A mulher ruiva

A mulher ruiva Orhan Pamuk




Resenhas - A mulher ruiva


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Rafael Mussolini 16/05/2024

A mulher ruiva
"A mulher ruiva" do Orhan Pamuk (Companhia das Letras, 2023) conta a história do jovem Cem Çelik, um garoto de classe média que sempre sonhou ser escritor. Após ser abandonado pelo pai, que foi atrás de seus ideais revolucionários, Cem decide mudar de seu local de origem para se tornar aprendiz do mestre Mahmut, um experiente cavador de poços. Enquanto procuram água em um terreno improvável, começam a estabelecer uma relação que, por vezes, preenche o vazio paternal de Cem, inclusive na ambivalência entre amor e ódio. A rotina do garoto acaba sendo alterada, quando ele se depara com a figura de uma mulher a qual ele chama de “a mulher ruiva”. O fascínio de Cem pela mulher beira a obsessão, passará a ditar os seus pensamentos, guiar seus passos e mudará o curso de sua vida.

Enquanto adentram cada vez mais para o fundo da terra, munidos apenas de picareta, pá e balde, Cem e Mahmut vão revelando alguns detalhes de suas histórias de vida. Como Mahmut adora contar histórias nas horas de descanso, Cem se deixa embarcar nas suas narrativas, sempre tentando imaginar a fonte das mesmas e qual a fração que pertence às próprias vivências do velho cavador de poços e quais são fragmentos das muitas histórias que passaram por ele.

"Ouvindo seus vívidos relatos sobre aprendizes descuidados, eu percebia que, em sua mente, o submundo, o mundo dos mortos e as profundezas da terra correspondiam, cada um deles, a partes determinadas e reconhecíveis do céu e do inferno. Segundo ele, quanto mais fundo cavávamos, mais perto chegávamos da esfera de Deus e de Seus anjos – embora a brisa fresca que soprava à meia-noite nos lembrasse que a cúpula azul do céu, com seus milhares de estrelas cintilantes, devia ser encontrada na direção oposta."

Orhan Pamuk concebeu uma história que encanta por suas diversas camadas. Quando trata da paixão de Cem pela mulher ruiva, ela o faz envolto em toda uma aura de mistério e sensualidade. O garoto Cem olha para a mulher ruiva com olhos de quem vê o próprio segredo da existência. Mesmo que incialmente não saibamos nem mesmo o seu nome, somos conquistados pelo própria idealização e amor que Cem criou pra si.

Uma outra faceta da obra que nos fascina é o trabalho de construção de um poço. A história, que se passa no início dos anos 80, em uma Turquia completamente diferente do que é hoje, narra métodos bastante arcaicos para se furar um poço. Mahmut e Cem utilizam de métodos totalmente manuais. No esforço de subir e descer o balde com toda a terra, pedras e demais fragmentos retirados do buraco, acompanhamos também o lapidar de suas próprias vivências. São exatamente nesses momentos de esforço e ações repetidas, que conhecemos a intimidade de Cem e muitas de suas ambições e dores. Pamuk nos insere em um clima que mescla um sentimento de admiração pela capacidade e coragem de descer vinte metros na terra de forma braçal, com o medo sempre eminente do soterramento total.

Para além disso, o autor trabalha muito bem ao mesclar em seu texto algumas referências a histórias clássicas e que dizem muito sobre os personagens. Cem é fissurado pelo mito de Édipo Rei. Um dos pontos de virada da narrativa é quando Mahmut quebra a rotina ao pedir Cem para contar uma história em seu lugar. Cem narra a história de Édipo Rei, do filho que mata o pai por engano e desposa, sem saber, com a própria mãe. O acesso a história do herói grego abre uma fenda na relação do jovem e do aprendiz.

A curiosidade de Cem pela história de Édipo Rei do Sófocles o leva a conhecer um outro conto épico de proporções e temática semelhantes: a história de Rostam e Sohrab, que faz parte do épico persa Shahnameh do século X, do poeta Ferdowsi. Ele seria uma espécie de anti-Édipo, onde o pai acaba por matar o próprio filho sem saber sua verdadeira identidade. Em ambas as histórias os heróis precisam lidar posteriormente com o grande sofrimento de terem aniquilado um parente próximo e as consequências desse ato.

A predileção de Cem, pelas trágicas histórias dos heróis gregos e persas, faz todo o sentido quando olhamos para seu histórico familiar e mais detidamente para sua relação com o próprio pai. “A mulher ruiva” é um livro que explora diversas minúcias que envolvem a paternidade.

"Recuando um pouco para examinar o assunto racionalmente, eu conseguia entender o que havia de tão familiar na história de Sohrab e Rostam e sua semelhança com a história de Édipo. Na verdade, havia paralelos surpreendentes entre a vida de Édipo e a de Sohrab. Mas havia também uma diferença fundamental: Édipo matou o pai, ao passo que Sohrab foi morto pelo pai. Uma história é de parricídio, a outra, de filicídio."

Cem Çelik foi duramente marcado pela ausência paterna. Mais do que ele mesmo percebe. Todos os seus passos após o abandono do pai, foram, ainda que inconscientemente, uma forma de obter respostas e preencher o vazio.

"Parece que todos nós desejaríamos ter um pai forte e decidido nos dizendo o que fazer e o que não fazer. Será que esse desejo nasce da dificuldade de distinguir o que devemos do que não devemos fazer, o que é certo do que é errado? Ou se deve ao fato de precisarmos o tempo todo nos convencer de que somos inocentes e não pecadores? A necessidade de um pai existe sempre ou nós a sentimos apenas quando estamos confusos ou angustiados, quando nosso mundo está vindo abaixo?"

Pamuk faz reflexões profundas sobre a complexidade das relações humanas e o impacto do abandono. Colocar o personagem abandonado, cheio de dúvidas e questões existenciais para cavar um poço, é algo que apenas um escritor com a genialidade de Pamuk poderia conceber.

site: https://rafamussolini.blogspot.com/2024/02/a-mulher-ruiva-do-orhan-pamuk.html
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Indiamara.Passos 24/04/2024

O livro te segura em vários pontos, mas, para mim, o capítulo que trás o outro olhar do personagem me fez querer finalizar logo para entender o desfecho apresentado algumas páginas antes. Um final que te faz repensar a sutileza das relações.
Mariele42 24/04/2024minha estante
Sobre oq é o livro?


Indiamara.Passos 24/04/2024minha estante
Uma história de conflito de paternidades ao longo de 3 gerações. Um cavador de poços e sua astúcia em contar histórias, um aprendiz de cavador de poços lutando com o abandono do pai, a descoberta do amor e o conflito ao descobrir que sem querer, repetiu o comportamento do pai.




Karin 26/03/2024

Perfeito
No começo achei que ia ser uma história bem tranquila de romance, mas as reviravoltas que a história deu foram imprecionantes... fora a forma como tudo foi contado e se encaixando perfeitamente na história

Amei a narrativa do autor e escrita ????
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davidionisio 25/02/2024

Um livro fascinante, que mistura a realidade do personagem com a narrativa de mitos antigos.
É interessante acompanhar o desenvolvimento da história que ao longo do livro possui várias reviravoltas muito bem amarradas ao enredo, e que vão construindo a expectativa que é quebrada (no bom sentido) no fim do livro.
Foi meu primeiro contato com uma leitura não ocidental, e me impressionou bastante.
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fernanda 13/02/2024

Apesar da história ser interessante, achei a leitura bem maçante, principalmente depois da metade do livro, a história fica bem previsível e repetitiva
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valmir 12/02/2024

A mulher ruiva
" Eu queria ser escritor. Mas depois dos acontecimentos que passarei a narrar, estudei geologia e me tornei empreiteiro."

Um livro sobre pais e filhos, sobre complexo de édipo, sobre vida, morte, aprendizados.
Interessante.!
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carina 10/02/2024

Muito bom! adorei a escrita o como a história vai se desenrolando, esse livro tem tantas camadas. eu esperava outra reviravolta, então eu fui surpreendida. mas, não sei se confio na versão da mulher ruiva e nesse papo de legitima defesa.
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Luzia 24/01/2024

Não é sobre encontrar água kk
No começo estava achando super chato, mas não desisti e que felicidade não ter desistido pq este livro é incrível. Após finalizar o livro fiquei um bom tempo pensativa, impossível tirar uma única conclusão pq a história tem muitas camadas, tantas que precisaria de uma tarde, um café e bons amigos p falar sobre ele. E esse final? que final surpreendente.
Adorei!! super recomendo.
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cherry_motth 05/01/2024

Todo homem alimenta o desejo de matar o próprio pai
Esse livro seria um dos favoritos de Freud, e eu não falo isso como um elogio.
Achei a leitura maçante e cansativa.
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Laura2117 27/12/2023

Viciante.
Livro que mais me impactou esse ano. F0da demais a história de Édipo Rei abordada nele em meio a história, tanto como questões edipianas, uma história que me prendeu demais!
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isabelhias 05/12/2023

Bem escrito, envolvente, e a leitura voa.
Não conhecia nenhum trabalho do autor e acabei comprando o livro só porque estava de promoção mesmo. E foi uma surpresa muito boa!
O narrador e personagem principal relaciona a sua falta de presença da figura paterna, bem como o posterior homem ocupante desse papel, seu mestre cavador de poços, com os mitos do Édipo Rei, em relação ao parricídio, e a história de Rostam e Sohrab, um filicídio de uma epopeia persa. Conforme o título, muito se fala da sua paixão inédita e avassaladora por uma mulher ruiva, que vai mudar o rumo da vida do personagem e encaixá-lo ora em um dos arquétipos, ora em outro.
A construção da vida conforme os mitos e a ideia de que a realidade ocorre ?imitando? essas lendas é a trama subjetiva principal. O livro é bem escrito, ou escrito certinho conforme meu gosto, com riqueza no aprofundamento dos processos de pensamento, na moralidade e nos devaneios do personagem.
Com certeza me fez ter vontade de ler outros livros do autor.
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Flá Costa 05/12/2023

Bom, mas?
É inegavelmente um livro bem escrito e logo nas primeiras páginas sentimos a potência da narrativa de Orphan. O livro tem duas reviravoltas interessantes e uma metalinguagem muito bem escrita (fiquei com vontade de ler Édipo na íntegra), mas a sensação é de que 100 páginas poderiam ser retiradas sem dano algum.
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Júlia 18/11/2023

É..
Eu tava achando péssimo, mas aí fui lendo, fui lendo. A verdade é que eu só não queria desistir do livro mesmo. Li mais um pouquinho. Quando foi chegando no finalzinho o negócio começou a ficar bom. Não é ótimo, hoje eu não o leria, mas até que é legalzinho. Mas só pro finalzinho que foi ficando legal pra mim, que é quando tudo vai se encaixando. Talvez alguém goste da tortura inicial.
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