Lucy 25/11/2022
Serial killer não podem ser romantozados
Acho que sempre teve o debate do "é errado consumir true crime?", que foi renovado agora, com essa série do Jefrey Dhamer. Mais o que deveríamos mesmo nos atentar é a romântização dos Serial killers. E todos nós sabemos o quanto é terrível isso, ver adolescentes no Tik Tok fazendo edits desses caras, porque eles são "lindos, sexys e carismáticos". Ter esse pensamento (é errado romântizar assassinos), é lógico e compreensível, quando pensamos em casos próximos à nós, mas quando se trata de casos que aconteceram a séculos atrás, ai as coisas mudam.
Acho que não estou sendo leviana em afirmar que Jack o Estripador já está muito enraizado na cultura pop ocidental (eu mesma li/abandonei um livro que usa os assassinados dele como pano de fundo pra um romance adolescente). Desde que consigo me lembrar, vi uma porrada de referências a ele em filmes/séries que retratam a era vitoriana. Muitas pessoas são fascinadas por ele, mas em nenhum momento isso é questionado, porque está tão longe da gente...
Por isso esse livro é tão importante. Nos dá um belo choque. Mostra que "sim, é problemático romântizar Jack tanto quanto Dhamer". E nos explica o porquê temos esse caso tão banalizado pela cultura pop, já que a própria mídia da época o banalizou.
Ler a história dessas mulheres, é imprescindível pra entender, como essa pessoa, seja la quem for, foi tão brutal quanto a sociedade da época. Ao contrário do que a gente vê nas mídias, a coisa do puritanismo vitoriano era apesar pras classes mais altas. O povão era mais pé no chão, e vivia do jeito que dava. Uma mulher pobre não tinha o luxo de manter mãos macias e ser a imagem da feminilidade, pureza e pudor. E por isso (e outras coisas), era vista de forma tão negativa pelos mais ricos. Com isso, uma mulher que estava sozinha às altas horas da noite, dormindo numa viela bêbada, não era nada mais do que uma prostituta (porque todas eram) e merecia uma morte assim. Jack estava fazendo um favor.
De todas as coisas que eu pensei lendo, o pensamento que alugou um triplex do Guarujá na minha cabeça foi; O império britânico, que era tão rico, raspou tudo o que pode das suas colônias, até fez guerra pra poder vender droga pra China, e não teve coragem de investir 1% das riquezas pro confronto das classes mais pobres. Se existisse pelo menos um sistema de saneamento básico, saúde pública e politicas publicas, creio que essas mortes teriam sido evitadas. Ao contrário do que se possa pensar, nenhuma dessas cinco mulheres queriam estar sozinhas, bêbadas e desprotegidas. Mas as circunstâncias de uma vida tão dura, as obrigou a estarem lá.
Esse livro é importante, não só pra nós mostrar um panorama do caso, mas para devolver a dignidade dessas mulheres, que foi arrancada tão brutalmente, quanto as suas vidas.
A pesquisa histórica aqui, parece ser impecável. Tem inúmeras notas de rodapé no situando, e isso só me mostra como a autora tava mesmo empenhada. Imagino que deve ter sido uma tour e tanto, procurar documentos e registros de mais de cem anos de cidadãs comuns.
Queria que no futuro pudesse ter uma adaptação pra filme ou serie, sendo feita por diretoras e roteiristas mulheres.
E não, Jack o estripador não é um Serial killer brilhante que nunca foi preso, é um maldito que nunca pagou pelos seus crimes, e que jamais deve ser exaltado de alguma forma.