notmuchcompany 04/10/2022
Alguém me pediu pra explicar o que entendi do livro (se é que é possível explicar uma história assim) e eu, naquela empolgação de alguém que terminou de ler algo que ainda não consegue mensurar, mandei uma série de mensagens com o seguinte texto:
(tem bastante spoiler)
Sammie é uma pessoa com pouquíssima propensão à solução de problemas. Ela os deixa acumular e meio que se apega a eles. Eles dão motivação pra ela, sabe? Andar em círculos acaba sendo satisfatório pra ela. Ao longo da vida ela teve algumas decepções, o filho talvez sendo a maior delas. Eu diria que ela não gostou do que criou (o filho, no caso), então criou algo (a suposta gêmea) em que ela aposta as fichas pra lhe satisfazer. Porque é fácil projetar em algo que não existe, né? Aquela filha poderia ter sido tudo o que ela quisesse. Mas veio o filho e ele tem questões com as quais ela não sabe lidar. Aí isso engole ela, sabe? Isso também vira um eixo central pra todos os problemas dela. Então a vida dela desmorona aos poucos, carreira, corpo, autoestima, a relação com a mulher, com os amigos, com os pais...
Várias vezes o filho aponta nela coisas que ela reclama dele e todas as vezes ela evade a questão, ela não enfrenta, não conversa. Ela pensa que adoraria que ele fosse alguém mais parecido com ela, mas ele é. Ele tem mais afinidade com ela do que com a outra mãe ou qualquer outra pessoa que nos é apresentada. Mas pra ela isso não quer dizer nada.
Aí tem o lance do sequestro, que foi um momento catártico, porque alguém tentou, muito diretamente, arrancar dela aquilo que ela construiu: o filho. E o filho estava indo embora por conta própria. Ali ela desaba como mãe e como pessoa. E anos depois, depois de ter sido questionada sobre quase tudo na vida, depois de passado por um espiral mental decrescente, ela descobre que aquilo em específico ela não fantasiou. Foi real. Uma ameaça real. Então, se aquilo foi real, o que mais poderia ter sido? Aquilo valida toda a vida em frangalhos dela. É bem louco.
O desfecho é massa porque o filho diz que ele não tava indo com o sequestrador por vontade própria, ele tava sendo forçado, e é genial porque mostra exatamente como a protagonista foge da resolução dos problemas: o que ela faz? Questiona o filho, põe em cheque o que ele diz e por fim muda de assunto. Fantástico!
Então é uma história que constrói bastante coisa, levanta bastante expectativa, e a gente espera algo enorme, mas na verdade, o climax (ou o mais próximo disso que esse livro chega) surge de algo pequeno, algo que tava na nossa frente o tempo todo: a inabilidade da protagonista. A gente vê a hora toda isso se desenrolando e a autora fechar o livro com isso é muito massa!
Enfim. Amei ??.