Ley 22/07/2022A complexidade do livro vale totalmente a pena.É difícil escrever sobre este livro porque a experiência só pode ser transmitida com exatidão se você se dispor a lê-lo. O início é o mais complicado de se conectar porque ainda é algo totalmente fora do comum, o estilo da escrita é diferente, até mesmo a disposição dos capítulos. O contato inicial com a história foi diferente para mim, mas não me fez desistir dela.
Vita Nostra acompanha Sasha, quando adolescente e passa as férias com sua mãe em uma região com praia. Ao invés de aproveitar bem o período, que é o que Sasha quer, ela se vê perseguida por um estranho que propõe tarefas absurdas e sem nenhum propósito aparente. Após alguns encontros e várias tarefas mais tarde, ela é coagida a entrar em uma universidade proposta pelo mesmo estranho.
Sasha realmente se vê sem escolhas. Não há como saber a dimensão das consequências se ela não aceitar o que o estranho, Farit, quer. É então na universidade que minha curiosidade ficou mais aguçada. Ao mesmo tempo que o novo ambiente entrega uma nova perspectiva, ele também dá novos mistérios, ainda mais densos do que os anteriores.
Para começar, não há como saber o que ensinam no lugar. Sasha, assim como outros alunos, são simplesmente jogados de cabeça em uma realidade que se transforma em um pesadelo. Não é somente a visão de que estão próximos ao desconhecido. O que ensinam no lugar é realmente aterrorizante no pior sentido da palavra.
Eles serão sujeitos a darem mais de si do que imaginam, tudo isso totalmente no escuro. Até mesmo os únicos esclarecimentos que terão são como os veteranos parecem quando eles chegam por lá. Vê-se que muitos estudantes antigos possuem estranhezas nada comuns, e o mais esquisito é que não são casos isolados. Aparentemente todos são afetados de algum modo, tendo peculiaridades visíveis, mas simplesmente não há como saber como chegaram a esse estado.
Resta-nos perguntar, assim como Sasha, os alunos chegaram desse modo ou se transformaram após sua estadia na universidade? São muitas perguntas, que aumentam na medida que Sasha entra nos estudos. O mais estranho é como as matérias são ensinadas, nada como nossos costumeiros assuntos, mas é aí que as teorias ficam mais persistentes.
A própria estranheza do livro é fascinante. Não conseguia parar de ler e tentava pegar o livro sempre que tinha um tempo disponível. A leitura em si é perturbadora, porque há uma certa insistência de que quanto mais a protagonista parece estar perto do limite, mais o limite dela é forçado. O ritmo fixo do livro se difere de outras leituras, ele é narrado de forma gradual, onde as revelações acontecem de modo tão sutil para o leitor quanto para a protagonista. Mas há também revelações que quando percebemos parece abalar a realidade.
Os sentimentos de Sasha ao longo da história são apreensivos. E de algum modo me deixaram em pé de igualdade com ela. Porém, o puro terror vivenciado por Sasha a cada nova dificuldade com certeza supera qualquer um que eu tive lendo. A fascinação em ler essa história aumentava a cada nova informação.
Após algum avanço, é possível perceber como para Sasha é ainda mais difícil lidar com todos os assuntos na faculdade e como sua mente lida com isso. Diante dos conteúdos aplicados, um estudante já sofreria imensamente pela pressão adquirida, mas o desafio para Sasha é maior, em uma escala que eu não saberia como explicar.
Para dar uma resumida de uma maneira muito, mas muito compacta, devo dizer que o livro possui uma imensidão de informações. Não há exatamente um assunto para ser discutido ou trabalhado porque não existe tal assunto. A viagem presente nele possui uma dimensão ousada, que podemos ler e entender na medida que a protagonista começa a entender o que estuda, mas não em proporções iguais.
Os assuntos abordados na leitura também são uma espécie de mistura entre metafísica, magia e ciência. A lógica abordada no livro é somente dele, a trama é totalmente original e o modo como tudo é comandado é exclusivamente dele. Não há como discorrer sobre a leitura atribuindo um assunto específico, porque esse assunto não existe.
A única maneira de começar a entender a dimensão da história é acompanhar a trajetória dela e prestar muita atenção. Nada do que eu imaginei se mostrou verdadeiro, e fui sim surpreendida. O sistema complexo de informações faz parte do modo como a história pode ser recebida e agora compreendo como essa forma de transmissão foi necessária. E sabe o que mais? Mesmo entendendo uma boa parte da enxurrada de informações, ainda há muito a ser compreendido.
Houve um momento durante a leitura, em que fechei o livro e pensei como pode essa quantidade de páginas comprometer minha realidade, me fixando ideias absurdas e contradizendo outras? Eu fiquei mesmo abalada pelo conteúdo dessa história. Li o livro pensando ser uma fantasia, mas errei em pensar que seria o tipo de fantasia que estava acostumada a ler. E não, não foi nada como já li.
São inúmeras as coisas que me fizeram gostar muito da história, mas o que me fisga, o que me faz favoritar, é a capacidade de me fazer pensar e repensar sobre ela mesmo estando longe do livro. Vita Nostra me permitiu pensar e ocupou um bom espaço na minha mente por longos dias. Meu conselho é que leia sem tentar comparar com outras leituras, apesar de ter semelhança de gênero com outras obras que você pôde ter contato, não será igual. O estilo de escrita, vida e história podem ser diferentes, mas tenha paciência, a complexidade do livro vale totalmente a pena.
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