André 07/01/2023É meio difícil falar isso de um livro escrito por um ganhador de Nobel, mas Klara e o Sol foi um pouco decepcionante para mim.
O livro não é ruim, é bom, acho que vale a pena a leitura, mas senti que todos os temas abordados foram muito superficiais. O desenvolvimento sobre amor, as relações que construímos pela vida e às vezes perdemos, luto e responsabilidade são os que foram mais bem trabalhados, mas ainda assim é bem raso, até um pouco genérico.
Acho que esses temas acabaram não sendo abordados melhor porque a discussão sobre humanidade foi bem fraca. A Klara é uma personagem super interessante, mas a inserção dela (e dos AAs) nesse mundo é no sentido de serem robôs mais humanos do que os humanos, mas na real ela não é empática ou mais humana, ela é uma serva, designada para ser uma escrava, colocar seus humanos acima de tudo e pronto.
E no livro ninguém trata ela como alguém como um ser vivo, é um mero objeto. Inclusive no final do livro ela é deixada dentro de um quarto de depósito, depois abandonada num pátio... imaginem se fosse um gato ou um cachorro nessa situação, seria algo atroz, nenhum dono/tutor faria isso porque se cria um laço com esse ser vivo, tem amor.
O problema, a meu ver, é que não se desenvolve isso o suficiente, a problemática de uma "humanidade" que cria servos, dá alto nível de consciência a eles, mas que os tratam ainda como objetos e os prendem emocionalmente à família designada. É trabalhado um pouco na parte final, com a questão do retrato, mas só. Fica uma situação estranha, porque ela não é humana, é um robô criado para servir, que é tratado dessa maneira, mas que por ser narrado pela sua perspectiva acaba criando a impressão de que é humana, mas sem abordar a sociedade e como ela que é que está perdendo humanidade, não os AAs se tornando humanos.
Talvez, a intenção do autor era até criar essa reflexão, mas aí a narrativa ser pelo ponto de vista da Klara não ajudou. A narrativa é excelente, é realmente escrita maravilhosamente bem, mas por ser tão bem escrita a visão de mundo dela é bem limitada, ela não tem conhecimento sobre muitas coisas, só aquilo que é informado a ela, consequentemente nós leitores também conhecemos pouco. E nisso se aborda pouco sobre a sociedade e a questão da humanidade e da ética, e por outro lado se aborda muito mais a parte da família e relacionamentos, que foi bem genérico.
Enfim, escrevi demais, relendo a resenha acho que ficou um pouco confusa, mas tudo bem. O livro é bom, mas poderia ser melhor.