@freitas.fff 17/09/2021
Impacto que reverbera tão longe quanto as Aldeias
Os sentimentos que essa história desencarnou de mim fizeram com que eu quisesse muito escrever imediatamente uma resenha sobre a obra incrível de Frizero, assim como uma carta ao autor, mas precisei de pelo menos uma pausa acentuada pra enxugar o rosto, desavermelhar os olhos e acalmar o passo do coração.
Quando a Dublinense surgiu com a brincadeira-trocadilho-marketinggenial chamada "TEG - Experiências Ilibadas" que teria a curadoria do estagiário da editora, Eduardo (que mal conheço e já considero pakas!), eu aceitei a proposta por pura curiosidade e compulsividade ariana de aquisição. No entanto a surpresa foi grata, num kit singelo porem maravilhoso e com um livro surpreendente! Mandou muito bem, Edu. A Dublinense pode lhe promover a curador a qualquer momento, e pode colocar meu nome no abaixo assinado.
Após saber que o livro (premiado) havia sido lapidado pelo autor durante anos, fiquei ainda mais curioso: como podia um livro com um conto tão breve levar todo esse tempo pra mostrar sua cara? Durante e após lê-lo eu entendi, como o próprio autor imprimiu em suas páginas, toda aquela construção durou "(...) O mesmo tempo que uma verdade leva para sair da escuridão". E foi isso que Frizero colocou na sua narrativa: a verdade, que se sente, enquanto se lê a historia de um filho a cuidar de uma mãe atormentada e adoecida pelos horrores da guerra, ambos refugiados, ambos com o passado deixado para atrás a ancora-los, sem permitir que possam seguir em frente nessa terra nova, tão livre, tão nossa, brasileira.
Os detalhes desconhecidos pelas próprias personagens não fazem falta quando você pode vizualizar e sentir perfeitamente cada cena, cada impacto! O próprio volume da obra mostra (ao)afinal que mesmo ser atropelado por um veículo pequeno, para um pedestre ainda pode ser um enorme "estrago". Robertson Frizero é econômico e preciso em suas palavras. Não consegui lê-lo sem lembrar das narrativas de Valter Hugo Mãe.
Conforme o personagem central busca uma volta ao seu passado, puxando fios, recolhendo cacos e pequenos relatos de sua tia. Na mesma medida ele vai se machucando, cortando-se a cada nova revelação, sendo ainda mais massacrado pelas entrelinhas silenciosas, enquanto remonta a história de sua origem no mundo. Não se sensibilizar lendo esse livro, de repente, seja até motivo de avaliar como anda a sua saúde.
Não só pelos horrores descritos, os fantasmas do passado e todo o sofrimento de um povo fugido do fogo das armas e das sequelas de mãos opressoras, tudo refletido no pesaroso destino de uma mãe (que dia após dia tem a vida diminuída), mas como eu também senti recentemente a mesma angústia da perda do personagem, com os seus particulares estágios pesarosos de dor e superação... O que foi muito íntimo pra mim e me conectou de uma forma que acabei o livro soluçando.
Obrigado, Robertson Frizero! Foi realmente uma honra conhecê-lo assim, de primeira, com esse impacto, com toda a sensibilidade de uma história impecável. Obrigado Dublinense e muito obrigado, Eduardo! Quem puder, leia esse livro, a leitura é tão rápida quanto uma bala, e nos trespassa com a mesma queimação de sua velocidade.