Tuca 21/04/2022“Você precisa ver como somos políticas! Oh, eu digo a você, papai, quando nós, mulheres, obtivermos nossos direitos, vocês homens, terão de lutar para manter os seus. (pg. 67)”Engraçadas, românticas, sonhadoras, de partir o coração ... assim são as cartas de Judy ao seu benfeitor desconhecido. Tendo crescido no Lar John Grier, Judy não conhecia o que estava muito além das paredes daquele orfanato. Já próximo aos seus dezoito anos, ela recebe uma oportunidade ímpar! Um dos doadores da instituição deseja patrocinar seus estudos para que ela se torne escritora, mas Judy nunca poderia saber sua identidade. A única coisa que ela sabia sobre ele era que ele tinha pernas longas, e assim resolveu apelidá-lo de papai Pernalonga. Em troca ela tinha a obrigação de escrever cartas contando seu progresso, e disso ela fez um trabalho muito sério. Judy não contava só sobre seus estudos, mas também sobre suas novas amizades, seus pensamentos, seus objetivos, seus planos. Na ausência de uma família, Judy tornou o destinatário de suas correspondências um substituto dela.
Jean Webster não é uma autora muito conhecida aqui no Brasil. Porém, seu trabalho fez bastante sucesso nos Estados Unidos à época da publicação. Escrito em formato epistolar, as aventuras de Judy mostram o desabrochar de uma menina que está vendo o mundo pela primeira vez. Ela cria amizades femininas, algo que dentro do ambiente do orfanato já não era mais possível por sua idade (ela já era mais velha) e começa a se encantar por dois rapazes: Mestre Jervis Pendleton e Jimmy McBride. Jean foi uma escritora envolvida com causas sociais e com a política, e defendia os direitos das mulheres, o que fica bem claro em “Sempre sua, Judy”.
Judy é uma mocinha independente e de ideias próprias, que lembra muito Anne (da série Anne de Green Gables) em “Anne da ilha” e Polly de “Uma moça à moda antiga”, além de Jo de “Mulherzinhas”. Em suas cartas, ela mistura a inocência de uma jovem com uma maturidade de quem já passou por provações que muitos adultos nem sonhariam viver. Sua visão de mundo era bem peculiar à sua jornada, e ela diverte o leitor ao mesmo tempo que toca com suas dores por tudo o que ela não tinha, mas conquistou.
Esse é um romance do início do século XX que mostra a importância de se dar OPORTUNIDADE às pessoas. Judy era uma menina extremamente inteligente. Sem a oferta do seu benfeitor ela nunca teria chegado à universidade, ela nem pensava que esse era um lugar possível para ela. E por tanto saber que essa era uma chance única, Judy a agarrou com unhas e dentes e tirou o melhor proveito dela, vivendo profundamente a universidade e as relações que ela lhe proporcionava. Ela mesma reconhecia que sua educação básica não havia sido das melhores, e em vários assuntos ela estava atrás de seus colegas de turma, tendo que se esforçar muito para alcançar o mesmo patamar dos alunos de famílias abastadas que tiveram ao longo da vida a melhor educação que o dinheiro poderia prover. É muito gostoso acompanhar suas descobertas, e para quem curte romances infanto-juvenis, essa é uma história para se apaixonar.
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