Ygor Gouvêa 04/10/2021Livro intenso mas sutil. Dividido em duas partes, a primeira em terceira pessoa, próxima a um oficial israelense um ano após a Nakba, e a outra em primeira pessoa, narrada por uma palestina em busca da descoberta de uma história. Existem muitos espelhamentos entre elas, ressignificações, sempre perpassando pelo símbolo do apagamento de uma cultura, de uma história. Com poucos detalhes a autora consegue nos mostrar o estado de exceção que vive o povo palestino. Ainda sobre a transição de uma parte pra outra, é passada inicialmente a ideia de que se passam num mesmo tempo, quando na verdade a segunda parte se passa décadas depois, introduzindo uma ideia de um passado q não passa, de viver um tempo perpétuo marcado pelo trauma, pela ruptura, o que pode ser uma das grandes chaves do romance. Também é um texto verborrágico, dá detalhes de coisas que as vezes soam aleatórias, como se os narradores não soubessem bem o que relatar, o que enfocar, o quadro é sempre um pouco deslocado, como a própria história que conta, já que atingi-la não se é possível, nem mesmo é possível saber por que vias se atingiria, o que torna o texto fragmentado, por mais que seja fluido.