Carla.Zuqueti 17/10/2022
Cruel
?Ela nunca entrara num tribunal, mas crescera vendo mulheres sendo derrotadas por homens. Vadias loucas. Meninas histéricas. Filhas da puta idiotas. Homens controlavam o sistema. Controlavam a polícia, os tribunais, as agências de condicional, o sistema de saúde pública, os reformatórios e as prisões, as diretorias escolares, as concessionárias, os supermercados, os consultórios de dentistas.?
Callie está na casa dos Waleski, como baba de Trevor e descobre algo terrível. Uma câmera atrás do sofá. Atrás do sofá onde ela se relacionava com o patriarca Buddy. Em um ponto estratégico para filmar toda a ação. E vender as fitas para os amigos. Callie tem 14 anos. E desde os 12 é estuprada por Buddy. Mas ela acredita que ele a ama. E por isso continua.
Quando Buddy vê Callie transtornada com a descoberta, ele tenta matá-la. Mas Callie acaba ferindo-o gravemente. Ela liga pra sua irmã Leigth, de 16 anos. E quando Leigth descobre que sua irmã ferida era abusada por Buddy, ela termina o que Callie começou e da fim a sua vida.
Anos se passam e um fantasma do passado volta para assombra-las: Andrew Tenant - ou Andrew Trevor Tenant, o filho de Buddy, é acusado de estupro violento e deseja que Leigth seja sua advogada. E para pressiona-la a aceitar o cargo, Andrew começa a dar detalhes da noite do assassinato do pai.
Mas ele estava dormindo quando elas o assassinaram. Como Trevor descobriu o assassinato e voltou para ameaçar não só Callie e Leigth mas também Walter, marido de Leigth e a filha do casal Maddy.
Certas que precisam parar Andrew, as irmãs precisam voltar ao passado sombrio para buscar respostas e salvar aqueles que amam.
Como todo livro de Karin Slaughter, ?Falsa Testemunha? é um soco no estômago.
O livro escrito à época do Covid, lida com máscaras, isolamento, violência contra mulheres, abuso infantil, pornografia infantil, pais abusivos e culpa. E se tem algo que pode ser destrutivo para um ser humano é a culpa. Por algo que fez, mas também por algo que deixou de fazer.
É um livro triste, onde crianças sem uma estrutura familiar sólida se veem a mercê de predadores disfarçados de moços bonzinhos.
Traz muitas reflexões, é muito bom, mas deixa você com um nó na boca do estômago e vontade de abraçar uma criança indefesa, como tantas que temos nas ruas do nosso país.