spoiler visualizarMonica Monte 06/12/2021
Outro ótimo livro da Karin, mas acredito que seja o mais pesado que já li dela. E olha que as histórias dela não são nenhum passeio no parque.
Nessa história, a Callie e a Leigh, quando adolescentes, trabalharam de babá e as duas, em tempos distintos, foram abusadas sexualmente pelo pai da criança (Buddy). A Leigh foi babá primeiro e conseguiu sair dessa situação. Já a Callie, era mais nova e quando a Leigh saiu, ela assumiu o trabalho, foi estuprada por 2 anos e achava estar apaixonada pelo Buddy. Ela só caiu em si quando percebeu que o Buddy filmava os dois fazendo sexo e vendia as filmagens. Eles discutem e ela esfaqueia o sujeito, que não morre, então chama a Leigh e as duas terminam o serviço.
Nos dias de hoje, a Leigh é uma advogada que trabalha em um grande escritório de advocacia e aceita defender um estuprador. Nesse momento, ela descobre que o novo cliente é o filho do Buddy, que quando criança era chamado pelo segundo nome (Trevor), mas que depois do aparente sumiço do pai é conhecido por Andrew Tenant, pois a mãe (Linda) voltou a usar o nome de solteira. E, apesar de todas as precauções que a Leigh e a Callie tomaram para esconder o assassinato, o Andrew parece saber exatamente o que aconteceu.
A Leigh fica horrorizada com a volta do passado, principalmente por causa da Callie, que além de ter sofrido mais abusos do que ela, teve um acidente grave quando era líder de torcida e ficou viciada, primeiro em remédios para dor e depois em todas as drogas conhecidas.
Gostei tanto da Leigh quanto da Callie, mas são personagens muito trágicas: é muito fácil gostar delas, se compadecer do que aconteceu com elas e torcer pelas duas, mas ao mesmo tempo, angustiante: no caso da Callie, ela realmente não consegue se livrar do vício e ainda sente muitas dores no pescoço, por causa do acidente, então acaba recorrendo às drogas para lidar com a dor. Mas apesar disso, em algumas situações ela consegue ver as coisas com mais clareza que a Leigh, que se culpa por tudo.
Quanto à Leigh, apesar de ter tido mais sorte em deixar o passado para trás, sendo uma advogada de sucesso, com uma filha que ela adora e ter tido um bom casamento, a culpa que ela sente beira o absurdo: ela se culpa de colocar a Callie como babá do Trevor, pelo vício dela em drogas, pelo fato do Andrew (Trevor) saber do assassinato e por todas as coisas do mundo. Em alguns aspectos, ela consegue ser ainda mais trágica que a Callie, pelo tamanho da culpa que carrega.
E é incrível que ela não consegue se enxergar como vítima, porque tinha 13 anos quando sofreu abuso do Buddy. Na maioria das páginas do livro tem a Leigh pensando: é minha culpa. Apenas no fim do livro, o marido/ex-marido fala pra ela: “Leigh. - Ele levantou os olhos para ela, as lágrimas caindo. - Você não entende que também era criança? [...] - Você só tinha treze anos.” (p. 288).
Portanto, quem se interessar em ler vai se deparar com uma ótima história, porém difícil de ser lida, principalmente pela tragédia que é a vida das personagens e o final, apesar de realista, pode chocar pelo excesso de drama.