Dri 22/12/2022
Crítica social e sobrevivência
Um professor negro e falido é raptado e entra em uma sequência de acontecimentos perturbadores depois que é obrigado a lutar em um ringue pela sua sobrevivência.
Porco de raça é curto, mas em poucas páginas o autor coloca cenas brutais e repletas de críticas sociais relacionadas ao racismo, espetacularização do sofrimento, principalmente de pessoas marginalizadas e consideradas párias da sociedade.
Um terror social com toques distópicos e que usa cenas absurdas pra falar de temas reais. É uma história complexa da qual dá pra tirar muitas interpretações, gostei disso. Infelizmente a escrita não faz muito meu estilo, por ser super mecânica, cheia de descrições de movimentações físicas e pouco aprofundamento emocional.
Eu sinto falta de mais desenvolvimento em alguns aspectos e uma melhor distribuição de acontecimentos. O livro tem uma mensagem fortíssima e algumas cenas impactantes, mas tudo foi um pouco corrido e às vezes repetitivo.
Ele é dividido em partes e tem uma parte que é toda focada em lembranças e só na próxima parte a história é retomada. Isso quebrou o ritmo pra mim. O protagonista é complexo e muito difícil de gostar, eu sei que foi uma escolha inteligente pra fugir do tipo herói em um universo violento, mas não consegui gostar dele.
Por isso, Porco de raça acabou sendo um pouco mediano e morno. Gosto de alguns elementos como os raptados usarem máscaras de animais pra lutar, a montanha-russa macabra e triste que o personagem entra e não parece sair nunca mais, o reality show com o comércio em cima da dor dos outros e as metáforas e alegorias pra falar de grupos dos "perdedores".
Mas também tiveram vários elementos que não me agradaram, inclusive a história ser toda num tom absurdo, sem muita explicação, mas o final trazer um monte de informação de uma vez.
É um livro que incomoda, é desconfortável, por isso, só recomendo pra quem consegue ler cenas bem violentas e tristes e gosta de histórias questionadoras. Eu curto esse estilo, mas não foi um livro que eu amei. Pra mim, temas importantes são incríveis, mas quando se trata de ficção, a história em si precisa ser cativante e, pra mim, essa não foi.
"Não consigo me reconhecer mais e não sei se isso é bom ou ruim. Nome, rosto, físico: uma massa abstrata e vertiginosa, um nó sem ponta, um universo sem corpo. A única lógica possível é o ringue, a luta. Eu retornei à essência primária do bicho homem e me tornei um embrião suíno. O primitivo que unicamente vive para sobreviver. Vim para o mundo buscando um sentido nas coisas, mas percebo que sou apenas uma coisa em meio a outras coisas. Não há sentido, nunca houve, e agora só busco respirar sob os holofotes do abismo."