Klara e o sol

Klara e o sol Kazuo Ishiguro




Resenhas - Klara e o Sol


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edu basílio 25/03/2021

kazuo & o brilho

futuro próximo.
os AA (amigos artificiais) -- robôs humanoides fotoalimentados, concebidos para serem companheiros de adolescentes -- se tornaram corriqueiros. os AA são comercializados em lojas e, como os automóveis, aqueles de uma nova série trazem "melhorias" com relação às séries precedentes.

klara não é uma AA da última série recém-lançada, mas possui uma capacidade excepcional, quase única, de apreender toda a dinâmica do seu entorno e captar as menores sutilezas nos olhares, falas e gestos das pessoas com quem conversa ou que simplesmente observa de longe. após um período de angústia, alternando dias na vitrine com outros nos fundos da loja, klara enfim cai nas graças da simpática jovem josie (por quem também manifesta uma espécie de afeto desde os primeiros contatos) e ganha um lar.

à medida que a narrativa avança, fica cada vez mais evidente o quão puro e ingênuo é o coração de klara, ao mesmo tempo que seu intelecto é extraordinário. é por meio do seu relato que se descortina para o leitor sua linda amizade com josie, que sofre de uma doença grave. construído com essa mistura improvável de ingenuidade e inteligência, o relato de klara revela também, aos poucos, a complexidade de um mundo transformado, em que a poluição atmosférica agride a todos e a possibilidade de edição genética em seres humanos criou uma profunda cisão social.

gravitam em torno de josie adultos cujas histórias de vida vão sendo reveladas por meio do mosaico das impressões de klara (ora uma alma que vê seus erros juvenis de décadas antes estapeando-lhe de volta o rosto; ora um cidadão que se engaja por seu ideal de sociedade, ainda que isso lhe renda ser tratado como pária, e muitos, muitos corações fragilizados pelo luto, angustiados pelo pavor de mais perdas e inábeis em lidar com o amor que eles próprios carregam). em meio a essa complexidade toda, a reverência de klara pelo sol -- que generosamente oferece a ela sua nutrição diária -- a leva a se pactuar com o astro por uma causa maior e mais ambiciosa, e que constitui a metáfora central sobre amizade e altruísmo no romance.

       "...and you're asking me why pain's the only way to happiness,
       well, I promise you: you'll see the sun again..."
               dido -- "see the sun" -- álbum "life for rent" (2003)


o livro é lindíssimo, com uma escrita límpida e docemente melancólica, como seria de se esperar em um romance de ishiguro. o que me trouxe uma pequena frustração foi o que enxergo como falta de ousadia do autor, tão elogiado e apreciado no mundo todo muito em razão de, até então, ter sempre construído cada romance radicalmente diferente de seus precedentes. mas não aqui: o senso rígido de 'dever de servir' de klara é idêntico ao do mordomo mr. stevens, de "os vestígios do dia", ao passo que a atmosfera sutilmente distópica, em que o conceito de humano está posto à prova, é idêntica à de "não me abandone jamais" (seria coincidência esses romances serem os seus dois mais aclamados e premiados, com conhecidas adaptações para o cinema?). em todo caso, em seu primeiro livro após ser laureado com o nobel de literatura, kazuo optou por transitar dentro de uma zona de conforto, o que vi como uma lamentável e desnecessária economia de ousadia.

relevada essa pequena frustração pessoal, também é fato que nesse novo romance há tudo o que amamos em kazuo: sua prosa contida e elegante, seu peculiar estilo 'niponicamente british', sua capacidade de conduzir a trama para aquele ponto em que uma pinçada no coração se torna inevitável... agora é esperar mais 5 ou 6 anos até termos a alegria de um novo romance seu -- o mesmo tempo que a gente espera por um álbum novo da não menos britânica (nem menos talentosa) cantora dido, que canta a linda "see the sun", cujo trecho transcrito acima eu achei possuir um encaixe natural nesta pequena resenha :-)

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Vinicius 25/03/2021minha estante
Legal! E quantas referências... vi que vc é leitor voraz do Ishiguro... ele está no meu radar faz tempo rs


edu basílio 25/03/2021minha estante
oi, vini! é, eu sou bem ishigurominion hehe. espero que você o aprecie quando der a ele uma chance. 'os vestígios do dia' e 'o gigante enterrado' são meus dois favoritos :-)


Joviana 26/03/2021minha estante
Que belíssima resenha. Resumiu o que senti e pensei ao ler :)


edu basílio 26/03/2021minha estante
oi, joviana. obrigado pelo comentário :-)
kazuo é de fato "um dos grandes", né... agora é esperar o próximo (lá pra 2026, hehe...).


Pandora 02/04/2021minha estante
Acabei de ler o livro, meu primeiro do autor, e achei sua resenha bem boa.


edu basílio 02/04/2021minha estante
obrigado pelo comentário, pandora. é impressionante o talento de kazuo em desenvolver dramas densos com sutileza e delicadeza. se você decidir ler mais livros dele, espero que você se encante como se encantou com 'klara e o sol'.


Helder 13/05/2022minha estante
Bela resenha. Diferente de você, não sou fã de Ishiguro, mas este livro me pegou de uma maneira incrivel, mas também me frustrei um pouco com o terço final, onde me pareceu que o autor se acovardou depois de nos mostrar aquele plot incrivel na galeria. Mas no fim ainda bato palmas para ele, pois tenho a impressão que ele deixou de usar um plot fabuloso para nos trazer um robô movido pela fé! Coisa de genio!


edu basílio 15/05/2022minha estante
oi, helder! que bacana esse ponto de vista... um robô movido pela fé. uma inabalável fé no ser humano, tão indigno de fé. eu não havia feito essa reflexão antes, e concordo muito com você. sob essa ótica, este romance adquire uma camada a mais de complexidade e o tapa na nossa cara estala ainda mais alto: um robô tem mais humanidade em seus algoritmos que nós em nossos corações. de fato, coisa de gênio!




Pandora 02/04/2021

“Klara e o Sol” foi minha primeira experiência com Kazuo Ishiguro. Estou encantada com a delicadeza com a qual ele conta sua história construindo uma ficção cientifica muito peculiar. Geralmente quando pensamos ficção cientifica envolvendo robôs e derivativos nossa expectativa se ligar mais a naves espaciais, explosões, tecnologias mirabolantes e coisas do gênero. A leitura do Ishiguro divergente totalmente dessa expectativa.
Klara, protagonista/narradora da história, é uma AA (Amiga Artificial) alimentada por energia sola. Ela faz parte de uma série de robôs criada para acompanhar adolescentes até o momento da entrada na universidade. Apesar de ser a protagonista do livro, ela é coadjuvante na vida de todos os personagens da história. Como coadjuvante, ela observa, registra e nos conta sobre um futuro no qual a humanidade apostou em um projeto eugenista onde crianças, com o consentimento de seus responsáveis, são expostas a processos que elevam sua capacidade intelectual, mas adoecem seu corpo podendo levar a morte. A tecnologia dos AA é desenvolvida para ajudar as famílias a cuidar dos adolescentes que pelo processo de elevação, pois estes vivem isolados, estudam remotamente além de em constante estado de debilidade física.
Na qualidade de inteligência artificial não importa quão absurda, incomoda, abusiva ou brutal seja a situação, Klara passa por ela como se tudo fosse muito natural, sem questionamento. Assim ela vive sua experiência nesse mundo eugenista, hierarquizado, desigual, brutal, extremamente fascista, e nos apresenta a ele sem arroubos, arcos dramáticos ou conflito de interesses. O impacto da história é todo nosso, a narradora não pisca ou vacila enquanto nos conta as coisas mais absurdas. Klara leu Kafka, tenho certeza!
Para mim, essas histórias brutais contadas de forma tão natural e terna são as mais difíceis de digerir. Não por acaso, leia o livro e você vai entender, estou agora debaixo da roseira plantada pelo meu irmão, kindle na mão, absorvendo os raios de sol, chorosa, digerindo essa história e sentindo medo.

site: https://gataleitora.blogspot.com/2021/04/klara-e-o-sol-resenha.html
Aleska Lemos 03/04/2021minha estante
Obrigada por avisar. Vou evitar esse livro kkk.


Pandora 03/04/2021minha estante
Pq Aleskita?


Aleska Lemos 03/04/2021minha estante
Oxe, tu terminou o livro com medo. Deve ter sido terrível.


Helder 13/05/2022minha estante
Que bela resenha! Consegui te imaginar embaixo da roseira tomando sol com lagrimas nos olhos. Sentimento perfeito trazido por este belo livro!




Marcelo 15/01/2024

Resenha disponível no Booksgram @cellobooks ?
Esse foi meu primeiro contato com a obra do Kazuo Ishiguro (e por coincidência foi o último livro que ele publicou desde que ganhou o premio nobel de literatura em 2017. Resolvi ler depois da fortíssima recomendação do meu amigo Eduardo Basilio, que disse que eu não poderia passar sem ler esse excelente autor.

O livro nos transporta para um futuro distópico e nos apresenta a história envolvente de Klara, uma inteligência artificial singular, dotada de uma perspicácia única.

A trama se desenrola em uma sociedade futurista, onde a tecnologia desempenha um papel central na vida cotidiana das pessoas. Klara, uma IA projetada para atender e satisfazer as necessidades emocionais de seus proprietários, narra a história em primeira pessoa. Começa relatando a vida de Klara na loja em que está exposta, a crença no poder do sol e o encontro com a menina que viria a ser sua dona. Sua visão única do mundo e de suas interações com os seres humanos proporciona uma perspectiva fascinante sobre a natureza da inteligência artificial e sua capacidade de compreender as emoções humanas.

A narrativa se desdobra com elegância, explorando questões éticas e morais relacionadas à criação e convívio com inteligências artificiais. Ishiguro aborda temas profundos, como a busca pela humanização das máquinas e os dilemas éticos envolvidos na criação de seres dotados de inteligência e emoções artificiais.

O autor consegue, através dessa metáfora, abordar tantas camadas de temas sensíveis como a fé, a crença em Deus, a família, a amizade, a esperança, a doação de sí mesmo para a felicidade do outro, a velhice, o abandono.

"Klara e o Sol" é uma obra literária que transcende o gênero ficção científica, oferecendo reflexões profundas sobre a essência da humanidade e os desafios éticos associados ao avanço tecnológico. Tudo isso escrito de forma delicada, sensível e tocante. Super recomendo a leitura.
edu basílio 15/01/2024minha estante
contente que a recomendação tenha te agradado, querido amigo. por mais que eu respeite (e até aprecie!) as piruetas textuais que fizeram a fama de gente como faulkner e saramago, eu tenho grande reverência pela densidade de reflexões que ishiguro consegue trazer com uma prosa límpida e elusiva ao mesmo tempo, pintando cenas em "em tons pastéis", com humildade e elegância ?


edu basílio 15/01/2024minha estante
contente que a recomendação tenha te agradado, querido amigo. por mais que eu respeite (e até aprecie!) as piruetas textuais que fizeram a fama de gente como faulkner e saramago, eu tenho grande reverência pela densidade de reflexões que ishiguro consegue trazer com uma prosa límpida e elusiva ao mesmo tempo, pintando cenas "em tons pastéis", com humildade e elegância ?




Raony 22/03/2021

Logo dois emendados pra dar overdose de Ishiguro. É aquilo, né. Escreve y escreve. Tem um começo bem mais interessante que o "Os Vestígios do Dia" (lembra bastante o "Não me Abandone Jamais", mas um final bem menos impactante que esse dois (daí tem um tom mais melancólico, tipo "O Gigante Enterrado". É lindo. Isso já vem pressuposto. Pra mim é impossível rankear esses quatro livros dele. Estão todos no mesmo patamar ali. Bem no alto.
Xxxxxxxx1 23/03/2021minha estante
Comecei por Klara e o Sol e engatei esses que você citou. Todos são 5 estrelas. Que autor incrível! Vou agora comprar os outros dele (Noturnos, Quando Éramos Órfãos)




reader_paulo 15/04/2023

Metafórico
Um livro realmente bom, mas com alguns pontos negativos:
Leitura arrastada
Descrições desnecessárias
Alguns fatos sem explicações
Klara, que um Amigo Artificial (AA) de Inteligência Artificial, tem uma relação com o Sol, como uma espécie de endeusamento, acredito que seja uma metáfora. Às vezes eu via o Sol, como de fato, o único companheiro de Klara, achei a Mãe e a Josie duas desalmadas. Criei um certo carinho pela AA. A cena em que descobri o real motivo por elas duas terem comprado a Klara, foi muito creep! Esperava bem mais desse livro, mas no mais, super o indico, é uma leitura leve. Fiquei em choque quando descobri que o autor o queria lançar como um livro infantil! Imagine o trauma? O fato do autor não ter nomeado a cidade em que se passa a história, me incomodou bastante e também por não ter explicado o que é uma "criança elevada", pelo o que entendi, são geneticamente modificadas. Rick merecia o mundo. Enfim, é uma história que nos ensina muita coisa, que a empatia sempre deve vir em primeiro lugar, mesmo que certas pessoas não a mereçam!
Luiz Leitor 15/04/2023minha estante
amo suas reviews ?




Natsume 15/04/2022

Fantástico como a Klara
O livro tem uma perspectiva muito única e crível, o jeito como Kazuo constrói a visão da Klara(e a diferencia de um narrador humano) é simplesmente muito interessante! O livro levanta debates muito importantes sobre as I.A's e suas consequências, assim como a sociedade... Recomendo a leitura.
Ana 16/04/2022minha estante
Amooooo




Ani 13/02/2022

Klara e o Sol
A história se passa em uma realidade onde adolescentes têm AAs (Amigo Artificial) que servem como companhia, uma vez que o contato social está cada vez mais raro. Klara é a AA de Josie, ela é muita perspicaz, curiosa e meiga, sempre pronta a aprender mais sobre os humanos. O enredo é envolvente e medida que avança prende mais a atenção. No entanto o final deixa a desejar. Parece que o autor não quis se comprometer com uma questão ética em relação a IA e a relação humana.
Rafael Kerr 13/02/2022minha estante
Oi. Tudo bem? Talvez você já tenha me visto por aqui. Desculpe o incomodo. Me chamo Rafael Kerr e sou escritor.  Se puder me ajudar a divulgar meu primeiro Livro. Ficção Medieval A Lenda de Sáuria  - O oráculo.  Ja está aqui Skoob. No Instagram @lenda.de.sauria. se gostar do tema e puder me ajudar obrigado.




luisguedes 08/08/2023

O que nos torna únicos?
Nessa história, exploramos um mundo tecnológico onde as IAs fazem parte do dia a dia das pessoas. A época e o local dos eventos não são claramente definidos, mas isso não tem um impacto forte na história. O foco está em Klara, uma IA robótica que aguarda junto com outras IAs até serem compradas. A trama se desenvolve a partir do momento em que Klara é adquirida por Josie, uma garota muito solitária que deseja que a IA seja sua amiga.

A narrativa é apresentada da perspectiva de Klara, que observa diariamente os conflitos que envolvem sua nova família. A compreensão de Klara sobre o mundo é limitada pelos conhecimentos que ela possui como IA, o que frequentemente a leva a ter uma visão literal e ingênua de sua realidade. Não acredito que seja uma referência do autor ao escrever esse livro, mas para quem jogou "Detroit: Become Human", Klara lembra muito a robô Kara. Já o comportamento de Klara faz muitas referências às três leis da robótica propostas por Isaac Asimov.

O livro provoca muitas reflexões atuais sobre os limites que a inteligência artificial pode alcançar. Chegará o momento em que o contato humano será substituído por robôs? É algo para se pensar.

No geral, a história é bastante leve e agradável. Gostaria muito que fosse adaptada para o cinema em forma de filme ou animação. Sem dúvida, foi uma ótima primeira escolha para conhecer o trabalho desse autor incrível.
ramosdaph10 09/08/2023minha estante
fiquei interessada em ler agora!!!!




Paulo.Ratz 28/12/2022

Meu primeiro Kazuo!
Nunca tinha lido nada do autor e sei que dizem que esse é o maia fraco, mas mesmo assim adorei a escrita, achei fofo demais e amei conhecer a Klara! Uma delícia de leitura!
gregre_v 05/11/2023minha estante
Se o Paulo indicou, com certeza vai pra minha lista de ?quero ler?! ??




Anna.Giulia 04/12/2021

Acabo o livro sem entender 10% da história. As dúvidas que tive ao longo da leitura não foram desenvolvidas nem explicadas
Thaís Furlan 10/01/2022minha estante
Me senti igual. Um monte de pontas soltas, tudo jogado




spoiler visualizar
Thaís Furlan 10/01/2022minha estante
Ainda bem que não me sinto sozinha. Um monte de informações jogadas e sem explicação. Nenhuma profundidade




Higor 04/07/2021

"Lendo Nobel": sobre o que é ser humano
Provando mais uma vez que tem o domínio da escrita e que a escolha da Academia Sueca foi acertada após alguns anos de polêmicas e láureas questionáveis, Kazuo Ishiguro, nos brinda, através de seu jeito singelo com mais uma história emocionante.

As Amizades Artificiais em "Klara e o Sol" são algo corriqueiro e sempre com lançamentos e versões ainda mais modernas, tal como celulares. Klara é justamente uma dessas AAs, que observa o mundo através da vitrine da loja onde fica, sempre esperando o momento em que será finalmente, comprada e útil para alguém. Enquanto isso, observa e absorve com efusão cada detalhe do comportamento humano, a fim de poder ser necessária a seu possível dono.

Em um dia aparentemente qualquer, conhece Josie, uma criança com quem se afeiçoa a Klara, prometendo levá-la para casa o mais breve possível, mesmo que a mãe não se agrade, ao menos em um primeiro momento, de tal aquisição.

Embora o livro seja escancaradamente futurista, não há necessidade de uma data precisa; ao invés disso, a história carrega um ar de nostalgia, como se passasse em um momento antigo. Tal sensação vem sendo característica de Ishiguro, como em seus livros Não me abandone jamais e O gigante enterrado, em que a nostalgia se sobressaia aos indicativos temporais, o que pra mim é incrível.

Como não podia deixar de ser, o livro traça pensamentos tanto éticos quanto filosóficos, levando o leitor a pensar sobre o uso exagerado de tecnologia. As pessoas em "Klara e o Sol" vivem isoladas, sem muito convívio social, logo, as AAs são a principal companhia de crianças, onde estão acessíveis 24 horas, para tudo, desde brincar a desabafar e estudar…

Parece aterrorizante, em um mundo com bilhões de pessoas, ter necessidade de tecnologia para ter amizade? Mas o que não fazemos hoje sem tecnologia? E nossos amigos virtuais, que conversamos à distância e nunca vemos? E se fossem meros robôs?

Os questionamentos não são rasos como os que expus, mas que levam o leitor a um clímax inesperado e questione as condutas dos personagens para, enfim, com o choque de realidade, perceber que fazemos o mesmo com tantas coisas, em tantos momentos, e que não deveríamos.

Mais do que como usamos a tecnologia, Ishiguro nos faz pensar também o que é, exatamente, ser humano, como seria se pudéssemos não sentir sentimentos, tanto bons quanto ruins, a fim de evitar o sofrimento. Tantas coisas a se pensar em um livro tão singelo, tão simples e sem mirabolâncias.

Altamente sensível e singular, "Klara e o Sol" é um livro para refletir sobre nossas relações pessoais, sobre quem somos e como lidamos com a tecnologia. Mais um grande acerto de Ishiguro.

Este livro faz parte do projeto "Lendo Nobel". Mais em:

site: leiturasedesafios.blogspot.com
Gorette 04/07/2021minha estante
Na minha listinha já.




Bárbara 30/03/2021

Sensível e belo
Primeiro livro do autor depois do recebimento do Nobel, neste enredo, desenvolvido num futuro próximo, conhecemos Klara, um robô humanoide que tem a função de ser um amigo artificial. Não confunda, ela não é uma criada, ou uma babá; sua função é de amiga e companheira de vida dos jovens, cuja missão é ajudar a passar pelos anos até chegar a época da faculdade.

Na história, as crianças são educadas em casa, e há "reuniões de interação", quando se encontram. Klara, assim como muitos outros, fica numa loja, à disposição de compradores, em exibição. Ela não é um dos modelos de última geração de AA, capaz de fazer acrobacias, e precisa de constante absorção da luz solar.

Porém, ela tem um diferencial; perspicaz e curiosa, consegue observar tudo o que diz respeito aos humanos.

Num de seus dias de exibição na vitrine da loja, Klara vê Josie, uma garota de 14 anos. Ambas ficam interessadas uma na outra. Josie tem alguma doença grave, que não é muito explicada no enredo (e é dispensável saber a respeito). Após um tempo de incertezas, Klara é escolhida para ser a AA de Josie, e passa a morar na casa da família.

Toda a obra é contada sob a perspectiva de Klara e, por isso, algumas passagens são descritas por cima, para que tenhamos a mesma sensação de falta de informação e dúvidas que a robô. Ela é uma personagem que observa toda a realidade à sua volta, como a poluição e a forma de construção da sociedade, cada vez mais adepta à inteligência artificial.

A premissa da obra é incrível. Hoje, somos cada vez mais adeptos aos autômatos incorporados à nossa vida: alexa e aplicativos, como waze, são apenas alguns exemplos. Imagine então que, num futuro, esses autômatos possam ser ainda mais humanizados, e passemos a conviver com eles como quase iguais. No mundo de Klara, isso acontece, e os robôs aceitam tudo como dentro dos padrões da realidade. Então, ouvir coisas do tipo: "não sei como me dirigir a você, como uma pessoa ou um aspirador de pó" é algo aceitável para a personagem.

Apesar disso, Klara é apaixonada pelo mundo dos humanos (mesmo não querendo ser uma, pois sabe beMm seu lugar no mundo). Quer aprender mais sobre eles, entender seus sentimentos e estar sempre à disposição para o que for necessário, ainda que isso signifique anular a si mesma.

É um enredo bastante sensível, e somos apresentados a temas como luto, altruísmo, sacrifício, empatia e, acima de tudo, o poder do amor. Uma obra emocionante, que trata da natureza humana e nos deixa estarrecidos com nossas ações enquanto seres humanos.

site: http://www.instagram.com/leiturasdebarbara
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vanessa.pivotto 24/04/2024

Quase lúdico!
Escrita muito bonita, bem fluída.
A história é contada do ponto de vista da Klara, uma Inteligência artificial em forma de robô, criada pra fazer companhia para crianças e adolescentes.

A história é um pouco lenta, mas não me desagradou. Só fica a percepção.

O autor sugere muitos acontecimentos que não são mostrados, achei diferente e interessante.

E a Klara é tão fofa.... ingênua até. Quase difícil de acreditar que uma IA seja assim, mas eu embarquei na construção dessa personagem e amei!
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Charles Lindberg 13/06/2021

Uma fábula encantadora sobre pequenezas que nos escapam
"Havia, sim, algo muito especial, mas não dentro de Josie. Era dentro das pessoas que a amavam."

ig: @charlindberg_

Este romance sensível e elusivo é um estudo de personagem profundamente filosófico em natureza, empacotado como fábula infantil. Nada é entregue explicitamente no texto, mas legado ao entendimento do leitor nas entrelinhas das relações interpessoais e diálogos cuidadosamente construídos.

Apesar de se poder rotular como ficção científica, Ishiguro não está tão interessado nos conceitos e ideias típicos do gênero, que, embora presentes, desaparecem nas bordas como aquarela, deixando em foco apenas os temas explorados pela própria Klara.

Klara é uma AA, uma inteligência artificial cujo propósito é acompanhar crianças durante seu período de desenvolvimento, para evitar que se sintam sozinhas. Ela é adquirida pela família de Josie, uma menina elevada, que vive doente, e passa a aprender sobre o mundo e as pessoas através de seu vínculo mais imediato, com Josie, e as relações de Josie com sua família e melhor amigo/namorado, Rick.

Como seguimos a história a partir de Klara, o livro oferece a perspectiva única de uma entidade que, apesar de extremamente inteligente e proficiente em comunicação, não tem experiência prática de vida, o que faz dela, para todos os propósitos, uma criança. No início, Klara tem um vocabulário limitado, referindo-se às roupas das pessoas apenas como "de alto nível" ou "de nível intermediário"; chama celulares de "oblongos", e por aí vai.

Ao longo da narrativa, conforme Klara vai aprendendo, nós encontramos conceitos sociais novos que, por não serem do interesse dela, nunca são propriamente explicados; em vez disso, nos confrontamos com o entendimento da IA sobre coisas como amor, família, solidão, sociedade, desconfiança, preconceito, religião e a individualidade da consciência.

Klara e o Sol é um livro belíssimo que propõe grandes reflexões sem oferecer respostas objetivas, num estilo que, mais do que nunca, encontra o autor num espaço entre ficção, filosofia e poesia; que consegue encostar o coração do leitor naquele sentimento efusivo que é o sublime da infância.

Nota: 4/5 Sóis
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