Cássio Cipriano 22/12/2022Uma história fofa e romântica, que explora toda a magia do Natal.É uma história fofa e bem escrita, ainda mais sabendo que é de dois autores. Deve ser bem desafiador escrever assim. Adorei os nomes dos personagens: Eros, Vênus, o cachorrinho Ginga. Achei interessante todas as vezes em que o Órion se referiu ao brilho de uma estrela olhando pro Eros, no que eu entendi como uma metáfora pra identidade e autoaceitação. A história tem muitas frases de efeito, que leitores podem fazer quotes, e algumas alegorias, por exemplo, o Eros para a razão e Órion para a emoção. As preocupações do Eros, pra mim, a todo momento soaram como metáforas pra angústias da vida, em específico a angústia dele por estar no armário e não sentir que pode se abrir com a família, enquanto a calma e a magia do Órion representava os pequenos prazeres da vida, as coisas simples que a gente deixa de observar e sentir quando dá mais ouvidos às preocupações, às angústias do cotidiano.
Algumas coisas me incomodaram um pouco, por exemplo, a trama girar na maior parte do tempo em torno de diálogos do Eron e o Órion andando no trenó, indo na biblioteca, na praça, no planetário. Por mais que tivesse o fator magia envolvido ali, para deixar a história com a atmosfera de fantasia, ficou um pouco cansativo de ler por não explorar outras situações, possibilidades e personagens, mas eu ficava me perguntando: "Onde esse rolê e essas conversas vão levar?"
Eu teria gostado mais da história se o Órion fosse simplesmente um ser mágico que apareceu pro Eros com a missão de ajudá-lo com a questão da identidade e a saída do armário. Pra mim, foi desconfortável ouvir um "eu te amo" trocado entre um garoto e um ser mágico que ele conheceu naquela noite e passeou por algumas horas de trenó. Eu não torço o nariz pra histórias sobre paixões à primeira vista ou envolvimentos que se dão de forma tão rápida, mas acho que a história precisa transmitir a intensidade desse envolvimento entre os personagens, e essa não transmitiu pra mim, a ponto de eu achar que foi meio forçado um "eu te amo, quero você pra vida inteira, bla bla bla" no final. Claramente, havia uma conexão mágica e poderosa entre o Eros e o Órion, mas, pra mim, teria sido mais interessante se essa conexão fosse apenas pro Órion ter um papel de guia espiritual, padrinho mágico ou algo do tipo na vida do Eros.
A saída do armário do Eros na noite de Natal, para toda a família, é um tópico que eu acho delicado porque há toda uma pressão social em cima das pessoas LGBTQIAP+ para se assumirem (e a gente sabe que isso é privilégio de quem tem passibilidade, porque pra alguns, não existe essa opção de se assumir ou não), e é extremamente angustiante e doloroso, especialmente dependendo do contexto familiar em que a pessoa está inserida, e eu achei válido os autores retratarem esse sentimento de angústia do Eros por estar no armário e toda a questão familiar nos primeiros capítulos, mas começou a me incomodar quando eu senti que todos os acontecimentos da história estavam se desenrolando para encorajar o personagem a sair do armário na noite de Natal. Pra mim, dificilmente uma pessoa escolhe transformar a sua saída do armário num evento, a não ser quando sente que não tem saída, quando se sente encurralado, colocado contra a parede ou algo do tipo. Não soa crível pra mim um adolescente que está em conflito, que parece ser introvertido e têm dificuldades de falar sobre isso com a família, decidir sair do armário dessa maneira, e eu não acho legal quando saídas do armário são romantizadas assim.
Por fim, foi uma história que achei fofinha, que funciona bem para quem quer ler algo levinho no Natal, mas não me causou muitas sensações e eu não consegui me conectar com a narrativa de forma mais pessoal, e eu gosto de histórias que, para além de serem bem escritas, mexem com os meus sentimentos de alguma forma e apresentam elementos com os quais eu consiga me conectar como pessoa. Não é uma história ruim. Longe disso! É uma boa história, que só não funcionou pra mim.
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