Carla.Parreira 12/10/2023
Mulheres que amam demais
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O livro diz que mulheres que amam obsessivamente são cheias de medo: medo de estarem sozinhas, medo de não terem valor nem merecerem amor, medo de serem ignoradas, abandonadas ou destruídas. Tais mulheres dão o amor na esperança de que aquele por quem estão obcecadas cuide de seus medos.
Quando nossas experiências na infância são bastante dolorosas, somos frequentemente compelidos a recriar situações parecidas em nossa vida, com o intuito de conseguirmos domínio sobre elas.
A intensidade do desejo de cada mulher de ser prestativa ao parceiro indica muito mais uma necessidade do que uma escolha. Devemos aprender a viver uma vida saudável, satisfatória e serena, sem depender de qualquer outra pessoa para ser feliz. Estou nessa luta.
Quando fazemos por outra pessoa o que ela pode fazer para si própria, quando planejamos o futuro de outra pessoa ou suas atividades diárias, quando instigamos, aconselhamos, lembramos, advertimos ou persuadimos outra pessoa que não seja uma criança, quando não conseguimos tolerar no lugar dela as consequências de seus atos e assim tentamos mudá-los ou impedir suas consequências, estamos tentando controlar o outro.
Nossa esperança é que, se podemos controlá-la, refere a essa pessoa. E, logicamente, quanto mais nos esforçamos para controlá-la, menos somos capazes disso. Sinto que já fui muito controlada e confirmo a tese de que a mudança se dá através da aceitação e não do controle.
Aceitação é a antítese de negação e controle. É a disponibilidade de perceber o que é a realidade e de permitir que esta atue, sem necessidade de mudá-la. E na realidade mora a felicidade, que emana não da manipulação das condições exteriores ou das pessoas, mas do desenvolvimento de uma paz interior, mesmo diante de desafios e dificuldades. A verdadeira aceitação de um indivíduo como ele é, sem a tentativa de modificá-lo através do encorajamento, manipulação ou coação, é uma forma de amor muito nobre, e dificílima de ser praticada pela maioria de nós. Na essência de todos os nossos esforços para modificar outra pessoa, está um motivo basicamente egoísta, uma crença de que, através da mudança dela, tornar-nos-emos felizes.
Não há nada errado em querer ser feliz, mas focalizar a fonte da felicidade fora de nós mesmos, nas mãos de outra pessoa, significa evitar nossa capacidade e responsabilidade de mudar nossa própria vida para melhor. Ironicamente, é a mesma prática da aceitação que permite que outra pessoa se modifique, se ela escolhe modificar-se. Tentar modificar uma pessoa é frustrante e deprimente, mas exercer o poder que temos de efetuar uma mudança em nossa própria vida é hilariante. Desenvolver a espiritualidade, não importa qual seja nossa educação religiosa, significa basicamente abandonar o auto-arbítrio, a determinação de fazer as coisas acontecerem da forma que acreditamos que deveriam acontecer.
Em vez disso, devemos aceitar o fato de que podemos não saber o que é melhor numa dada situação, para nós ou para outra pessoa. Auto-arbítrio significa acreditar que sozinhos possuímos todas as respostas. Abandonar o auto-arbítrio significa tornar-nos dispostos a permanecer onde estamos, abertos, esperando por orientação. Significa aprender a abandonar o medo (todos os 'e se') e o desespero (todos os 'se ao menos') e substituí-los por pensamentos positivos sobre a vida.
Quando não estamos mais dispostas a agir de forma calculada para produzir um efeito, há um período durante o qual sofremos por não saber o que fazer, até que nossos impulsos amorosos verdadeiros tenham oportunidade de ser ouvidos e sentidos. As brigas se formam no seguinte ciclo vicioso: reconciliador, vítima e condenador. Cada um troca de papel a cada fala como num jogo de pingue-pongue. Uma das melhores formas de deixar passar a situação é cultivar o uso da interjeição 'ah'. É uma situação que possibilita não se envolver no conflito implícito de uma troca do tipo reconciliador, condenador e vítima.
Enquanto nos envolvemos nesses papéis, nesses jogos, parece que outra pessoa está impedindonos de atingir a meta de felicidade. Uma vez abandonados os jogos, detemos a total responsabilidade por nosso próprio comportamento, pelas própria opções e pela própria vida. Na realidade, quando cessam os jogos, as opções (as que já fizemos e as novas) tornam-se mais obvias, menos indistintas.
Quando nos tornamos tudo que somos capazes de ser, também assumimos total responsabilidade por nossas decisões, opções, pela vida, e dessa forma admitimos o amadurecimento. Enquanto não assumimos responsabilidade por nossas próprias vidas e nossa felicidade, não somos seres humanos inteiramente maduros, e continuamos a ser crianças dependentes e medrosas em corpos adultos. Ironicamente, quanto menos precisarmos de um parceiro, melhor parceiros nos tornaremos, e atrairemos um parceiro mais saudável. Conforme nos tornamos menos carentes, mais necessidades satisfazemos.
Apenas quando nos revelamos verdadeiramente é que podemos ser verdadeiramente amados.