Vitória 26/04/2022
Vou começar esse comentário já dizendo que eu amo romances que se passam no campo. Por causa disso, eu já li muito livro de cowboy. Adoro quando as autoras falam dos animais, do dia a dia nas fazendas, ou até mesmo das cidades pequenas. Mesmo assim, eu sentia que esses livros iam um pouco pra longe da realidade brasileira quando se falava das plantações. Aqui, pela primeira vez, eu vi tudo isso retratado do mesmo jeito que acontece na vida real.
Pela nota da autora ao final do livro a gente percebe que ela tem alguma vivência nesse tipo de ambiente, mas, mesmo assim, dá pra ver o quanto ela estudou pra escrever essa história. Eu moro no nordeste, conheço a realidade do produtor rural do nordeste, e, mesmo a história se passando no Sul do país, eu reconheci muitas das situações que ela traz aqui. A única coisa que senti falta mesmo foi do velho pau-de-arara, mas não acho que esse tipo de transporte seja utilizado em outras regiões.
Gostei demais dos personagens. Eles são bem construídos, e isso faz com que o romance seja cativante. Por incrível que pareça, vou dar um destaque especial aqui pro vilão. Amei a forma como a autora desenvolveu toda a figura de malvadão do Tião só pra depois quebrar tudo na nossa cara. Achei que alguns pontos ali dele ainda poderiam ser mais esclarecidos, mas entendo que essa história não é sobre ele, então não posso pedir mais do que me foi entregue.
Chega um momento do livro em que a autora vai dando várias revelações pro leitor, e todas elas me deixaram completamente chocada. Como ela entrega alguns pontos do passado do Pedro ainda no início, eu pensei que, em pelo menos alguma coisa, eu conseguiria adivinhar, mas estava enganada. A Caroline me deixou de cara no chão a cada capítulo.
Agora vamos aos pontos negativos. No início, achei a escrita um pouco travada. Não sei se isso acontece porque a autora usa muitos termos que não são comuns no dia a dia da maioria das pessoas (apesar de que eu conhecia a maioria deles), ou se o problema foi com a escrita mesmo. O importante é que, da metade pro final, esse problema desapareceu. Também achei que, mesmo sendo um livro grande, com mais de 500 páginas, algumas coisas poderiam ter sido mais exploradas. Queria ter visto mais do relacionamento dos protagonistas antes dos dois se separarem. Tudo bem que temos uns bons flash backs enquanto eles não se reencontram, mas ainda senti que faltou alguma coisa. Também queria que a relação dos dois com a Aninha tivesse mais destaque. Pensei que veria uma família sendo construída ali, mas acabou que só tivemos o desenvolvimento do relacionamento da criança com os dois separadamente, enquanto eu queria ver mesmo era os três interagindo.
Mesmo com seus problemas, é um livro excelente. Não vejo a hora de pegar outra obra da Caroline Andrade pra ler. Agora só me resta esperar que alguma autora lance um romance em que um dos protagonistas seja militante do movimento sem terra pra minha alegria ficar completa.