Higor 29/07/2023
"LENDO NOBEL": sobre clássicos adaptados para o século XXI
Apesar de considerar a bibliografia de Orhan Pamuk um tanto irregular, com livros incríveis como "Uma sensação estranha" e "Neve", e outros enfadonhos, como "O livro negro" e "O castelo branco", sempre aguardo com ansiedade por seus lançamentos, talvez por outros fatores alheios à literatura, como o interesse pelo país, sua mistura caótica, mas ao mesmo tempo fluida entre ocidente e oriente, dentre tantas coisas.
Logo, a cada novo livro que encaro, a sensação que fica é a de "Hmmm, este livro vai para junto dos incríveis ou enfadonhos?" E é com pesar que este "A mulher ruiva" vai para o rol de livros fracos do autor.
Primeiro que "A mulher ruiva" é um livro totalmente previsível, a um nível que beira o frustrante. O plot da história, escondida na sinopse e nas orelhas, logo se revela nas primeiras páginas, em que o tema é debatido de forma quase que didática, sem que a aplicação do tema se desenvolva no personagem principal, o que demanda páginas e páginas com a impressão de que o leitor está andando em círculos, e quando o ápice enfim acontece, apenas comprova a previsibilidade esperada.
A sensação que me deu foi a de que o livro mais se parecia um estudo acadêmico sobre "Édipo Rei", de Sófocles, ou "Shâhnâmeh", um épico iraniano do século X, pois além de resumir as histórias por inteiro, Pamuk se debruça em detalhes das mesmas, de maneira, confesso, magistral, mas que soa um tanto incoerente quando a proposta é nos contar uma ficção.
Então os defeitos dos livros, ao menos para mim, saltavam das páginas sem o menor esforço. Os conhecidos e fascinantes temas que o autor sempre carrega em suas histórias, de confronto entre tradição e modernidade, religião e secularismo, democracia e ditadura, Oriente e Ocidente, se perdem, ou não trazem a força costumeira de Pamuk, então, ao final, eu fiquei refletindo em como a história foi contada de maneira óbvia e até preguiçosa.
Tímido, previsível e até mesmo pouco trabalhado, "A mulher ruiva" mais parece uma homenagem a dois livros favoritos do autor, mas sem trazer novos elementos ou algo que possa surpreender o leitor. Talvez a novidade seja trazer a história da Grécia e do Irã e ambientá-las, de maneira simplória, na Turquia.
Este livro faz parte do projeto "Lendo Nobel".