Becky Cunha 28/10/2021
Boa ideia, não muito boa execução
Quando vi a premissa do livro, achei interessante. A ideia não é inovadora, mas é sempre muito boa quando bem feita. Infelizmente, não foi o caso, o que me deixou muito triste.
O autor parece muito preocupado em nos mostrar tudo, cada detalhe, como se quisesse que, durante a leitura, soubéssemos o que ele sabe, o que ocasionou em momento desajustados e descrições fora de tempo (e uma obssessão por cor de olho) que nos tiram da leitura.
Há muitos erros de continuidade, deixando a narrativa mais furada do que peneira, e com várias inconsistências. E muitas são coisas bobas, como uma personagem dizer que lembra de tudo, contar alguma coisa vaga e finalizar com "Não lembro de nada.".
E isso porque o texto é EXTREMAMENTE expositivo, com o narrador ou as personagens sempre explicando o que está acontecendo, como se não confiasse no leitor para entender ou, talvez, não dando crédito à própria forma de contar a história e criando a necessidade de estar o tempo inteiro nos inteirando dos detalhes - mesmo que tenha acabado de nos mostrar. O bom e velho menos é mais.
Todos os personagens são descartáveis. Suas personalidades não são bem trabalhadas, e, ao invés de ir nos mostrando as facetas de cada um ao longo da narrativa de forma orgânica, nos é enfiado características dessas pessoas de maneira aleatória e, novamente, de forma atabalhoada e mal encaixada. Um exemplo é quando precisamos saber que determinado personagem é impulsivo. Ao invés de nos mostrar isso por meio da narrativa individual dele - aqui feita por meio de flashbacks -, é colocado de maneira indelicada no meio de um parágrafo com várias descrições fora de hora depois de um momento que deveria ser chocante.
Falando em chocante, várias cenas são milimetricamente feitas para nos chocar. Entretanto, o fato de se esforçar demais para isso, além de todos os outros fatores que nos tiram o tempo todo da narrativa, fazem com que não fique. Particularmente, cada vez que isso acontecia eu ficava triste por ver boas cenas sendo desperdiçadas.
Uma das coisas que mais me incomodou ao longo da leitura foi a falta de pesquisa. Não posso precisar se o autor de fato buscou essas informações ou não, mas o que dá a entender durante o livro é que não. Então, de cara, você esbarra com situações como o uso da palavra "mulato", que é extremamente pejorativa, ou a sigla DST, que caiu em desuso faz um bom tempo (questão de anos) e foi substituída por IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis), entre outras coisas.
Existem vários outros fatores que me fizeram não gostar do livro e, se eu fosse listá-los, ficaria aqui uma eternidade. Em resumo, é isso: foi uma boa ideia, mas que precisava de bons conselhos e muita lapidação para chegar lá.