rxvenants 25/05/2021Um final que mudou toda a minha perspectiva sobre o livroOBSERVAÇÃO: Vou falar diretamente do final. Não leia a resenha se não tiver chegado lá ainda.
Passei uma hora pensando pra fazer essa resenha, mas ainda não faço ideia de como começar ela, então vai assim:
Esperava: Felicidade na fantasia brasileira
Recebeu: Tristeza&+Tristeza
Paraíso do Sul é simplesmente incrível.
Eu considerei por basicamente 80% do livro dar três ou quatro estrelas, mas o final acabou comigo. A sensação que tive no final nunca vai sair da minha cabeça.
Antes de falar disso, vou falar alguns pontos: a leitura desse livro é MUITO fluída. Demorei só um dia pra ler ele e eu não consegui, de jeito nenhum, largar ele antes que tivesse terminado.
O livro pincela assuntos como racismo, lgbtqa+fobia, abandono parental e eu gosto bastante disso, mesmo que não tenha se aprofundado muito nos assuntos.
Gostei muito das explicações do "Por que vampiros viveriam num pais tropical?" e toda a história do vinhedo. São respostas muito práticas e inteligentes pra sustentar uma família da vampiros e ninguém da cidade perceber.
Sem falar que é muito bom ler nomes tipicamente brasileiros e um vampiro italiano chamado Luca que mudou o nome pra LUCAS SKDJAKKA.
Também gostei muito das referências literárias brasileiras (que sabor Brasil!!!!) e da referência ao livros de Diários de um Vampiro (muito superior a série).
E também gostei de ver os vampiros enxergando humanos como comidas, assim como vemos outros animais. É real pra caramba. Parece a noção mais óbvia do que vampiros realmente pensariam.
Em aspectos mais "sérios", esse livro é um grande conflito pra mim, também. Na mesma medida que tive pensamentos mais críticos em relação a ele em alguns aspectos, as minhas emoções não se importam em nada com isso. Tudo que penso que poderia ter sido feito de outra maneira, encontro imediatamente soluções.
Por exemplo:
Eu tive pequenos pensamentos tipo "que?" durante a leitura como quando Xavier descreve um castelo mais europeu do que realmente brasileiro, mas entendo perfeitamente quando existem sim chateus pelo Brasil e Paraíso do Sul sempre teve uma história de ser escondido, então qualquer castelo poderia ter sido construído ali pelos seres europeus e nunca questionado pelos moradores.
Também teve o momento quando foi comentado pelos personagens que o pessoal da cidade estava considerando que o animal que atacou as pessoas devia ser um lobo ou um urso. No Brasil, eu acho meio difícil esses dois animais, penso muito mais em onças quando vejo essas histórias, mas entendo que pra achar um motivo, as pessoas vão longe.
Eu tive outros pensamentos ao decorrer da leitura e fiquei debatendo bastante sobre o desenvolvimento de personagens e se eu realmente tinha me apegado a eles. Eu não sabia se tinha gostado do desenvolvimento de Laura e Lucas e não sabia se o conflito (não só deles, mas no geral) me convencia.
E aí a gente chega no ponto do final, e como isso mudou minha cabeça sobre absolutamente tudo.
Sabe aquela história que a gente não dá o valor devido para as coisas até que perdemos elas? Pois é.
Eu achava que tinha tudo resolvido, mas a vida não funciona assim.
Se tem uma palavra que descreve esse livro, é real. Paraíso do Sul é assustadoramente real, mesmo sendo uma fantasia com vampiros, bruxas e lobisomens.
Vamos ser sinceros: a vida pode ser uma droga. Ela é injusta as vezes e as coisas nem sempre caminham do jeito que queremos. Não somos todos especiais e nem todos nós teremos um final dos sonhos.
As coisas dão errado às vezes, embora também dêem certo.
Eu tinha toda essa dúvida em relação a Lucas e Laura, até que no final eles foram tirados de mim. E foi aí que eu percebi como eu tinha me apegado a eles e como eu torcia para que tudo desse certo.
Nos 80% finais, foi horrível ver as páginas passando e não sentir que as coisas iam dar certo pra todo mundo. Foi desesperador chegar no último capítulo e ver que eu não ia receber um final feliz da maneira que eu queria, mas sim da maneira que era preciso pra Laura.
É aí que eu vi como o desenvolvimento deles tinha sido bom, como todos os passos e todos os personagens serviram pra eu sentisse o que senti no final.
Eu não fiquei muito comovida com a traição dos amigos da Laura (eu inclusive ainda acho todo o arco da Laura com o Caio bem menos desenvolvido que todo o resto), mas fiquei arrasada por ter que aceitar que certas coisas as vezes só não dão certo do jeito que queremos.
Em quantos livros de vampiros eles conseguem lidar com a sede pelos protagonistas e ficam juntos no final com uma bela transformação? Vários. E esperamos por isso, amamos isso.
Mas olhando por uma perspectiva real, eu não consigo imaginar como isso daria certo. Não deu certo pro Egípcio, provavelmente não daria certo pra Lucas e Laura.
E aí você me diz: "mas eu só tô procurando fantasia, não algo real". Tudo bem. Mas não é belo ver o real na fantasia também e se identificar com aquilo?
É doido como essa separação do Lucas e da Laura no final me fez pensar na inevitabilidade da morte e como o amor não cura tudo. Existem coisas maiores do que nós e mais importantes do que nós.
Laura era uma humana que não queria virar vampira (com razão!) e tinha um namorado que basicamente era caçado por todo mundo, sendo realista, não tinha como ela proteger ele ou abraçar o mundo.
Laura chega a ficar desapontada por não ser diferente em certo momento e Lucas chega a dizer pra ela que ela não é especial. E é isso.
Essa é a história de uma garota comum que não tinha poder sobre o mundo, mesmo que isso seja cruel e injusto com o amor que ela conquistou. Não é só por que somos protagonistas que vamos ter tudo que queremos.
Se vampiros existissem, acho que esse seria o final mais real de todos.
Podemos ser arrebatados com coisas lindas e que merecem ser protegidas, mas nem todas têm a chance de ser.
Paraíso do Sul nos apresenta aquela porcentagem absurda de histórias que provavelmente deram errado pra que 1% pudesse dar certo.
A profecia da Laura falava isso e eu não quis acreditar o tempo todo. Ela poderia ser mudada, mas é raro, não são todos que conseguem. É essa expectativa que mata.
Eu fiquei muito tempo pensando nessas coisas. Em como a atitude do Lucas é a mais correta e a que mais dói também.
Além disso, não é doido como a Laura conseguiu o final que ela sempre quis, desde o começo do livro, mas mesmo assim ficamos tristes por ela perder toda a evolução e crescimento pessoal que teve nesses meses em Paraíso do Sul?
Esse livro é como ler sobre a sensação de impotência, de não poder fazer nada. De querer mudar as coisas e não poder.
Foi uma leitura fenomenal. Não vou me esquecer tão cedo do sentimento que tive no final (que é agora um dos meus favoritos da vida). Extremamente triste, mas extremamente bom.
Um dos meus nacionais favoritos. Espero ler mais coisa da Sacia no futuro.
P.S.: Sou cadelinha do Lucas.