Pandora 22/04/2023A primeira vez que ouvi falar sobre Selma Lagerlöf foi por causa de seu romance A saga de Gösta Berling. Isso faz uns dez anos e desde então eu torcia para fosse lançado por aqui, o que aconteceu em 2021, pela Carambaia. No mesmo ano a Wish lançou este O anel dos Löwensköld [1] e até agora eu não tinha lido nenhum dos dois.
Contado como se fosse um conto de fadas sombrio, narra a história de um general e seu anel, este último objeto de cobiça durante meio século. É também uma história de fantasma, mas contada com ironia e crítica social.
Bengt Löwensköld era um camponês pobre quando foi para a guerra, mas destacou-se tanto que recebeu do rei Carlos XII o título de general, uma grande propriedade e um valioso anel, que ele ostentava mais do que tudo porque era um símbolo de sua fidelidade ao rei. Quando morreu, foi enterrado com o anel no dedo, como era sua vontade. Porém, na mesma noite, o anel foi roubado, o que gerou uma sucessão de infortúnios a quem dele se apossava.
Além de tratar do tema da ganância, sempre presente na vida da humanidade, temos também a questão da opinião pública, que com a mesma facilidade condena ou absolve alguém, em bases nada concretas, o que pode resultar na aceitação ou na ruína social de um indivíduo. Também trata de amor e renúncia, diferença de classes, do apego aos bens materiais, da (in)justiça dos homens e de vingança, é claro; e a forma como esses temas são tratados tem uma pitada de ironia e até de humor, como no diálogo de um casal de fazendeiros após a morte do general.
Como trata-se de uma novela, os assuntos não são aprofundados, mas a história é tão bem escrita, que dá o seu recado. Mérito também do tradutor, que manteve um texto fluido e agradável. Enfim, uma narrativa simples e agradável de ler.
Adorei este primeiro contato com a autora, só fiquei um pouco apreensiva quando, no posfácio, Helena Forsås-Scott, que em 2011 trabalhou em nova edição da obra de Lagerlöf em inglês, afirmou que a trilogia Löwensköld é bem diferente dos outros livros escritos pela autora, pois é divertida e séria ao mesmo tempo. E foi justamente esta combinação que tanto me encantou.
Nota:
[1] A trilogia Löwensköld é composta por O anel dos Löwensköld (1925), Charlotte Löwensköld (1925) e Anna Svärd (1928).
Sobre a autora:
Selma Lagerlöf nasceu na Suécia em 1858 e morreu em 1940. Foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, em 1909. Também foi a primeira mulher a fazer parte da Svenska Akademien, a academia literária da Suécia, em 1914.
Foi educada em casa, na propriedade chamada Mårbacka, em Värmland. Era uma criança quieta e séria que adorava ler e estudou inglês e francês. Decidiu ser escritora aos sete anos, após ler Osceola, de Thomas Mayne.
Quando Selma tinha 26 anos, a propriedade da família teve que ser vendida e isto causou um grande impacto nela. Com o dinheiro que ganhou com o Nobel, ela recomprou a casa e viveu nela até morrer.
Lagerlöf foi professora numa escola de moças por dez anos, num período em que morava com a tia; era uma atividade da qual gostava muito. Nesta época começou a escrever seu primeiro romance, A saga de Gösta Berling, que foi publicado em 1891.
Sua primeira chance como escritora veio ao ganhar um concurso literário da revista Idun, e após uma resenha muito positiva do famoso crítico dinamarquês Georg Brandes, sua popularidade disparou. A filantropa feminista Fredrika Limnell apoiou financeiramente seu trabalho, para que Selma pudesse se concentrar em sua escrita.
Um de seus trabalhos aclamados, além de Gösta Berling, é Jerusalém, publicado em 1901, que escreveu após uma visita à colônia americana dos Spafford, em Jerusalém. Mas curiosamente, a obra que foi traduzida para mais de 30 idiomas foi A maravilhosa viagem de Nils Holgersson, um livro de geografia para crianças que foi encomendado por uma associação de professores para ser usado nas escolas da Suécia. Nele, um garoto sobrevoa o país montado num ganso.
Selma Lagerlöf era ativa no movimento sufragista feminino e o fato de ser uma personalidade respeitada em seu país beneficiava as causas que ela apoiava.
Pouco antes de sua morte, ela interveio junto à família real sueca para garantir a libertação da escritora judia alemã Nelly Sachs e sua mãe idosa. O salvo-conduto chegou ao mesmo tempo que a ordem de deportação para um campo de concentração nazista, mas mãe e filha conseguiram pegar o último avião de Berlim para Estocolmo. Selma nunca soube do sucesso de sua intervenção, pois morreu antes. Nelly também viria a ganhar o Nobel, em 1966.
=> Em 1919, autora vendeu todos os direitos para o cinema de todas as suas obras até então publicadas ao Svenska Biografteatern (Cinema Sueco), tendo vários de seus textos adaptados para o cinema mudo. A saga de Gösta Berling, de 1924, filme dirigido pelo sueco Mauritz Stiller teve Greta Garbo no elenco.
A adaptação de Jerusalém para o cinema foi dirigida pelo premiado diretor dinamarquês Billie August em 1996.
A ópera I cavalieri di Ekebú de Riccardo Zandonai foi baseada em A saga de Gösta Berling.
Fontes: Wikipédia, Infopédia, Wikibooks.