Anna.Beatriz 18/12/2023
Meia estrela por toda raiva que passei com esse protagonista
Um protagonista nem sempre é amado e às vezes nos divertimos enquanto amamos odiá-lo, mas acho que essa dinâmica só funciona quando parte de vilões declarados - ou dos divertidos anti-heróis com os quais muitas vezes nos identificamos naquela zona cinza do fazer o bem mas não ter sangue de barata -, estes que assumem e vestem a camisa de não serem as melhores pessoas do mundo. Agora, não há nada pior do que um wannabe herói com síndrome de coitadinho que no fundo é uma pessoa horrível e culpa a todos menos a si mesmo pela desgraça que o cerca.
Esse é Gordon. Um homem amargo de 29 anos, com o sonho de ser um poeta, vivendo em um sistema que o impõe muitas amarras e torna a busca por esse sonho cada vez mais difícil. Gordon despreza esse sistema, e tem toda razão por isso, e portanto resolveu declarar uma guerra ao dinheiro.
A crítica social do livro, em seu coração, é completamente válida: os horrores da desigualdade social em um sistema capitalista; como apenas alguns têm acesso aos prazeres da vida por que estes podem pagar por isso; como a arte é desvalorizada em um sistema tão materialista, ou ainda, como a única arte realmente valorizada é aquela que carrega um valor material consigo.
“As hordas negras de funcionários que se apressavam em mergulhar debaixo da terra como formigas num buraco, enxames de homenzinhos-formigas, cada um com sua pasta na mão direita, o jornal na esquerda e o medo do desemprego, como um verme, plantado no coração Como ele os corrói, aquele medo!”
Tudo isso deixa Gordon amargo e desgostoso da vida, revoltado. Mas Gordon também é um acomodado, ele não se incomoda como isso afeta o todo, ele se incomoda como isso afeta ele. Ele se acha brilhante demais para estar entre as vítimas do sistema, ele deveria estar entre os beneficiados. Tanto que ele despreza qualquer tipo de tentativa de luta coletiva, caçoa, e diz com todas as letras que se ele e todas as pessoas que ele gosta estivessem bem de vida ele não poderia ligar menos para os milhões de miseráveis.
“- Toda essa história de socialismo, capitalismo, do estado das coisas no mundo moderno e sabe Deus o que mais. Estou c… para o estado das coisas no mundo moderno. Se todo mundo na Inglaterra estivesse passando fome, menos as pessoas de quem eu gosto, eu nem me incomodaria.”
Gordon é um homem egoísta, acomodado, mesquinho, machista, agressivo, chato, soberbo, tóxico, ingrato, enfim, uma pessoa impossível de se conviver, e eu durante a leitura, em meio aos meus milhões de revirar de olhos, só conseguia sentir pena dos amigos dele, tão disponíveis, que constantemente procuravam ajudá-lo, animá-lo, fazer com que ele se sentisse amado, e só recebiam patadas, ofensas e ingratidão.
Apesar de concordar com todas as críticas a esse sistema fundamentado na miséria, é impossível sentir empatia por Gordon, ele é terrível. Tão terrível que tornou a leitura desagradável e, ao contrário dos amigos que foram até o fim tão solícitos, eu não via a hora de terminar esse livro pra não ter mais que ouvir Gordon.
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