra e abraçá-lo é tarefa árdua, mas é libertadora. Quando pareceu insuportável, Liz observou o Augusteum. Se ele sobreviveu às atribulações dos séculos, ela também manteria a consciência de si, apesar das provações externas.
Yoga foi bem útil nisso. Meditação também. O capítulo da Índia, obviamente, foi o que mais gostei! A ideia de que a única coisa que você pode controlar é a sua mente (o que, por si só, já é muito!), porque o resto é pura ilusão. Mas tiveram várias outras que também me chamaram atenção. Citarei apenas duas, porque vi acontecer comigo durante a leitura:
1. “Alma gêmea não é o encaixe perfeito. É o espelho. Mostra aquilo que te prende para que você mude em si mesmo. Te acordam como um tapa. Mas viver para sempre? Jamais! Cumprir sua missão e ir embora.” Na minha visão ocidental, isso soou muito diferente. Mas analisando faz sentido. Talvez por isso mesmo seja tão doloroso deixá-los ir.
2. A ideia de que, ao deixar sua zona de conforto, o universo preencherá esse espaço com o desconhecido que você precisa. Eu ainda não sei o que preciso, mas [...]* medo daquilo que apenas ainda não vivi não é uma dessas coisas.
O que me leva ao capítulo de Bali: assim como a Liz ao chegar em Bali, ao chegar aqui eu não tinha casa; não conseguia pegar um táxi no aeroporto; ninguém me espera; e eu não conhecia ninguém!
Contudo, as pessoas que a acolhem se tornam sua nova família e é exatamente assim que eu me sinto com esses estranhos (agora irmãos) que me receberam de braços abertos, com vinho, chocolates e, principalmente, deixando meus órgãos no lugar. E é aqui que ela aprende sobre amar: não uma pessoa em um relacionamento, mas a todos, sem exceção.
No fim, ela conclui que a versão final dela foi quem guiou a versão anterior durante o caminho para que ela se tornasse quem ela sempre quis ser. Preciso dizer que acho linda essa ideia, porque acho que a minha versão futura que tem segurado as pontas por aqui e tenho gostado muito do que tenho me visto fazer. Mal posso esperar para conhecê-la totalmente e foi para isso que comprei um bilhete só de ida. E você, já comprou o seu rumo a si mesmo?
* Editada por motivos pessoais que deixarei para o meu Clubinho de Leitura.
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