Nise 27/11/2021
Tem um "cheiro marrom-escuro", mas pelo menos é rápido
O livro é curto, e a história passa rápido. Não dá pra negar que a escrita é fluída, e essas características são o que da a vontade de continuar lendo até fim, nem que seja só pra ver no que vai dar, mesmo que sem expectativas.
É o primeiro livro da autora, portanto, passa longe da perfeição. Admito que a história não me encantou, senti muita falta de um desenvolvimento melhor dos personagens, da história, e de um crescimento neles. Muitos acontecimentos não fazem sentido, e temos a detetive mais desatenta que já vi. Tudo acontece de forma muito conveniente, não há verdadeiros obstáculos, além dos que ela mesma cria para si por conta da própria burrice, e isso pra mim já mostra que a personagem não foi bem construída.
Por mais que a história se passe em uma cidade real, algumas coisas que aconteciam, algumas cenas e diálogos me tiravam completamente da imersão, não pareciam reais e naquele momento eu sabia que estava lendo uma ficção. Pra mim, a boa experiência é quando nos afundamos tanto na história que não sabemos mais o que é real ou não, e esse livro fez justamente o contrário. Não existe sigilo médico, policial, as pessoas recebem uma estranha dentro de casa e saem contando tudo que ela pede assim, do nada, ninguém acha estranho.
Se a investigadora não cativa, nem convence, a assassina então, menos ainda. É presa num estereótipo de manipuladora e doente mental, em certos momentos até me pareceu uma espécie de Suzane von Richtoffen forçada, com a diferença de que é Youtuber e comente alguns crimes em Live e a polícia nem cogita rastrear o IP. Ao meu ver a personagem mais realista é a mãe da investigadora, que aparece pouco e sempre pra mostrar como se preocupa com a filha.
Eu acredito que a autora tem potencial, mas precisa tomar cuidado com essas coisas, construir melhor os personagens, suas motivações, pra então ter ações e reações à altura. Não dá pra simplesmente chamar alguém de detetive se a pessoa não tem percepção das coisas, o mínimo de noção de saber que não tem carne num restaurante vegano. Se a intenção era ser um suspense policial, pra mim passou longe e foi uma comédia, ri e fiz várias marcações. Inclusive, ficam aqui três pérolas: "a fresta entre os dentes da frente era a mesma, o que lhe dava um ar de mistério e sensualidade." // "Passou por um pasto de vacas que a olhavam por cima da cerca, julgando-a" // "cheiro marrom-escuro"
Interpretem como quiser.