Resenhas - O parque das irmãs magníficas

fev 03/12/2022

Realmente magnífico apesar das dores
O parque das irmãs magníficas é uma das melhores leituras do ano para mim. É impecável.

Em relatos sobre a sua vivência e de outras travestis com altas doses de realismo mágico, Camila Sosa Villada constrói um enredo que escancara de forma crua a vida travesti. Entramos em um mundo de exuberância que é carregado de muita dor, preconceitos e violência. Villada deixa claro que ser travesti é maravilhoso por mais doloroso que seja. Porque se afirmar e existir como travesti é ser realmente que ela é.

Lendo sobre a experiência de Villada com a prostituição e das outras travestis me atentei o quanto a vida das minorias se assemelham independentemente do lugar em que sobrevivem. Não pude deixar de relacionar O parque das irmãs magníficas com a série espanhola Veneno, que narra a vida da transexual La Veneno, e a peça Brenda Lee e o palácios das princesas, obra que encena momentos da vida da ativista transexual brasileira Brenda Lee. São determinadas pela sociedade rica, poderosa e também pelos preconceituosos o limbo para aqueles que não nascem de acordo com as regras vigentes. Esse é um ponto comum em todas as obras. Dessa forma as mulheres travestis e transexuais na maioria das vezes precisam viver da prostituição, sofrer humilhações, violências e mendigar pelo básico para sobreviverem. Não são consideradas humanas. São apenas aberrações que precisam ser extirpadas da sociedade por pessoas hipócritas que se denominam de bem.

A luta para viver é constante, mas toda vida travesti e transexual é marcada por dores. Os relatos de tantas outras personagens que exploram a vivência com familiares, a busca incessante por pertencimento e acolhimento. Apesar da constante batalha contra o medo há que perpassa todo o livro há também momentos bonitos e felizes. Muito deles estão relacionados com as relações de irmandade entre as travestis. Os momentos de união e ajudas umas para com as outras.

Essa autoficção que bebe do realismo mágico mostra de forma interessante a marginalização que impomos para corpos diferentes dos nossos. É uma obra que traz uma questão não só para refletir e/ou admirar, mas que precisa ser urgentemente transformada. Não podemos deixar que tantas outras vidas possam ser destruídas somente por não estarem em comunhão com o padrão aplicado. Um relato forte que precisamos tomar e transformar. Criar novas vidas e expectativas para vidas transexuais e travestis.

Recomendadíssimo.

Douglas 01/05/2022

Fui ao parque e voltei triste.
Tive uma pequena dificuldade com o começo, logo acostumei e ler algumas cenas de violência, preconceito e dor fez com que lesse aos poucos. Também os fragmentos prejudicaram ler por vários horas pois não há uma linha do tempo na história.

Várias partes são tocantes, outras soam repetitivas e parassem que está ocupando espaço, as partes de fantasia não gostei muito. Fora isso tem o seu valor, tem potencial mesmo me deixando triste com a leitura.

anarontani 16/03/2023

?No beco sem saída onde a vida de todas as travestis desemboca, sempre dando combate sobre a intempérie, tratando de trocar um corpo morto foram vivo, um corpo que respire e resista, que sobreviva às mil mortes que a parca nos impõe no caminho ?

muito triste e dolorido ler esse livro!

Gláucia 02/05/2022

O Parque das Irmãs Magníficas - Camila Sosa Villada
Publicado em 2019 foi o livro de março/2022 da TAG, indicado por Amara Moira, travesti.
Tem um pouco (ou muito) de autobiográfico da autora, também travesti.
E é nesse universo que entraremos. Sua infância, seu autodescobrimento, a comunidade e seu linguajar próprio, a prostituição como forma de sobrevivência, a eterna luta por ocupar os espaços, incluindo aqui o da maternidade, direito que lhes é negado como vários outros, até mesmo o simples ato de existir.
Em meio a tudo isso, há um toque de realismo mágico, na figura de Maria, a mulher-pássaro e a mãe de todas as manas, a Tia Encarna e seu filho Brilho dos Olhos.

"Nós, as esquecidas, já não temos mais nome. É como se nunca houvéssemos pisado ali.".

Dessa 03/05/2022

Demorei um mês pra ler um livro de 200 páginas, infelizmente porque o universitário não tem paz! O livro é incrível, a escrita da Camila te envolve de um jeito surreal! Não conhecia a autora e agora só quero ler mais livros dela.
Livro triste, corta o coração de diversas formas, e abre nossos olhos com um estalar de palmada na cara. Leitura essencial.

nsilvamarques 15/12/2022

Um mar de violencias
Um livro sobre transgressões, violências - principalmente as produzidas pela sociedade, mas também as auto-inflingidas. Como o simples ato de ser quem se é, até hoje gera tanto ódio e tantas mortes? Livro necessário, difícil de categorizar, nu e cru, como a vida das travestis.

veiraque 18/10/2023

Me faltam palavras
Gostaria de ter tido tempo de ler toda a obra em um só suspiro. Pq foi essa minha sensação. A tempos uma escrita, história, obra, toda a trupe não me cativava como aconteceu com essa. História extremamente imersiva, só queria saber como ia ser o desenrolar, não me preocupei com horas, páginas lidas ou porcentagem.
Que vivência, que dom com as palavras e descrições.
Como soube descrever "absurdos" (para mim, pq são fpra da minha realidade) com tamanha naturalidade, talvez por ser essa sua realidade. Absurda e brutal. Que livro importante. Tenho um novo favorito, senti e compadeci com todas as vivências narradas. A de Maria, a Passará ou Natali. Coisas que flertam com o fantasioso.
As rainhas condenadas. O Brilho nos Olhos e Tia Encarna com toda sua história de amor.
O amor desenvolvido e aflorado pelo sobreviver.
Escrevo com o livro ainda fresco, acho que vai continuar assim, com todas as histórias me acompanhando. Com certeza lerei mais da autora.

Fabi | @almadeanaibaf 19/10/2023

Doloroso
Nossa, que livro!

Camila é uma autora travesti que, embora negue que esta seja uma obra de autoficção, retrata histórias que se entrelaçam com seu passado; basta assistir ao discurso que ela fez na TEDx, março 2018.

Com riqueza de detalhes e cenas bem fortes, sentimos um pouco das angústias dessas personagens. É chocante ver tanta crueldade e hipocrisia da sociedade, que trata as travestis de forma marginalizada - especialmente as que se prostituem; ainda que estas sejam refúgios sexuais para tantas daquelas mesmas pessoas.

É lindo ver como se unem e se transformam na família que muitas perderam ao longo do caminho. A autora tenta suavizar os relatos inserindo cenas com realismo mágico, inspiradas no folclore de seu país. Para muitos leitores, é realmente um respiro. Já na minha humilde opinião, preferia passar sem.

O Parque das irmãs magníficas é uma história agridoce, que nos faz refletir não só sobre como tratamos as travestis, mas também, a humanidade.

Recomendo, com cautela - tem cenas descritivas de violências e abusos; se você não estiver num bom momento, talvez seja melhor esperar mais um pouco - mas creio que seja uma leitura transformadora para todos que se dão a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre as travestis.

KarlaTavares 23/05/2022

Irmãs magníficas
Esse livro pode ser uma autobiografia... conta os horrores e as delícias de ser uma travesti na Argentina. A autora traz um realismo fantástico em diversos momentos, talvez pra fugir da dura realidade que enfrenta?
A leitura é fluida, ora bem dolorida ora bem divertida.

MatthewsVianna 28/04/2023

Uma história que mostra de um maneira muito descontraída e sincera um vislumbre da vida das travestis que, em busca de subsistência, se prostituem e que para se resguardar criam uma rede de proteção, em que dependem umas das outras e da sorte. Sempre da sorte.

Gostei muito da narrativa, principalmente pelas pinceladas de realismo mágico, muito característicos em textos em língua Espanhola.

Paula A. C. 29/12/2022

O parque das irmãs magníficas é um livro doloroso, porém necessário. Com sua escrita poética, a autora tece uma autoficção repleta de realismo mágico. Lindo do início ao fim.

Oscaraujo 01/05/2023

Interessante pensar no formato que Camila escreve, porque é de uma forma meio bamba mesmo. Tem hora que estou me deleitando com seus capítulos cheios de palavras bonitas, metáforas e parágrafos totalmente poéticos; mas tem horas que a autora é dura e objetiva. Eu não sei se era a intenção, eu preferiria continuar o livro inteiro nesse formato poético (por mais que o tom de toda a história já seja, por si só).

Oyakimim 07/01/2023

O Parque das irmãs magníficas
A coragem de ser o que é, mesmo que o caminho seja cheio de preconceito, crueldades, amargura e acima de tudo a violência sobre seu corpo, mente e alma. E apesar de tudo isso, ainda conseguir sorrir em meio a tanto caos que é a vivência de um travesti.
Com certeza um livro necessário a todos!!!

barrozo.alessandra 18/06/2022

Dor e beleza preenchem todas as páginas da obra de Camila. Forte e intrigante, o livro me lembrou, em muitos momentos, o prazer que é a literatura latinoamericana e a magia que é viver aqui. Nunca li algo parecido. É uma leitura maravilhosa, mas sem dúvidas exigente.

Liliane225 16/01/2024

Quanto mais gosto de um livro, mas dificil resenhar sobre ele
“Quando comecei a me trasvertir sentia vergonha da minha barba aspera, meu nariz torto, meus dentes tortos, sentia vergonha da minha falta de estudos, minha falta de visão de mundo, minhas dificuldades em me expressar, até minhas virtudes me envergonhavam; porque nascer era um dos meus erros.”

Esse livro me pegou demais, ouvi no audible, primeira vez usando o aplicativo e amei, a voz da narradora Valéria Barcellos foi extremamente potente durante todo o livro, fiquei emocionada, chorei bastante no final. É uma leitura que a cada capítulo te faz parar pra pensar. Fiquei impressionada com o tamanho, tão pequeno e tão cheio de detalhes, de emoção, sentimentos e personagens que cativaram tanto, me apeguei a todas as travestis do parque, chorei por cada uma e o final me deixou com muitas questões, que leitura incrível.