djalmanasc 19/02/2023
Queria que todo mundo conhecesse esse livro
Uma mãe solitária e desnorteada, a procura de qualquer emprego que distraia a mente de toda sua dor e que possa saciar seu vício: o crack. Esse é o fio condutor dessa novela, esse fio é costurado a sangue frio e nossa protagonista tem uma relação íntima com ele, deixando-o até escrever a história dela, literalmente. Aqui conhecemos Scotty, o cara que irá nos narrar a vida de Darlene.
O habitante da cabeça da mãe descreve todos os passos dela (e aqui aclamo o gigantesco Dalton Caldas pela tradução on point, pois é marcante um vocabulário informal, marginalizado e barato, com pontuações ausentes, entregando mais ainda suas condições imorais) martelando sempre em nossa mente o nível do risco corrido desde o começo. Por isso o autor nos leva a mergulhar e se misturar na angústia do bravo e destemido Eddie, o filho de onze anos, no segundo núcleo, que aos poucos ganhamos acesso às memórias antigas deles e as camadas da vida dessa família amplia a angústia de quem já estava apavorado com a situação, e entendemos o labirinto de Darlene e ficamos tão apavorados quanto ela.
Por ser uma novela, já é de se esperar o desaceleramento entre os capítulos, e de fato, precisamos dar pausas nesses intervalos por puro cansaço, tanto que levei um bom tempo para terminar. As narrações se unificam lá para o meio e assim dá pra ter uma leitura mais fluida. De qualquer forma, esse livro é chocante! Abordagem a respeito de assuntos tão sensíveis como prostituição e luto são recorrentes nas entrelinhas e explicitamente sobre onde a dependência e degradação pelo vício em drogas leva alguém? Tudo isso sob uma perspectiva racial e contemporânea.