Carol 13/03/2021
Desconfie até do narrador
Essa é uma lição importante quando lemos Agatha Christie - na verdade, qualquer boa história de detetive. Por ordem de publicação, esse é o terceiro romance com o detetive Hercule Poirot. O belga está aposentado temporariamente de seu trabalho, no vilarejo britânico de King's Abbott (onde a fofoca é o único passatempo compartilhado por quase todos), quando um assassinato surpreende a todos.
Um homem rico e poderoso é encontrado morto em seu escritório - a porta estava trancada, uma janela aberta e uma certeza, a que Roger estava sendo ameaçado por um chantagista que levou à morte uma amiga querida. E ele poderia ter o mesmo destino. A polícia local refaz os acontecimentos da última noite ao conversar com os familiares, amigos e empregados do falecido e não demoram muito para encontrarem o assassino.
Mas é um livro de Christie, então sabemos que o caminho fácil nunca leva à verdade. Sendo justa, os romances da autora possuem desfechos lógicos e até mesmo simples. Ela expõe os fatos e acontecimentos sem procurar esconder nada do leitor; somos nós quem ignoramos as pistas do início e ficamos surpreendidos com os desfechos.
E como esse livro me suepreendeu!
Poirot é envolvido no caso quando a sobrinha de Roger implora para que ele encontre a verdade, mesmo que seja para descobrir que seu noivo e enteado do tio é o real assassino, como acreditam os policiais locais.
Quando eu inconscientemente estava concordando com as respostas da polícia, nosso detetive belga me lembrou, com maestria e sua agradável ironia, como seus métodos facilmente desmontam tramas muito bem arquitetadas.
Porque todos que estavam na mansão na noite do crime têm um segredo e ele está determinado a descobrir cada um deles.
Eu gosto de como Poirot trabalha. Ele não fica para trás no quesito inteligência e perspicácia, mas possui uma sagacidade quando procura ler uma pessoa. Poirot é mais humano que outros detetives de autores da época (Holmes, por exemplo), por isso ele tem um time perfeito para compreender as pessoas e ler por trás de suas mentiras. A cena em que ele convoca para uma reunião todos os suspeitos, apresenta as últimas verdades ainda obscuras e desafia o assassino é perfeita - toda a narrativa foi conduzida por aquele propósito, com Hercules Poirot tranquilamente observando todos na exata posição que ele guiou.
O final do livro já causou discussões polêmicas, mas preciso resgatar minha experiência de leitura e aplaudir a autora por ter me enganado! A verdade desse livro não está no que foi dito, mas no que foi omitido e você não sente falta. Nós, leitores, precisamos ser justos com Christie e admitir sua vitória.
Ao menos, comigo foi assim.
Será que você consegue superá-la?