chuwanning 18/10/2023
Afe adorei
Eu li ldm há alguns anos, quando o Arthur lançou independente, e até fiz uma resenha sobre. tinha achado o livro incrível, porém confuso. minha experiência de leitura é sempre instável, depende muito do meu humor e de quem sou naquele momento. não tinha conseguido me apegar aos personagens, nada, e talvez porque não fosse o momento certo para ler. e o momento certo finalmente chegou.
nessa releitura de ldm, finalmente encontrei a ignição que procurava e terminei tudo me sentindo muito satisfeito. essa é a palavra: satisfação. com a estrutura do enredo, onde sempre tem algo acontecendo, por mais pequeno que seja, com os personagens, bem desenvolvidos na calma, e com o universo riquíssimo que o autor construiu. lebre da madrugada é desses livros que você lê e fica: como ele pensou nessa descrição? de onde veio essa ideia? porque é único e original, muito bem feito e pensado, cuidadosamente editado. todo o trabalho da Corvus tá, de novo, de parabéns. a edição é linda, os capítulos são bem encaixados, tudo faz sentido e está bem costurado. você lê e mal percebe que está na página 100, e de repente, puff, acabou. essa sensação se deve tanto ao trabalho do Arthur como escritor quanto à edição em si.
sobre a história:
eu amo o Andras. às vezes histórias de fantasia tentam criar personagens muito elaborados cheios de falhas porque hoje é modinha ter gays trambiqueiros em todo lugar, porém eu ainda me impressiono é com esses personagens, cuja essência pura e bondade além da conta parecem um erro em um mundo tão violento. o Andras vai de contra tudo que existe ao seu redor. ele se importa demais com os animais, até mesmo um roedor, uma cabra, um inseto. ele é incapaz de matar por raiva. ele sabe como conduzir o humor de alguém a ponto de conquistar aquela pessoa só no papo - exemplos: De Vis e o próprio Aeselir. a personalidade plácida dele torna a história interessante porque não é, em nenhum momento, sonsa, mas sim cálida, um conforto em meio a tanta gente estressada. adoro como o Aeselir é o tipo de pessoa que mata sem remorso, mas assim como fez ao cachorro Zimbro o Andras simplesmente domou ele rapidinho com algumas palavras, sendo um contraponto cauteloso e tranquilo ao caos que o Lyr é. é satisfatório ver o Andras crescendo porque, como dito, ele não é sonso. a curiosidade dele é uma coragem. em nenhum momento ele precisa aprender a manusear uma espada, lutar corpo-a-corpo. ele só precisa ser ele mesmo em todos os momentos, mas ao mesmo tempo ele muda, sim. entende? ele muda porque é o que os protagonistas fazem durante uma jornada, mas ele não perde a essência dele por nada, e isso é muito lindo.
já o Aeselir, que muda conforme a calma do Andras se insere no tumulto que é o temperamento dele, é tão doidinho que chega a ser engraçado às vezes. Aeselir é um reflexo de tudo que passou, que viu, reflexo da culpa que come ele vivo. é bonito ver que a essência dele, esta de guerreiro, não faz dele um homem violento por ser, mas sim pelo instinto de se manter vivo e combater. o Aeselir não tem um propósito claro nesse livro, isso só se esclarece em Príncipe Partido. ele está, aqui, no modo turbo: ou vivo ou morro. o Andras não estava nos planos, e ver ele quebrando a cabeça pra tentar se decidir sobre mantê-lo consigo, ao mesmo tempo em que começa lentamente a querer ser aquilo que Andras espera dele, é bonito de acompanhar. nossa, é tão satisfatório pensar que ele passa a querer ser melhor por causa do Andras. quando ele diz que espera fazer jus ao que Andras pensa dele, não é só por amor. é uma devoção, é porque boas pessoas têm esse impacto da vida dos outros.
quanto aos personagens secundários, eu amo o De Vis por mais otário que ele seja, porque o velho claramente se importava com o Andras mesmo. por outro lado, detesto Rafel, não tem coisa pior que um amigo ruim. Loreta 10 a 10. Callista 10 a 10. Giancarlo, lamento, mas acho gostoso. espero saber mais sobre a Mads no próximo livro, ela parece tão esperta.
adorei como o Arthur retratou o povo itinerante aqui. não sei se teve leitura sensível, mas os elementos que lembram a cultura romani realmente me pegaram, são muito interessantes. a Prizla pra mim tava certa e tinha todo o direito de trata o Aeselir mal, rainha que nunca errou. gostei muito do tempo que eles ficaram com os Lautar, foi divertido, foi bem descrito, sério, muito bom.
o livro termina com um cliffhanger claro para o próximo. nesse, vimos quem o Andras é, e no próximo conheceremos o Aeselir melhor. já estou indo começar Príncipe Partido...