Reccanello 28/01/2022Ignorado pelo estado, ele tomou a justiça em suas mãosDepois de sofrer uma tremenda injustiça nas mãos de um arrogante aristocrata local - seus cavalos são ilegalmente apreendidos e, quando devolvidos, estão imprestáveis - Michael Kohlhaas procura reparação através dos meandros da justiça imperial; frustrado pelo nepotismo e pela arbitrariedade dos poderosos, que levaram à morte violenta de sua amada esposa, resolve fazer justiça pelas próprias mãos, torna-se um temido bandoleiro e espalha terror e destruição pelas cidades da Saxônia.
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Baseado na história real de Hans Kohlhase, Heinrich von Kleist nos traz os - atualíssimos! - temas da Justiça, do direito de obtê-la e do direito de resistir à corrupção, o que torna a leitura surpreendentemente contemporânea, ainda que o livro tenha sido publicado pela primeira vez em 1810. Impossível não perceber na obra seu caráter dual, que nos coloca, de um lado, a liberdade individual e, do outro, a opressão do estado (que, à época, lutava para se estabelecer como detentor do monopólio da aplicação da violência e da justiça, não se permitindo aceitar atitudes individuais de vingança, ainda que justas); de um lado, a (questionável) missão social de um Estado nascituro e, do outro, o (corriqueiro e, ao que parece, inexorável) abuso de poder perpetrado por seus representantes. Ao valorizar a subjetividade, as situações grotescas e as discussões filosóficas, a obra antecipou movimentos literários como expressionismo e existencialismo, além de influenciar a escrita de escritores da estirpe de Franz Kafka e trazer para as páginas da literatura o sujeito inquieto e desfragmentado da modernidade.
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Curiosidade interessante é que o livro já teve uma adaptação cinematográfica homônima em 2013, com Mads Mikkelsen interpretando o personagem principal. Além de ganhar o prêmio Golden Iris no Festival de Cinema de Bruxelas, o filme recebeu seis indicações no 39th César Awards, vencendo em duas categorias.
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