Jan... 18/09/2021
Um escritor, defendia Adriano Santiago, precisa de uma doença, de preferência uma que não seja possível diagnosticar. Segundo ele, havia dois inimigos da inspiração poética: o primeiro era ser saudável num mundo tão doente; o segundo era ser feliz num mundo tão injusto".
"Maniara reparou então que Almalinda era estranha: os seus pés não deixavam pegadas. Esse sinal apenas confirmava o que diziam: que ela era uma criatura das águas. Todas as outras mulheres deixam uma pegada funda. Grávidas ou não, elas carregam dentro delas a humanidade inteira".
""Alguém disse que a esperança alimenta multidões. Pois eu digo: o desespero cria exércitos alucinados."
"Eis a ironia. O fascista Vitorino faleceu nas masmorras do fascismo. O racista Vitorino morreu rodeado de negros, que foram os únicos que rezaram pela sua alma."
Melhor livro que li esse ano, O mapeador de ausências , do escritor moçambicano Mia Couto. Um romance com diversos elementos autobiograficos. Em 2019 Mia Couto ia visitar Beira , sua cidade natal, que seria cenário de um livro seu. Porém um ciclone a devastou e ele descobriu havia sobrado apenas a Beira de suas memórias.
O livro narra a história de Diogo Santiago, um poeta que retorna a Beira, sua cidade natal, antes do ciclone. Algo que o autor não conseguiu realizar na vida real.Através de documentos e cartas de personagens de seu passado, sua história e também a de Moçambique , vão sendo reavivadas em fragmentos. Como pano de fundo temos o conflito pela independência de Moçambique, que durou dez anos. Portugal estava sob o regime militar de Salazar. As tropas portuguesas foram responsáveis por uma carnificina extremamente chocante na cidade de Inhaminga.
A história também retrata o racismo e a miséria extrema , legado deixado pela colonização portuguesa em Moçambique. É um livro poético, cheio de metáforas , de reflexões , elementos e palavras da cultura de Moçambique. Amei conhecer a escrita de Mia Couto. Recomendo demais !!!