spoiler visualizarNicoly406 16/09/2023
This scared me
A obra literária contém como principal foco o protagonismo de dois jovens pretos de diferentes visões de mundo e perspectivas, além de que trata de um foco LGBTQIP+. É possível presenciarmos através das palavras da autora a pressão contínua imposta aos protagonistas e sendo este o principal objetivo da autora, é simplesmente admirável a forma como descreve e de certa forma, empatiza público com a sua escrita.
Durante o percurso do livro, confesso que algumas situações e esteriótipos são desconfortantes, quase trazendo a tona o abandono do livro porém, com insistência e a chegada do ponto-chave do livro ou seja, o anônimo "Ases" desperta um desejo grande pela obra.
Chiamaka sendo uma jovem preta vinda de um relacionamento interacial e estudante de uma escola particular para brancos, tem sua vida construída a partir de sua manipulação e influência que a mesma pensa ter em total controle, vê tanto sua vida pessoal, acadêmica e sua sexualidade abalados pelo antagonista da obra (Ases) que traz a tona situações complicadas tanto de sua vida quanto à de Devon. Sendo essas situações, já vividas pelo menos uma vez por pessoas de cor, os dois se juntam para derrubar esse anônimo. Chi passa por diversas situações presenciadas por mulheres pretas e durante o livro é desenvolvida a solidão da mulher preta e a sua hipersexualização, a autora consegue deixar os conceitos bem claros e pesados apresentando-os no livro de forma tão bruta, além que a Chi pode ser considerada uma "patricinha", então teve alguns privilégios na vida diferente da vida de Devon, que sendo um homem gay sofre bullying de colegas desde criança, é de bairro pobre, e está na escola Niveus a partir de uma bolsa escolar. A questão do Devon envolve bastante homens pretos gays e assim como mulheres pretas, não serem a principal escolha entre a comunidade, além que sua situação familiar e a insegurança financeira traz a tona milhares de jovens iguais ao mesmo.
A escola Niveus e seus integrantes, ao desenrolar do livro são apresentados como falsos e pode-se fazer um comparativo ao sistema de privilégio branco hétero que existe em nossa realidade. Ao fazer de tudo para a retirada de dois únicos alunos negros em uma escola de brancos ricos faz paralelo a um mundo onde somente os brancos tem as condições, o foco e o resto do mundo. Deixando os únicos alunos pretos sofrerem por um preconceito e racismo enraizado historicamente e passando de geração em geração, é assustador e em determinado momento pela perseguição frequente podemos sentir como no filme "Corra" e tanto o suspense quanto a dúvida se os protagonistas vão conseguir é diariamente visto e presenciado por pessoas reais iguais aos protagonistas.
Esse livro foi uma experiência incrível, consegui me assustar com os plots muito bem feitos e quase impossíveis de se acreditar. Amei a forma como podemos fazer paralelo com a vida real e o protagonismo negro necessário traz desconforto a quem não tem noção de seu privilégio. O final do final foi simplesmente lindo e bem arquitetado, a autora trouxe uma solução para a problemática geral do livro, uma pena que de pequeno porte mas uma esperança ascende a partir desse desfecho.