Laryssa234 06/04/2024
Uma bomba atômica
A trama começa quando Addie LaRue, nossa protagonista, faz um acordo com o diabo para sair de um casamento arranjado e, finalmente, viver a vida de aventuras que sempre sonhou viver. Mas há um porém. Ela não apenas se torna imortal, mas também é instantaneamente esquecida por todas as pessoas que conhece assim que saem da sala em que está.
Cerca de trezentos anos após o feitico ser lancado, Henry Strauss (alguém sem nenhuma característica interessante) conhece Addie no sebo onde trabalha. Quando Addie retorna à loja dias depois, Henry ainda se lembra de quem ela é. Esta é a parte em que entram as cenas de amor instantâneo e de montagem de comédia romântica. E que, pro choque de todos (ironia) ele também havia feito um pacto satânico. Onde ele havia sido rejeitado no dia do casamento, e fez um pacto onde as pessoas se apaixonariam imediatamente por ele, ou veriam aquilo da qual elas sentem falta. Por isso, ele não consegue ter nenhum relacionamento saudável e honesto.
Agora, Addie é uma personagem incrivelmente chata para começar.
Ela é egocêntrica e insensível, e realmente não tem hobbies (o que é bastante estranho para alguém que está vivo há trezentos anos).
A história tinha tudo pra ser bacana, a premissa é quase genial.
O início da história de Addie Larue, que mora no interior da França entre o século XVII e XVIII, percebemos que a personagem é a clássica mulher moderna que “não quer casar, que tem pavor a homens e despreza toda a ideia de outras mulheres terem filho e familia”. O problema que essa construção da personagem ficou extremamente forçada e repetitiva, uma cópia de tudo que se tem feito nos últimos anos em literatura, filmes e séries. O que só demonstra desesperadamente o objetivo da autora que é apenas ser aceita no mercado.
Será que vale a pena ser imortal apenas para viajar, comer o que quiser, fazer o que quiser e viver de prazeres puramente terrenos?
Essa temática poderia ter sido imensamente mais bem construída e discutida.
Mas Addie Larue, uma alma de 300 anos, usou todo seu tempo pra beijar muito na boca, apenas isso. E sua unica preocupação é que a pessoa com a qual ela dormiu na noite passada não se lembre dela ao amanhecer.
A personagem continua constantemente a ter 23 anos de idade e isso se dá pela pobreza em construir um personagem com profundidade.
Outra coisa que poderia ser infinitamente melhor explorada: as sete marcas no rosto de Addie, poderia fazer uma referência as setes marcas de Caim ou a ideia dos 70x7
O fato da idade de Addie não ter amadurecido é pura e simplesmente pro leitor se identificar. Não teria como ninguém se identificar com o amadurecimento de um ser humano de 300 anos.
Absolutamente todas as referências de vida da Addie são relacionamentos amorosos.
O que eu esperava de uma personagem condenada sem se quer tem o acalento da morte, era que ela se sentisse entediada, depois de viver 300 anos e ver todas as revoluções e guerras intermináveis, o fim e o começo, sempre e sempre. Addie debochava de Isabelle por ela viver em uma prisão com marido e filhos, mas Addie também vive em uma prisão.
Então, como você pode imaginar, quando as circunstâncias a levam a desenvolver sentimentos por outro personagem chato, o relacionamento fica tão obsoleto quanto possível. Porque o que Henry e Addie fazem a não ser passear pela cidade de Nova York?
Essa repetitividade não se encontra apenas na trama em si, mas também na escrita. Já ouvi muitas pessoas dizerem que este é o melhor texto que já viram da Schwab até hoje. Que é lindo. Que é lírico. Cada um com o seu, mas se isso for considerado um texto incrível, começo a me perguntar o quão baixo está o padrão nesse assunto. 0 texto está repleto de metáforas obscuras que não fazem muito sentido, a mesma estrutura de frase é usada continuamente e muitas palavras e frases são usadas, reutilizadas e reutilizadas...
Alguém consegue contar quantas vezes uma frase começa com 'e ainda' ou 'piscar? Quantas vezes algum menino tem 'cachos pretos caindo na testa'? Quantas vezes as sete lindas sardas de Addie formam uma constelação ou algo assim? Ou a repetição cansativa da palavra "ambâr" ou "palimpsesto", como se autora fosse uma criança que ao descobrir uma palavra nova quer repeti-la até se cansar.
Ou quantas vezes Addie LaRue quer ser a 🤬 #$%!& de uma árvore?
Você poderia pensar que, com aquele enredo excêntrico, o autor teria sido capaz de compensar o que faltava em outras áreas. A leitura deste livro poderia facilmente ter sido menos dolorosa se, digamos, Addie se envolvesse nos eventos históricos que moldaram o mundo como o conhecemos hoje. Isso teria sido interessante. O autor, no entanto, decidiu mencionar Frank Sinatra e Beethoven, fazer com que Addie fosse presa na Alemanha por uma fração de segundo antes dela ser salva pelo diabo, e pronto. Schwab se deu dez anos para escrever este livro e ainda se permitiu (e a seu personagem principal) encobrir os acontecimentos mais importantes.
É uma personagem cuja sua única preocupação é ter alguem pra amar. Nos 300 anos ela não se preocupa em estudar a natureza de seu pacto, ou a do ser estranho que fez a proposta. Sua única preocupação é se relacionar com as pessoas por ai.
Para mim, este livro é tão esquecível quanto a própria Addie LaRue.